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8ª PARTE
16 - TABAGISMO: fenômeno social universal
A difusão mundial do TABAGISMO, notadamente neste século (XX), constitui uma das mais sérias pandemias criadas pelo próprio homem. Neste capítulo tentaremos, em rápido apanhado, descrever o modo da propagação do TABAGISMO, os principais fatores contribuintes para a sua disseminação e a dimensão do problema no mundo.
16.1 - Resumo histórico
Colombo, em Cuba, viu índios FUMANDO rolos feitos de folhas. A planta era denominada "CAOBA", e "TABACO" era o nome do canudo empregado para aspirar as folhas picadas. Logo depois, viajantes europeus divulgaram mais notícias sobre essa planta e de como os indígenas das Antilhas, Flórida, Virgínia, México e Brasil costumavam FUMÁ-LA em forma de rolo de folhas, precursor do CHARUTO, ou com canudos retos ou curvos, avós do CACHIMBO. Ficou-se sabendo também que os aborígenes usavam MASCAR o TABACO e não raro o ASPIRAVAM sob a forma de PÓ. Esses hábitos foram adquiridos pelos colonizadores e progressivamente introduzidos no velho continente.
O TABACO teve maior repercussão na Europa quando JEAN NICOT (a), arquivista do rei da França, em missão diplomática em Portugal, remeteu em 1560 (século XVI), sementes e a planta, como sendo uma erva usada pelos índios na América com "maravilhosos poderes curativos", pois lhe havia cicatrizado uma úlcera até então incurável.
A planta foi denominada "NICOTIANA" em homenagem a NICOT. A espécie primitiva, Nicotiana rustica, não era muito agradável de FUMAR e ainda hoje é cultivada na URSS e em algumas regiões da Ásia. Logo foi substituída pela Nicotiana tabacum, de aroma delicado, também nativa em várias áreas da América, inclusive no Brasil.
As virtudes terapêuticas do TABACO foram aceitas praticamente sem restrições, e durante anos ele foi usado no tratamento de variados males, havendo-se inventariado 59 doenças que podiam ser curadas; além disso, servia de dentifrício e para espantar epidemias. Na Grande Peste de 1664/1666 (b) (século XVII), ainda se preconizou o uso do CACHIMBO para afastar a praga.
Verificada, com o tempo, a inexistência dos propalados efeitos terapêuticos do TABACO, o hábito de FUMAR, que vinha se implantando paralelamente, difundiu-se pela Europa e atingiu a Ásia e a África. A Nicotiana tabacum, cultivada em escala modesta em alguns países europeus, disseminou-se nos outros continentes, cujas plantações, pela sua qualidade, sobretudo do Egito e do Oriente Próximo, passaram a rivalizar com as das Antilhas e as da Virgínia, na América do Norte.
Por volta de 1586 (século XVI) Sir FRANCIS DRAKE (c), tendo aprendido a FUMAR com os índios peles-vermelhas da Virgínia, inaugurou esse hábito na Inglaterra. JAIME I (d), possuído de verdadeira TABACOFOBIA, caracterizou profeticamente o hábito de FUMAR como "desagradável à vista, odioso ao nariz, nocivo ao cérebro, perigoso aos pulmões, cujo FUMO negro e fétido muito se parece com a horrível FUMAÇA infernal do poço sem fundo"...
Todavia, o comércio do TABACO tornou-se altamente lucrativo, criando-se entre o final do século XVI e a primeira metade do século seguinte (século XVII) companhias que se tornaram verdadeiras potências, como a Virgínia Company da Inglaterra (e). Os governos passaram a auferir vultosas rendas pela taxação do TABACO, conseguindo arrecadações de tal monta, que opositores como JAIME I e FELIPE III (f), da Espanha, acabaram por suspender as medidas restritivas antes promulgadas. Monopólios foram instituídos em vários países, como o Fermiers-Géneraux, criado em 1629 (século XVII) na França, com poderes autocráticos e despóticos. O contrabando foi incentivado, as adulterações se multiplicaram e na conquista dos mercados travaram-se lutas comerciais nas quais, desde o início, se empenharam ingleses, espanhóis, portugueses e a seguir holandeses. (1).
A luta contra a debilitante POLIOMIELITE (paralisia infantil) continua, e, a luta a favor da inofensiva AUTO-HEMOTERAPIA (AHT), também continua.
Se Deus nos permitir voltaremos outro dia. Boa leitura e bom dia.
Aracaju, 18 de novembro de 2014.
Jorge Martins Cardoso – Médico – CREMESE -573.
Fontes: (1) - Livro - TABAGISMO - Sério Problema de Saúde Pública - páginas 225 e 226. (2) - (a), (b), (c), (d), (e) e (f) - Dra. Internet, Dr. Google e Dra. Wikipédia. (a) – Jean Nicot ou João de Nicote (1530-1600). Nascido em Nimes, no sul da França, ele foi embaixador em Lisboa, Portugal, de 1559 a 1561. Em 1560, introduziu o tabaco para ser colocado no nariz para a corte francesa. A palavra nicotina é derivada de Nicot. (b) - Conhecida como a Grande Praga, epidemia de peste bubônica ocorrida no Reino da Inglaterra, causada pela bactéria Yersinia pestis. c) – Sir Francis Drake (1540-1596). Foi um capitão inglês, vice-almirante do reino-unido, corsário, navegador, um pirata famoso e um político da era elisabetana. A rainha Isabel I da Inglaterra condecorou Drake como cavaleiro em 1581. (d) – Jaime I (1566-1625) - Foi Rei da Escócia como Jaime VI e Rei da Inglaterra e Irlanda, pela União das Coroas, com Jaime I. Escreveu um tratado contra o TABAGISMO. (e) - Virgínia Company da Inglaterra - Empresa privilegiada, garantida pelo inglês Jaime I, em 10 de abril de 1606. (f) – Felipe III (1578-1621) – Foi rei da Espanha e rei de Portugal.
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9ª parte
No albor do século XVII, o hábito de FUMAR estava apreciavelmente difundido na Europa. Tendo perdido a auréola de panaceia, passou o TABACO a ser considerado como atentatório às boas maneiras ou como obra do demônio. Muito combatido, permaneceu por tempos confinado aos soldados, marinheiros e homens rústicos. Não obstante, o hábito de FUMAR acabou se introduzindo na nobreza e na burguesia. Na Inglaterra, Sir WALTER RALEIGH (a), sem aprovação da Rainha ELIZABETH (b), cultivou o TABACO, consagrou o CACHIMBO e, dada sua grande influência, generalizou a moda de FUMAR, que teve logo inúmeros imitadores entre os cortesãos da rainha e os comerciantes abastados. Surgiram até professores que ensinavam a "arte de TRAGAR". Outra voz que inutilmente se levantou na época contra o TABACO foi a de ROBERT BURTON (c), que em 1621 (século XVII), em sua Anatomia da Melancolia, clamava que o hábito de FUMAR era "um flagelo, uma desgraça, uma violenta alienação dos bens da terra e da saúde: infernal, diabólico e maldito TABACO, a ruína e o aniquilamento do corpo e da alma". Na Espanha e na Itália o TABAGISMO chegou a conquistar tantos aficionados que levou o Papa URBANO VIII (d), em 1624 (século XVII), a promulgar uma série de interdições e até excomunhão aos que FUMASSEM ou usassem RAPÉ durante a missa.
O século XVII foi a "idade ouro" do CACHIMBO, então levado a todos os quadrantes, até a China e aos esquimós. Nos países orientais e no norte da África, onde o CACHIMBO era conhecido de longa data COM FINS MEDICINAIS, este passou a ser aproveitado para o TABACO, como ocorreu com o NARGUILÉ. Na Europa, CACHIMBAVA-SE em todas as camadas sociais. Os CACHIMBOS eram inicialmente de barro, argila ou pedra. Em 1619 (século XVII) surge na Inglaterra a primeira indústria de CACHIMBOS de cerâmica. Depois empregou-se a louça e a porcelana; houve os de cobre e bronze; na Áustria e Hungria apareceram os de espuma; os de roseira só surgiram em 1850 (século XIX), quando se descobriram as qualidades da raiz nativa do sul da França, Alpes da Itália e Córsega; nos Estados Unidos tiveram muita voga os de espiga de milho. Os estilos eram múltiplos, e os CACHIMBOS tornaram-se altamente requintados, esculpidos, decorados, adornados e incrustados; esses espécimes deliciam hoje os colecionadores e frequentadores de museus.
Antes do final do século XVII, o FUMAR havia-se constituído em rotina diária e no toque de distinção dos novos hábitos sociais adquiridos pelo homem; era ainda uma afirmação de virilidade. No início do século XVIII o consumo do TABACO expandiu-se a tal ponto, que se erigiu num dos maiores valores do comércio internacional.
A moda de ASPIRAR RAPÉ (TABACO em PÓ) espalhou-se no início do século XVIII. Atribuíram-se ao RAPÉ QUALIDADES MEDICINAIS, pois o espirro por ele provocado eliminava os "humores supérfluos", "revigorava o cérebro" e "clareava a mente", além de curar bronquites e outros males respiratórios. CATARINA de MÉDICIS (e) servia-se do RAPÉ para as suas enxaquecas. Quando LUÍS XIII (f) subiu ao trono, boa parte da aristocracia francesa ASPIRAVA RAPÉ, e o hábito se expandiu apesar de sua desaprovação e a de LUÍS XIV (g). A mania imperou durante cerca de duzentos anos. Muitos ASPIRAVAM o RAPÉ depositando uma pitada na fosseta formada no dorso da mão, na base do polegar, estendendo a primeira falange e flexionando a segunda, por isso denominada pelos anatomistas de "TABAQUEIRA anatômica". Carregava-se o RAPÉ em TABAQUEIRAS pelas quais se avaliava o grau de nobreza, as posses, o gosto artístico e estético do seu possuidor. Na França, Inglaterra e Itália desenvolveu-se a indústria de TABAQUEIRAS. Fabricavam-se as baratas, de madeira ou de chifres, assim como as refinadas; estas, confeccionadas com materiais caros, sobretudo prata ou ouro, lavradas com miniaturas, decoradas com pedras preciosas ou semipreciosas, verdadeiras obras da mais requintada arte e ourivesaria, nas quais se ocupavam artistas e artesãos, muitos renomados. Todos os museus ostentam hoje TABAQUEIRAS que pertenceram a homens célebres.
O século XVII assistiu também ao renascimento do primitivo modo dos indígenas de MASCAR o TABACO. Os marinheiros o MASCAVAM desde as proibições de FUMAR a bordo, para prevenir incêndios; trouxeram o hábito para as cidades portuárias, disseminando-se extraordinariamente pela Inglaterra, Países Baixos e Alemanha. A Rainha CAROLINA (h), da Inglaterra, MASCAVA o TABACO pelas suas "QUALIDADES DENTIFRÍCIAS" (i) e o recomendava às damas da corte. Todos MASCAVAM TABACO e cuspiam continuamente. Então floresceram as ESCARRADEIRAS nos salões, clubes e edifícios públicos. Os dandies (j) ingleses chegaram ao refinamento de usar ESCARRADEIRAS portáteis de prata... Nos Estados Unidos a mania se converteu em verdadeira epidemia e só regrediu depois da Guerra de Secessão (k). Membros do Congresso, juízes da Suprema Corte, todos tinham suas ESCARRADEIRAS individuais; havia ESCARRADEIRAS coletivas espalhadas por toda a parte, inclusive nos hospitais, com a advertência aos MASCADORES de não cuspirem em torno delas. (1).
A luta contra a debilitante POLIOMIELITE (paralisia infantil) continua, e, a luta a favor da inofensiva AUTO-HEMOTERAPIA (AHT), também continua.
Se Deus nos permitir voltaremos outro dia. Boa leitura e bom dia.
Aracaju, 23 de novembro de 2014.
Jorge Martins Cardoso - Médico - CREMESE - 573.
Fontes: (1) - Livro - TABAGISMO - Sério Problema de Saúde Pública - páginas 226, 227 e 228. (2) - (a), (b), (c), (d), (e), (f), (g), (h), (i), (j) e (k) - Dra. Internet, Dr. Google e Dra. Wikipédia. (a) - Sir Walter Raleigh (1562-1618), foi um explorador, espião, escritor e poeta britânico. (b) - Rainha Elizabeth (1558-1603) - Rainha Isabel I, da Inglaterra. (c) Robert Burton (1577-1640) - Foi um acadêmico inglês e vigário da Oxford University, muito conhecido pela obra "The Anatomy of Melancholy", produzida em 1631, pioneira no estudo das doenças mentais. (d) Papa Urbano VIII (1568-1644) - 235º Papa. (e) Catarina de Médicis (1519-1589) - Rainha Consorte da França. (f) Luís XIII (1601-1643) - Rei da França e Navarra, conhecido como Luís, O Justo. (g) Luís XIV (1638-1715) - Rei da França e Navarra, conhecido como Luís, O Grande ou Rei Sol. É famosa sua expressão "L'état c'est moi" = "O Estado Sou Eu". (h) Rainha Carolina (1683-1737) - Rainha Consorte da Grã-Bretanha e Irlanda. (i) Dentifrício - Creme dental usado para higiene bucal, quase sempre em conjunto com uma escova. No passado, o tabaco foi muito usado para a higiene bucal. Ainda hoje, na Índia, produtos de tabaco são populares como dentifrício em diferentes partes, e as crianças também usam esses dentifrícios. (j) dandies - São homens que dão particular importância sobre a aparência física e usam linguagem refinada (galantes). (k) Guerra de Secessão - Guerra Civil Americana de 1861 à 1865 nos EUA.