NO DIA MUNDIAL DA SAÚDE...QUAL É A SAÚDE QUE NOS CABE?

Alguém aí... está saudável?

Hoje, dia sete de abril, comemoramos mais um dia mundial da saúde. Quero tecer algumas palavras, o meu ponto de vista cidadão e profissional.

Comemorar a saúde, por aqui, é apenas o modo verbal de se caracterizar uma cinética figurativa inercial, dada a nossa atual condição sanitária global ,apenas isso.

Fato é que nós, brasileiros e brasileiras, passamos por dias não tão salutares como poderíamos desejar; e se considerarmos a definição de saúde de modo mais amplo e complexo, não apenas a definição simplista da Constituição da Organização mundial da Saúde, a de que “saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças” decerto que chegaríamos a uma triste evidência: a definirmos doença como ausência de saúde, deduz-se que ,portanto, estamos todos muito, mas muito doentes por aqui, e a minha esperança, sinceramente, dado ao panorama da saúde do todo doente, é que não estejamos de prognóstico fechado. Tomara não estejamos!

Aqui falo também com olhos de profissional de campo que há anos...durante muito anos de atuação na saúde, ainda acredita e espera por ações sanitárias que realmente impactuem proficientemente na nossa triste realidade de “ crônica doença sócio politicamente” instaurada e disseminada .Eis a nossa triste etiologia de doença crônica.

Eu explico: atualmente, além das tantas entidades nosológicas que aprendemos a prevenir, diagnosticar tratar e recuperar, durante anos e anos e mais anos de estudos dos devidos ensinamentos dos compêndios das ciências médicas, os de visão mais “hermenêutica” das doenças e seus diagnósticos protocolizados em todo o planeta, é certo que também pouco aprendemos nas universidades a tratar a tempo os impactos aviltantes e amontantes em campo sanitário advindos da desestruturação de políticas sociais que adoecem silenciosamente a saúde global dum povo, quando não implementadas a contento das necessidades do meio , ou seja, pouco nos conscientizamos na universidade de como lidarmos mais a frente, como profissionais da saúde, com todos os descaminhos sanitários promovidos por falência nas políticas sociais que deveriam diagnosticar e tratar o meio com mais seriedade.E também não somos preparados para entender muito menos a enfrentar a culpa que nos colocam injustamente diante dos caos.

Assim faço algumas perguntas para as quias não encontro respostas , muito menos soluções imediatas:

Como, verdadeiramente, podemos promover saúde no atual panorama brasileiro?

Seria possivel promover saúde sem prioridade sanitária?

Como promover saúde numa sociedade adoentada e sem panorama de correto diagnóstico, com prognóstico preocupante?Como promover saúde remendando os efeitos sanitários sem atingir as suas causas complexas principais que a atingem??Como promover saúde frente ao paradoxal abandono de tantos equipamentos sanitários?

Tratar a saúde seria apenas paliar momentaneamente os frutos dos desacertos gestores pelo caminhar do tempo?

Como promover saúde sem educação? Como promover saúde sem valorização dos profissionais brasileiros ou estrangeiros, reféns de tantas condições adversas de trabalho? Como promover saúde sem priorizar e organizar o conhecimento por competências? Como promover saúde com tantas gestões improvisadas? Como promover saúde em meio ao lixo urbano a céu aberto? Como promover saúde com o abandono da infância? Como promover saúde com tão fácil acesso à drogadição a céu aberto, a de início em idades cada vez mais precoces? Como promover saúde em meio ao pânico urbano de toda sorte de violência, já com requintes de crueldade? Como promover saúde sem acesso programático das diversas idades aos meios cidadãos? Como promover saúde sem respeito aos ecossistemas? Como promover saúde sem acessibilidade? Como promover saúde sob agora, a maior ameaça que nos ronda, a falta de água e de energia? Como promover saúde em meio ao fogo que assola as moradias sem planejamento erguidas pelo país inteiro? Como promover saúde sem justiça social?Como promover saúde sem mobilidade urbana? Como promover saúde sem perspectiva social futura? Como promover saúde sem desenvolvimento sustentável?

Como promover saúde sem respeito aos direitos humanos básicos, inalienávies e garantidos pela Constituição Federal? Enfim, como promover saúde sem promoção real da cidadania?

Assim , pela minha lógica do arrazoado, deduzo que estamos todos doentes: comandantes e comandados,absolutamente todos, brasileiros e brasileiras...e os bem vindos agregados do mundo todo.

Se não adoentados por um ótica, acreditem, estamos adoentados por outras tantas.

Nosso estado é crítico, aquele cujo prognóstico caminha a esmo, a depender dos milagres...

É portanto muito difícil no dia de hoje comemorarmos saudavelmente nossa doente saúde .

Deixo aqui minha opinião do campo minado sempre “em campo” angustiado.

Que bons ventos nos soprem a nos trazer saudáveis esperanças de recuperarmos nossa saúde ´de modo democrático e coletivo, não em números das estatísticas estáticas que nada traduzem, mas em grandezas dinâmicas que refletem a saúde global do bem estar social.

Saúde a todos! A saúde que nos cabe...nesse latifúndio.

São os meus sinceros votos nesse mais um dia mundial da saúde.