Transtorno Afetivo Bipolar
"Eu sou o dono do mundo ... sou um mendigo.
Amo a vida ... quero morrer.
Não sou feliz nem triste... sou bipolar". Luiza Gosuen
Transtorno Bipolar, anteriormente chamado de Psicose Maníaco-Depressiva , porém por não presentar sintomas psicóticos e nem estigmas tão fortes como os diagnosticados na loucura é que o nome foi mudado. Atualmente, Transtorno Afetivo Bipolar.
Como o nome sugere, são bipolaridades, alternâncias no estado de humor com comportamentos caracterizados ora por momentos de euforia ora por momentos de depressão aguda, o que afeta toda maneira de agir do portador. Diferencia-se do mal-humor que por vezes acomete a vida cotidiana causando aborrecimentos, que são atitudes normais frente a acontecimentos de stress, atendimentos profissionais desmotivados, filas demoradas, trânsito congestionado, uso de medicamentos para dietas, etc. O que difere é a forma que o indivíduo reage frente a essas situações, passando do descontentamento normal para situações de desequilíbrio patológico, emocional e até físico.
O Transtorno Bipolar por ser um tipo de Depressão, porém com características mais intensas e exageradas, em alguns casos o portador pode passar o dia inteiro desmotivado, querendo apenas ficar deitado sem interesse nem para se alimentar e não realiza nada.
Já num outro momento, se mostra cheio de energia, conversa sobre diversos assuntos dominando a situação , se achando o máximo e com auto-estima elevada. Apresenta muita agilidade, com movimentação excessiva, mas também não realiza nada pois não se concentra o suficiente para concluir uma atividade. Esta fase agitada chamamos de "fase de mania" ,onde pode apresentar comportamentos radicais como de consumista ao extremo ou compulsivo com atitudes irresponsáveis e impensadas como por exemplo, de recolher todos os animais de rua para si.
A depressão pode se manifestar com intensidades diferentes:
Leve, Moderada ou Grave.
Na fase Leve - Hipomania - a fase inicial, quando a doença se apresenta com sintomas leves, o portador ainda consegue desenvolver seu trabalho e até passa desapercebido pelos familiares.
Fique atento ao que acontece com seu humor ou de um familiar. A depressão pode causar uma desmotivação, uma desesperança que nada na sua vida vale a pena e ficar na cama parece ser o melhor, perde a vontade de ir para o trabalho e tudo vai piorando com o tempo. Aparecem as crises de choro, irritabilidades, sem vontade de falar com as pessoas e se torna um "zumbi" onde apenas o corpo está presente.
A Depressão e o Transtorno Bipolar devem ser levados a sério. Não é encenação do portador e deve-se procurar atendimento psiquiátrico e psicológico com urgência. Segundo a OMS, Organização Mundia da Saúde, a depressão está em quarto lugar na incapacitação para o trabalho.
*No TP I, Transtorno Bipolar Tipo 1, são os casos clássicos da doença , onde temos a presença de comportamentos depressivos por um tempo mais prolongado, podendo chegar a um ano mais do que o tempo de manias (euforias) que se manifestam por alguns meses.
Os sintomas são intensos e provocam mudanças de comportamento que afetam bruscamente tanto a vida do portador quanto das pessoas que fazem parte de seu convívio diário, comprometendo o desempenho profissional, afetivo e social.
* No TP II, Transtorno Bipolar Tipo 2, são casos mais brandos onde temos a presença de depressão, porém alterna-se com um número bem maior de casos de humor e as manias são mais leves (Hipomania). Esse é o quadro mais comum , geralmente acomete mais as mulheres. Temos uma estimativa de cerca de 15 milhões de brasileiros, ou seja 8 em cada 100 indivíduos apresentam a doença, atingindo homens e mulheres com pelo menos um portador na família.
* No Transtorno Bipolar Misto, são alternâncias de humor que sugerem bipolaridade, porém por não terem intensidade tanto na frequência quanto na duração dos sintomas, podendo atingir por um período apenas de 2 a 3 dias, não classifica-se como Tipo I ou Tipo II.
* No Transtorno Ciclotímico, são alternância leves no humor onde o paciente alterna hipomania com depressão leve o que sugere ser característica própria do temperamento instável do paciente, que pode estar de um jeito pela manhã e à tarde já muda completamente. Ou ainda, mesmo estando agitado manifesta sentimentos de desvalorização e desmotivação . Os mais próximos os classificam como "temperamentais". Alguns profissionais consideram como sendo um traço de personalidade do paciente que tem alguma alternância no humor.
Não temos uma causa precisa para o Transtorno Bipolar. O certo é que são fatores biológicos, psico-sociais e genéticos que desencadeiam os sintomas, que podem começar com irritabilidades intensas na infância e adolescência , com muitos casos de alternância no humor em mulheres por volta dos 40 anos de idade, porém raramente temos casos que se iniciam após os 50 anos de idade.
Características que podemos encontrar nessa fase de euforia:
-Muita agitação, alegria exagerada
-Extrema impaciência, irritabilidade com pequenas coisas.
-Muita energia, começando várias coisas ao mesmo tempo.
-Julgamento inapropriado de suas capacidades, ideias mirabolantes, achando que pode tudo.
-Pensamento rápido, fala sem parar.
-Incapacidade de se concentrar, se distraí com tudo.
-Comportamento inadequado, provocador e agressivo
-Aumento no impulso sexual, desinibição social e de risco.
-Insônia e consumo de drogas.
* Para que sejam considerados sintomas, para se formar um possível diagnóstico é preciso que pelo menos de 3 a 4 dos itens acima estejam presentes e se manifestem por no mínimo uma semana.
Essa fase de euforia algumas vezes, pode aparecer bem depois da depressão, o que pode confundir o portador achando que está melhorando e até deixa de dar continuidade ao tratamento o que piora, pois não é uma remissão da depressão, ou seja diminuindo as melancolias e voltando a ter bom humor e sim, uma exaltação de euforia descontrolada e doentia.
Na fase Moderada, fase da depressão, é preciso ficar atento para as mudanças no comportamento, que podem ser:
-Perda de interesse por atividades antes motivadoras
-Perda ou aumento de apetite
-Melancolia súbita com sentimento de vazio
-Crise de choro e tristeza
-Fadiga e falta de vontade e de energia
-Excesso de sono ou insônia
-Sentimentos de culpa e pessimismo
-Incapacidade para tomar decisão
-Corpo pesado e dolorido
-Inquietação ou irritabilidade
-Sentimentos de inutilidade, pensamentos de morte.
Esses sintomas apresentados de maneira isolada e por um ou dois dias não significam Depressão, podem ser sintomas normais que acontecem com todas as pessoas mediante descontentamentos justificáveis e às vezes, até nem ter motivos.
Para que sejam considerados preocupantes é preciso verificar se os sintomas, pelo menos 4 deles, estão presentes por um período de no mínimo 2 semanas e de forma constante.
Na fase grave da doença é possível haver sintomas de alucinação, delírio, pensamentos negativos e de morte.
O suicídio é a causa mais frequente entre os portadores de Transtorno Bipolar, principalmente entre adolescentes.
Diagnóstico e tratamento.
O diagnóstico da doença bipolar do humor é feito com base em observações por um tempo mínimo de duas semanas, e deve ser feito por um médico psiquiatria baseado no histórico familiar e nos sintomas do paciente, caso seja preciso entrar com acompanhamento medicamentoso. Não há exames de imagem ou laboratoriais que auxiliem o diagnóstico.
O Transtorno Bipolar não tem cura, mas pode ser controlado com medicamentos. A psicoterapia e mudança na qualidade de vida com alimentação saudável, sono regular e eliminar cafeína, álcool, anfetaminas e todo tipo de drogas, serão importantes no tratamento.
No tratamento medicamentoso a medicação mais utilizada é o lítio e até o uso de anticonvulsivantes, se for preciso. O tratamento deve ser permanente para que não se tenha recaídas.
A psicoterapia é recomendada como tratamento coadjuvante e ajudará no trabalho cognitivo, organizando pensamentos disfuncionais tanto da depressão como da euforia bem como, na conscientização do uso dos medicamentos como importantes para o controle dos sintomas.
A abordagens nas sessões de psicoterapia é feita de maneira clara, sem rodeios levando em conta a possibilidade do entendimento do paciente. Irá atuar tanto no modo de pensar como no comportamento apresentado pelo paciente e poderá estender o tratamento também a familiares.
Em momentos de crise, os familiares ou cuidadores, devem levá-lo a uma unidade de pronto atendimento psiquiátrico, principalmente se tiver alucinações e pensamentos suicida.
O transtorno bipolar em crianças vem aumentando muito. É preciso orientar a família que deverá participar da psicoterapia.