Mal do século 21

A Organização Mundial da Saúde (OMS) está estudando os efeitos nocivos das radiações emitidas pelos aparelhos de telecomunicações no corpo humano, com resultados conhecidos para daqui a dois anos. Existem fortes indícios de que estamos sujeitos a contrair as mais diferentes enfermidades provenientes da utilização excessiva dos produtos tecnológicos. Incluem-se nessa lista as lesões por esforço repetitivo (LER), com o afastamento temporário do trabalho e em alguns casos até mesmo a aposentadoria precoce por total incapacitação psicológica para o exercício das atividades profissionais, provocada pelo uso inadequado do computador. O avanço da tecnologia proporcionou o surgimento de uma infinidade de dispositivos eletrônicos, que de alguma forma provocam fadiga nos sentidos (principalmente na audição e na visão), quando manuseados continuamente e sem critérios. Os especialistas da área de medicina comportamental apontam ainda uma dependência insustentável pelos equipamentos de telefonia móvel (aparelhos celulares, smartphones, tablets) e sua relação com a conexão indiscriminada e contínua à rede mundial de computadores. Há casos relatados de permanência ininterrupta por dias na Internet, transformando radicalmente a vida de jovens saudáveis, que desconhecendo completamente a imposição de limites acabam expondo inadvertidamente sua saúde, deixando com isso de interagir positivamente com o mundo real.

O mal do século 21 já tem denominação. A nomofobia (abreviação do inglês “no-mobile” - sem telefonia móvel) atinge uma parcela significativa da população, tendo como sintoma principal o desconforto causado pela impossibilidade (mesmo que momentânea) de se comunicar através do aparelho celular. O estímulo exagerado que a chamada sociedade da informação impõe aos indivíduos para que estejam sempre disponíveis ou cientes dos mais variados assuntos (sejam eles relevantes ou não) fortalece cada vez mais o conceito da dimensão digital. É uma indução dissimulada pela manutenção de um status discutível, no momento em que tende a condicionar e alienar seus usuários permanentemente. Considera-se situação de patologia os casos em que a ausência do aparelho celular venha a trazer prejuízos relevantes à vida da pessoa, podendo causar sensação de pânico e impotência diante das adversidades e até mesmo atrapalhar relacionamentos.

Esse comportamento individualista é observado nas ruas, onde pessoas de todas as faixas etárias costumam dedicar sua atenção ao aparelho celular. A mania de manusear freneticamente o visor colorido se tornou uma febre contagiosa, de difícil controle. Como o cérebro não consegue processar satisfatoriamente duas ou mais atividades simultaneamente, essa conduta acaba representando um risco para os mais relapsos, com maior vulnerabilidade a acidentes de qualquer espécie. Mas nem só o pedestre conectado e desatento tende a se envolver em ocorrências. Apesar da legislação de trânsito proibir tal prática, condutores de veículos insistem em utilizar o telefone celular ao volante, atendendo ligações, recebendo ou enviando mensagens. O constrangimento acompanha os desavisados nos diferentes eventos sociais. Nos templos, nas reuniões semanais, nos funerais, no teatro, onde quer que se reúnam pessoas lá se ouvirá um toque irritante de celular, selecionado de acordo com a preferência (por vezes de gosto duvidoso) de seu usuário.

O uso racional da tecnologia certamente traz benefícios, porém é imprescindível uma boa dose de bom senso. O ideal seria eleger prioridades e inserir as novidades tecnológicas com moderação, buscando o equilíbrio entre a necessidade e a diversão. E redirecionar o tempo disponível para tentar solucionar os problemas da vida real, que não são poucos.