Cirurgia Desnecessária
Já tenho enfatizado aqui que a corrupção no Brasil não é apenas um mal dos políticos. Em todos os setores da sociedade, vê-se que faz parte da índole do brasileiro o desrespeito à ética profissional. É evidente que não podemos generalizar, porque também em todos os segmentos há homens e mulheres de bem.
A matéria do Fantástico, do último domingo, é um verdadeiro escárnio que denigre uma área tão nobre, que é a da medicina. Entretanto, o pior ainda é que não fica apenas naqueles exemplos. Já vi algo parecido. Um paciente, depois de um exame de rotina, o preventivo, recebe o diagnóstico de que terá de ser submetido a uma cirurgia de urgência. Felizmente, uma pessoa da família flagrou o médico telefonando para seu colega, usando a expressão: “tenho um negócio bom para você, uma cirurgia de baixo risco, mas de alto valor”.
Como nesses casos, é sempre bom ouvir a opinião de outro médico, assim fez o familiar que, graças ao seu bom relacionamento social, logo conseguiu um novo parecer da uma equipe médica, postergando a cirurgia. O paciente que, na interpretação do primeiro médico, teria de ser submetido àquela cirurgia de urgência, ainda vive até hoje, decorridos um pouco mais de 12 anos, com aparência de quem “está vendendo saúde”.
Infelizmente, na condição de leigos, não podemos contestar um diagnóstico médico, mas recorrendo a um segundo ou terceiro, bem que podemos arriscar uma desobediência ao primeiro, que está de olho mais no aspecto financeiro do que na saúde de seu paciente. E foi isso que ouvimos de alguns médicos que se posicionaram, estarrecidos com a denúncia do Fantástico.