SINUSITE AGUDA DO PULMÃO

Termos médicos muitas vezes complicam a vida do paciente e, de quebra, a nossa também.

Certa vez, recebi um telefonema de um paciente por volta de 11 horas da noite. Disse-me ele com voz demonstrando muita aflição:

- Doutor, o senhor me desculpe a hora, mas acabo de pegar meu exame no hospital e o resultado foi arrasador. Imagine que eu estou com sinusite aguda no pulmão. Nem sabia que a gente podia ter sinusite no pulmão.

- Calma meu amigo. Leia para mim o laudo da radiografia.

- Bem, pelo que posso entender, o pulmão está normal até o ponto em que diz claramente, seios costofrênicos agudos.

- Meu amigo, fique tranquilo, quando os seios costofrênicos não estão agudos é que há anormalidade. Eles deixam de ser agudos com infiltrações ou derrames na base dos pulmões. Aí sim, a coisa pega. Também importante dizer, como esses seios significam simplesmente espaço virtual entre o órgão e a membrana que o envolve não cabe o termo sinusite, empregado para infiltrações inflamatórias dos seios da face, esses sim espaços reais.

Os termos médicos, principalmente agora quando os laudos de exames são entregues livremente aos pacientes, podem criar muita tensão no paciente quando se depara com nomenclatura fora do comum, como vimos no caso acima.

Muitas vezes, palavras mais rebuscadas do vernáculo podem gerar aflições e inseguranças. É o caso, por exemplo, do termo PÉRVIO. Pérvio não é de uso exclusivo da medicina. Significa passagem livre, sem obstrução.

Na endoscopia digestiva superior (esôfago, estômago e duodeno) é comum vir assinalado no laudo, cárdia (ligação do esôfago com o estômago) ou piloro (ligação do estômago com o duodeno) pérvio, significando normalidade. É muito comum o paciente aparecer assustado dizendo:

- Doutor, o meu caso é grave, imagine que o piloro está pérvio. A situação está preta!

Há terminologias que podem gerar erros até graves. É o caso do chamado COLECISTOGRAMA NEGATIVO.

Colecistograma é o nome dado à radiografia da vesícula biliar que é a secretária do fígado. Esse exame é feito com um contraste que opacifica (*) a vesícula, tornando-a visível aos raios X. Quando o contraste não consegue opacificar a vesícula é sinal que há alguma obstrução – inflamação, cálculos ou tumores. Diz-se então que o colecistograma foi negativo, ou seja, há algo de anormal. Não houve impregnação pelo contraste.

Em medicina se associa a palavra NEGATIVA como coisa boa. O exame deu negativo é bom, não deu nada. Pesquisa de AIDS negativa, exame de fezes negativo, exame de urina negativo etc. são resultados bons para uma pessoa.

Então, baseados nessa premissa, alguns pacientes ao receber um laudo dando colecistograma negativo acham que o exame deu um resultado normal e até deixam de retornar ao médico, pois está tudo bem. As consequências podem ser desastrosas, como se pode antever.

Outra palavra que também pode gerar confusão é HAUSTRAÇÃO. O intestino grosso ou cólon parece uma série de limões superpostos. Haustrações são os movimentos coordenados desses segmentos intestinais. Assim um cólon que se preza deve ser todo haustrado, ou seja, todo ativo e coordenado.

Quando uma radiografia de cólon ou uma coloscopia virtual acusar cólon todo haustrado, isso significa normalidade. Muitas vezes, somos surpreendidos por medos de pacientes que acham que estão mal porque o intestino está todo haustrado, quando na verdade deveriam ter orgulho de suas “tripas grossas”.

(*) – OPACIFICAR é uma palavra muito usada em medicina, mas que não consta nos dicionários de português.

Geraldo Siffert Junior
Enviado por Geraldo Siffert Junior em 24/03/2014
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