USO DA FORMA FARMACÊUTICA ORABASE COMO VEÍCULO MEDICAMENTOSO PARA UTILIZAÇÃO TÓPICA DE Calendula officinalis E Borax ULT (2008)
USO DA FORMA FARMACÊUTICA ORABASE COMO VEÍCULO MEDICAMENTOSO PARA UTILIZAÇÃO TÓPICA DE Calendula officinalis E Borax ULTRADILUÍDOS E DINAMIZADOS APÓS EXTRAÇÕES DENTÁRIAS.
Jane Silva de Azevedo1
1Cirurgiã-Dentista autônoma, funcionária da Prefeitura Municipal de Magé e do Serviço de Saúde da Construção Civil – Seconci, Habilitada em Homeopatia e Membro Titular do Instituto Hahnemanniano do Brasil.
e-mail:janekacaca@yahoo.com.br
ABSTRACT
In the homeopatic practice, Calendula officinalis and Borax are medicines which use is very disseminated because of their antiseptic, hemostatic and cicatrizant properties. There are indicated to accelerate cicatrisation after dental teeth extractions. The ultra diluted and dinamized medication is classically prescribed for internal use. Nevertheless, topic use as Orabase may be an interesting alternative in the odontologic homeopathic treatment, since it promotes prompt local protection and comfort. Inert excipients it is possible to achive an ultradiluted and dinamized medication. This study aims to suggest the use of Orabase formulation of ultradiluted and dinamized Calendula officinalis and Borax to topical use, in order to accelerate the cicatrisation process after dental teeth extractions
Keywords: Borax, Calendula officinalis, Homeopathy, Dentistry, Dental extraction.
RESUMO
Na prática homeopática os medicamentos Calendula officinalis e Borax têm seu uso bastante difundido devido às suas propriedades anti-sépticas, hemostáticas e cicatrizantes, sendo indicados para acelerar o processo de cicatrização após extrações dentárias. A medicação ultradiluída e dinamizada é classicamente prescrita para uso interno, porém, o uso tópico em Orabase pode ser uma alternativa interessante na odontologia homeopática, já que proporciona proteção e conforto local imediato. E como se trata de um veículo inerte é possível a associação à medicação ultradiluída e dinamizada. O objetivo do presente trabalho é sugerir o uso da forma farmacêutica Orabase como veículo medicamentoso para utilização tópica da Calendula officinalis e do Borax ultradiluídos e dinamizados com a finalidade de acelerar o processo de cicatrização após extrações dentárias.
Palavras-chave: Borax, Calendula officinalis, orabase, cicatrização, extração.
INTRODUÇÃO
Na prática homeopática é muito difundido o uso de alguns medicamentos que possuem a capacidade de promover a cicatrização e a recuperação tecidual nos tratamentos de lesões traumáticas (POZETTI, 1988). Dentre estes medicamentos, a Calendula officinalis e o Borax têm seu uso bastante difundido devido às suas propriedades anti-sépticas, hemostáticas e cicatrizantes (CAIRO, 1976; FERNANDES, 2003).
Na odontologia, a forma farmacêutica de uso externo Orabase pode ser utilizada para facilitar a administração tópica de diversos medicamentos, já que é inerte e indicada à formação de filme adesivo sobre a camada externa da mucosa, fixando-se a ela. Mas não existem relatos na literatura técnica consultada do uso desta forma farmacêutica associada a medicamentos ultradiluídos e dinamizados.
O objetivo do presente trabalho é sugerir o uso da forma farmacêutica Orabase como veículo medicamentoso para utilização tópica da Calendula officinalis e do Borax ultradiluídos e dinamizados com a finalidade de acelerar o processo de cicatrização após extrações dentárias.
DESENVOLVIMENTO
Segundo Guimarães (1982) o processo de reparo em feridas após a extração dentária apresenta duas fases distintas: a regeneração óssea intra-alveolar e a regeneração epitelial.
A primeira fase do processo envolve a formação e organização do coágulo sangüíneo que ocorre durante as 24 horas iniciais. Junto à periferia do coágulo, ocorre a formação do tecido de granulação que o substituirá por volta do nono dia após o ato operatório (CARVALHO; OKAMOTO, 1987). O tecido de granulação cicatricial passa então por um processo de maturação no qual é rápida a deposição de fibras colágenas e o desaparecimento das trabéculas de fibrina. Na seqüência, inicia-se a fase de neoformação e remodelação óssea, que no homem se processa por volta do décimo dia pós-extração (BOYNE, 1966).
A atividade osteogênica resultará em um tecido denso e fibroso eosinófilo rico em osteoblastos. Este evolui para o tecido ósseo neoformado imaturo com estruturas trabeculares irregulares, fibras colágenas desorganizadas, elevado índice de osteócitos e baixa calcificação. Com o processo de remodelação este tecido será substituído por tecido ósseo maduro ou lamelar. A osteogênese se completa entre o terceiro e quarto mês após extração (PROVENZA, 1964), a remodelação em média seis meses e a mineralização em no máximo três meses (ASTRAND; CARLSSON, 1969).
Este processo, pode ainda sofrer influências locais (CASTRO et al., 1970) e sistêmicas, capazes de acelerar ou retardar o reparo alveolar. O uso de medicamentos que contribuam para o processo de cicatrização e recuperação tecidual é de grande valia nos tratamentos de lesões traumáticas (POZETTI, 1988).
Na medicina homeopática os medicamentos Calendula officinalis e Borax são conhecidos por suas propriedades anti-sépticas e cicatrizantes (CAIRO, 1976; VOISIN,1984) e Roslindo et al. (2004) demonstraram que a Calendula tem eficácia no processo de cicatrização após extrações dentárias.
A Calendula officinalis é uma planta da família das Compostas, conhecida popularmente como Maravilhas, possui flores alaranjadas das quais se extrai óleo por maceração que apresenta ação externa e interna sobre todas as feridas traumáticas, produzindo rápida cicatrização e impedindo a supuração (POZETTI, 1988).
As tradições dos povos mais antigos já consideravam as propriedades cicatrizantes da Calendula officinalis quando aplicadas topicamente em feridas expostas ao meio externo. E diversos trabalhos da literatura científica mundial visam esclarecer sobre as propriedades terapêuticas desta planta (FERNANDES, 2003).
Uma investigação recente efetuada no Reino Unido utilizando extratos aquosos da flor de Calendula sobre feridas na pele sugeriu um papel indutor na micro-vasculariazação que contribuiu para uma rápida cicatrização das lesões. As aplicações tópicas de Calendula também foram úteis nos casos de neurodermites, líquen, intertigo, eczemas e dermatites planas. O uso externo da Calendula também foi considerado útil em caso de periodontopatias (ALONSO, 1998).
O óleo essencial de Calendula possui propriedades anti-sépticas em especial frente ao Staphylococcus aureus e o Streptococcus fecallis. Na Alemanha, as autoridades sanitárias federais confirmaram a atividade antiinflamatória da Calendula em casos de feridas e golpes ou lacerações (ALONSO, 1998).
A Calendula ultradiluída e dinamizada, administrada por via oral, é considerada anti-séptica e segundo Voisin (1984) diminui a infecção, a dor excessiva e a produção de pus, possuindo ação sobre feridas traumáticas. Cairo (1976) destaca que este medicamento, quando preparado e administrado segundo os preceitos homeopáticos, promove hemostasia, prevenindo a inflamação e favorecendo a cicatrização.
O bórax (Na2B4O7•10H2O), também conhecido como borato de sódio ou tetraborato de sódio é um composto importante do boro.
O tetraborato de sódio (Na2B4O7) existe na natureza sob a forma de tincal (mineral monoclínico, borato de sódio hidratado), que contém em média 55% de bórax (tetraborato de sódio decaidratado, Na2B4O7.10H2O). Habitualmente obtém-se o tetraborato de sódio sob a forma de cristais incolores, ligeiramente solúveis em água fria e mais solúvel em água quente, sendo suas soluções alcalinas (NEVES, 2009).
O tetraborato de sódio é freqüentemente utilizado como anti-séptico, inseticida, retardante de chamas, adubos. Pode ser utilizado como um anti-séptico unicamente em pequenas feridas ou queimaduras. E é venenoso se ingerido ou inalado (LEITE, 2007).
A ANVISA (2001) proibiu o uso do Bórax, em doses ponderais, na composição de produtos anti-sépticos tópicos, na forma de pomadas, talcos e cremes indicados para uso infantil, já que pode causar risco de vida. Atualmente, este composto só pode ser utilizado em produtos destinados ao uso de adultos. Porém, esses não podem ser aplicados em grandes áreas do corpo ou quando existem lesões de qualquer tipo, como feridas ou queimaduras (ANVISA, 2003). Porém, o uso desta substância ultradiluída e dinamizada não apresenta qualquer restrição por não determinar qualquer tipo de risco à saúde humana, conforme outras substâncias tóxicas que ao serem ultradiluídas deixam de apresentar toxicidade. Boericke (1993) comparou o uso do Mercurius solubilis em doses ponderais e na forma ultradiluída e dinamizada para exemplificar como essas substâncias primariamente tóxicas podem resultar em grandes recursos terapêuticos quando preparadas segundo os preceitos homeopáticos.
O medicamento homeopático Borax é utilizado no tratamento de estomatite aftosa (BÉLLON; ECHANY, 2006). Segundo Cairo (1976), este medicamento é indicado para “boca ferida”, “sangrando facilmente ao comer ou ao tocar”.
Na Odontologia, a forma farmacêutica de uso externo Orabase pode ser utilizada para facilitar a administração tópica de diversos medicamentos, mas nada foi encontrado na literatura técnica consultada sobre o uso dessa forma farmacêutica como veículo para administração de medicamentos ultradiluídos e dinamizados.
A Orabase atua como veículo adesivo para aplicar a medicação ativa aos tecidos orais. O veículo proporciona uma cobertura protetora que pode servir para reduzir temporariamente a dor associada à irritação oral.
A Orabase consiste em uma mistura de duas fases (aquosa-oleosa) com composição indicada à formação de filme adesivo sobre a camada externa da mucosa. A Fase 1 é denominada oleosa e é composta pelo gel de petrolato-politileno e a Fase 2 é denominada aquosa e composta por Carboxi Metil Celulose (CMC) (0,5%), pectina (10%) e gelatina (0,5%) que são formadores de gel e que permitem a adesão à mucosa bucal, além dos conservantes nipagin (0,15%) e nipazol (0,05%) e água qsp (100mL). A formulação final é composta por 40% da Fase 1 e 60% da Fase 2. A composição da Orabase está descrita na Tabela 1.
Tabela 1: composição da Orabase.
Composto Descrição
Carboxi Metil Celulose (CMC) (0,5%) Derivado da celulose da madeira e do algodão. É um polímero aniônico solúvel em água, inodoro, atóxico e biodegradável.
É encontrado no mercado em grau de pureza farmacêutico ou em grau alimentar. O grau de pureza farmacêutico é superior ao grau de pureza alimentar, conforme indicado por ALONSO (1998).
Pectina (10%) É um polissacarídeo ramificado constituído principalmente de polímeros de ácido galacturônico, ramnose, arabinose e galactose. É um dos principais componentes da parede celular das plantas e o principal componente da lamela média (uma membrana formada durante a divisão celular, utilizada como cimento, unindo células entre si). Suas ramificações são importantes na formação do gel pretendido, já que são elas que aprisionam a água à molécula, favorecendo a formação de gel (WIKIPÉDIA, 2009).
Gelatina (0,5%) É uma proteína derivada da hidrólise parcial do colágeno, em que as ligações moleculares naturais entre fibras separadas de colágeno são quebradas permitindo o seu rearranjo. A gelatina funde à temperatura próxima de 370C (temperatura próxima à corporal) e retorna ao estado sólido com o decréscimo da temperatura. Misturando com água a gelatina forma um gel coloidal sob aquecimento brando. É uma substância translúcida, incolor ou levemente amarelada, praticamente insípida e inodora (VIVA MUNDO, 2009).
Nipagin (0,15%) e Nipazol (0,05%) São ésteres conservantes antimicrobianos derivados do ácido p-hidroxibenzóico, freqüentemente conhecidos como "parabenos". Utilizados nas formulações magistrais de uso externo. Os benefícios são: largo espectro de ação antimicrobiana (efetivo contra bactérias gram-positivas e gram-negativas, fungos e leveduras). Na concentração normal de uso são efetivos em baixas concentrações, possuem baixa toxicidade e não são irritantes aos olhos, à pele e mucosas (PHARMASPECIAL, 2009).
Gel de petrolato-polietileno Base oleosa para pomadas, na forma de gel untuoso, liso, macio, uniforme e translúcido, pronto para uso em produtos farmacêuticos e cosméticos (SR BRASIL MATÉRIAS-PRIMAS, 2009).
Na alopatia, a única medicação disponível comercialmente em Orabase é o Oncilon-A, que é um corticosteróide sintético e que possui ação antiinflamatória, antipruriginosa e antialérgica. Esta medicação é indicada para o tratamento auxiliar e para o alívio da dor e sintomas associados com lesões inflamatórias orais e lesões ulcerativas resultantes de trauma, mas é contra-indicada em pacientes com hipersensibilidade a qualquer um dos componentes da fórmula, e como contêm corticosteróide, é contra-indicado na presença de infecção fúngica, viral ou bacteriana da boca e garganta (BULAS. MÉD. BR, 2009).
Experimentalmente, Bebusscher (2007) utilizou o quimioterápico tópico Imiquimod 5% associado com a pasta Orabase em um paciente que apresentava lesão verrugosa na mucosa oral, com diagnóstico histopatológico de papiloma vírus tipos 6 e 11. O quimioterápico e a Orabase foram preparados na proporção 1:1, e administrados uma vez ao dia, por dois meses. O tratamento resultou na completa regressão da lesão e não houve recidiva durante um ano, período no qual foram feitas as observações.
A medicação ultradiluída e dinamizada é classicamente prescrita para uso interno, porém, o uso tópico em Orabase pode ser uma alternativa interessante na odontologia homeopática, já que proporciona proteção e conforto local imediato. E como se trata de um veículo inerte é possível a associação à medicação ultradiluída e dinamizada. Contudo, é necessária a realização de trabalhos experimentais que verifiquem se o uso tópico desses medicamentos ultradiluídos e dinamizados é igualmente eficaz ao uso interno.
O preparado da medicação Calendula officinallis e Borax ultradiluída e dinamizada em Orabase para uso tópico após a extração dentária, deve ser realizado em farmácias de manipulação de medicamentos homeopáticos. O cirurgião dentista homeopata pode fornecer este preparado para o paciente, ou prescrevê-lo, orientando-o sobre os cuidados na aplicação em casa, com luvas descartáveis fornecidas pelo cirurgião dentista ou adquiridas em farmácias. Após a extração, o preparado em Orabase deve ser aplicado e o paciente instruído sobre como deve realizar as aplicações em casa, assim como os cuidados que deve ter com o preparado.
CONCLUSÃO
O uso tópico dos medicamentos Calendula officinallis e Borax ultradiluídos e dinamizados em Orabase pode ser uma alternativa interessante na odontologia homeopática, com a finalidade de acelerar o processo de cicatrização após extrações dentárias já que, pela associação à Orabase, proporciona proteção e conforto local imediato. Estudos experimentais devem ser realizados para avaliar se a administração tópica desses medicamentos ultradiluídos e dinamizados é igualmente eficaz ao uso interno.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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<http://pt.wikipedia.org/wiki/B%C3%B3rax>. Acesso em: 19 de fevereiro de 2009.
USO DA FORMA FARMACÊUTICA ORABASE COMO VEÍCULO MEDICAMENTOSO PARA UTILIZAÇÃO TÓPICA DE Calendula officinalis E Borax ULTRADILUÍDOS E DINAMIZADOS APÓS EXTRAÇÕES DENTÁRIAS.
Jane Silva de Azevedo1
1Cirurgiã-Dentista autônoma, funcionária da Prefeitura Municipal de Magé e do Serviço de Saúde da Construção Civil – Seconci, Habilitada em Homeopatia e Membro Titular do Instituto Hahnemanniano do Brasil.
e-mail:janekacaca@yahoo.com.br
ABSTRACT
In the homeopatic practice, Calendula officinalis and Borax are medicines which use is very disseminated because of their antiseptic, hemostatic and cicatrizant properties. There are indicated to accelerate cicatrisation after dental teeth extractions. The ultra diluted and dinamized medication is classically prescribed for internal use. Nevertheless, topic use as Orabase may be an interesting alternative in the odontologic homeopathic treatment, since it promotes prompt local protection and comfort. Inert excipients it is possible to achive an ultradiluted and dinamized medication. This study aims to suggest the use of Orabase formulation of ultradiluted and dinamized Calendula officinalis and Borax to topical use, in order to accelerate the cicatrisation process after dental teeth extractions
Keywords: Borax, Calendula officinalis, Homeopathy, Dentistry, Dental extraction.
RESUMO
Na prática homeopática os medicamentos Calendula officinalis e Borax têm seu uso bastante difundido devido às suas propriedades anti-sépticas, hemostáticas e cicatrizantes, sendo indicados para acelerar o processo de cicatrização após extrações dentárias. A medicação ultradiluída e dinamizada é classicamente prescrita para uso interno, porém, o uso tópico em Orabase pode ser uma alternativa interessante na odontologia homeopática, já que proporciona proteção e conforto local imediato. E como se trata de um veículo inerte é possível a associação à medicação ultradiluída e dinamizada. O objetivo do presente trabalho é sugerir o uso da forma farmacêutica Orabase como veículo medicamentoso para utilização tópica da Calendula officinalis e do Borax ultradiluídos e dinamizados com a finalidade de acelerar o processo de cicatrização após extrações dentárias.
Palavras-chave: Borax, Calendula officinalis, orabase, cicatrização, extração.
INTRODUÇÃO
Na prática homeopática é muito difundido o uso de alguns medicamentos que possuem a capacidade de promover a cicatrização e a recuperação tecidual nos tratamentos de lesões traumáticas (POZETTI, 1988). Dentre estes medicamentos, a Calendula officinalis e o Borax têm seu uso bastante difundido devido às suas propriedades anti-sépticas, hemostáticas e cicatrizantes (CAIRO, 1976; FERNANDES, 2003).
Na odontologia, a forma farmacêutica de uso externo Orabase pode ser utilizada para facilitar a administração tópica de diversos medicamentos, já que é inerte e indicada à formação de filme adesivo sobre a camada externa da mucosa, fixando-se a ela. Mas não existem relatos na literatura técnica consultada do uso desta forma farmacêutica associada a medicamentos ultradiluídos e dinamizados.
O objetivo do presente trabalho é sugerir o uso da forma farmacêutica Orabase como veículo medicamentoso para utilização tópica da Calendula officinalis e do Borax ultradiluídos e dinamizados com a finalidade de acelerar o processo de cicatrização após extrações dentárias.
DESENVOLVIMENTO
Segundo Guimarães (1982) o processo de reparo em feridas após a extração dentária apresenta duas fases distintas: a regeneração óssea intra-alveolar e a regeneração epitelial.
A primeira fase do processo envolve a formação e organização do coágulo sangüíneo que ocorre durante as 24 horas iniciais. Junto à periferia do coágulo, ocorre a formação do tecido de granulação que o substituirá por volta do nono dia após o ato operatório (CARVALHO; OKAMOTO, 1987). O tecido de granulação cicatricial passa então por um processo de maturação no qual é rápida a deposição de fibras colágenas e o desaparecimento das trabéculas de fibrina. Na seqüência, inicia-se a fase de neoformação e remodelação óssea, que no homem se processa por volta do décimo dia pós-extração (BOYNE, 1966).
A atividade osteogênica resultará em um tecido denso e fibroso eosinófilo rico em osteoblastos. Este evolui para o tecido ósseo neoformado imaturo com estruturas trabeculares irregulares, fibras colágenas desorganizadas, elevado índice de osteócitos e baixa calcificação. Com o processo de remodelação este tecido será substituído por tecido ósseo maduro ou lamelar. A osteogênese se completa entre o terceiro e quarto mês após extração (PROVENZA, 1964), a remodelação em média seis meses e a mineralização em no máximo três meses (ASTRAND; CARLSSON, 1969).
Este processo, pode ainda sofrer influências locais (CASTRO et al., 1970) e sistêmicas, capazes de acelerar ou retardar o reparo alveolar. O uso de medicamentos que contribuam para o processo de cicatrização e recuperação tecidual é de grande valia nos tratamentos de lesões traumáticas (POZETTI, 1988).
Na medicina homeopática os medicamentos Calendula officinalis e Borax são conhecidos por suas propriedades anti-sépticas e cicatrizantes (CAIRO, 1976; VOISIN,1984) e Roslindo et al. (2004) demonstraram que a Calendula tem eficácia no processo de cicatrização após extrações dentárias.
A Calendula officinalis é uma planta da família das Compostas, conhecida popularmente como Maravilhas, possui flores alaranjadas das quais se extrai óleo por maceração que apresenta ação externa e interna sobre todas as feridas traumáticas, produzindo rápida cicatrização e impedindo a supuração (POZETTI, 1988).
As tradições dos povos mais antigos já consideravam as propriedades cicatrizantes da Calendula officinalis quando aplicadas topicamente em feridas expostas ao meio externo. E diversos trabalhos da literatura científica mundial visam esclarecer sobre as propriedades terapêuticas desta planta (FERNANDES, 2003).
Uma investigação recente efetuada no Reino Unido utilizando extratos aquosos da flor de Calendula sobre feridas na pele sugeriu um papel indutor na micro-vasculariazação que contribuiu para uma rápida cicatrização das lesões. As aplicações tópicas de Calendula também foram úteis nos casos de neurodermites, líquen, intertigo, eczemas e dermatites planas. O uso externo da Calendula também foi considerado útil em caso de periodontopatias (ALONSO, 1998).
O óleo essencial de Calendula possui propriedades anti-sépticas em especial frente ao Staphylococcus aureus e o Streptococcus fecallis. Na Alemanha, as autoridades sanitárias federais confirmaram a atividade antiinflamatória da Calendula em casos de feridas e golpes ou lacerações (ALONSO, 1998).
A Calendula ultradiluída e dinamizada, administrada por via oral, é considerada anti-séptica e segundo Voisin (1984) diminui a infecção, a dor excessiva e a produção de pus, possuindo ação sobre feridas traumáticas. Cairo (1976) destaca que este medicamento, quando preparado e administrado segundo os preceitos homeopáticos, promove hemostasia, prevenindo a inflamação e favorecendo a cicatrização.
O bórax (Na2B4O7•10H2O), também conhecido como borato de sódio ou tetraborato de sódio é um composto importante do boro.
O tetraborato de sódio (Na2B4O7) existe na natureza sob a forma de tincal (mineral monoclínico, borato de sódio hidratado), que contém em média 55% de bórax (tetraborato de sódio decaidratado, Na2B4O7.10H2O). Habitualmente obtém-se o tetraborato de sódio sob a forma de cristais incolores, ligeiramente solúveis em água fria e mais solúvel em água quente, sendo suas soluções alcalinas (NEVES, 2009).
O tetraborato de sódio é freqüentemente utilizado como anti-séptico, inseticida, retardante de chamas, adubos. Pode ser utilizado como um anti-séptico unicamente em pequenas feridas ou queimaduras. E é venenoso se ingerido ou inalado (LEITE, 2007).
A ANVISA (2001) proibiu o uso do Bórax, em doses ponderais, na composição de produtos anti-sépticos tópicos, na forma de pomadas, talcos e cremes indicados para uso infantil, já que pode causar risco de vida. Atualmente, este composto só pode ser utilizado em produtos destinados ao uso de adultos. Porém, esses não podem ser aplicados em grandes áreas do corpo ou quando existem lesões de qualquer tipo, como feridas ou queimaduras (ANVISA, 2003). Porém, o uso desta substância ultradiluída e dinamizada não apresenta qualquer restrição por não determinar qualquer tipo de risco à saúde humana, conforme outras substâncias tóxicas que ao serem ultradiluídas deixam de apresentar toxicidade. Boericke (1993) comparou o uso do Mercurius solubilis em doses ponderais e na forma ultradiluída e dinamizada para exemplificar como essas substâncias primariamente tóxicas podem resultar em grandes recursos terapêuticos quando preparadas segundo os preceitos homeopáticos.
O medicamento homeopático Borax é utilizado no tratamento de estomatite aftosa (BÉLLON; ECHANY, 2006). Segundo Cairo (1976), este medicamento é indicado para “boca ferida”, “sangrando facilmente ao comer ou ao tocar”.
Na Odontologia, a forma farmacêutica de uso externo Orabase pode ser utilizada para facilitar a administração tópica de diversos medicamentos, mas nada foi encontrado na literatura técnica consultada sobre o uso dessa forma farmacêutica como veículo para administração de medicamentos ultradiluídos e dinamizados.
A Orabase atua como veículo adesivo para aplicar a medicação ativa aos tecidos orais. O veículo proporciona uma cobertura protetora que pode servir para reduzir temporariamente a dor associada à irritação oral.
A Orabase consiste em uma mistura de duas fases (aquosa-oleosa) com composição indicada à formação de filme adesivo sobre a camada externa da mucosa. A Fase 1 é denominada oleosa e é composta pelo gel de petrolato-politileno e a Fase 2 é denominada aquosa e composta por Carboxi Metil Celulose (CMC) (0,5%), pectina (10%) e gelatina (0,5%) que são formadores de gel e que permitem a adesão à mucosa bucal, além dos conservantes nipagin (0,15%) e nipazol (0,05%) e água qsp (100mL). A formulação final é composta por 40% da Fase 1 e 60% da Fase 2. A composição da Orabase está descrita na Tabela 1.
Tabela 1: composição da Orabase.
Composto Descrição
Carboxi Metil Celulose (CMC) (0,5%) Derivado da celulose da madeira e do algodão. É um polímero aniônico solúvel em água, inodoro, atóxico e biodegradável.
É encontrado no mercado em grau de pureza farmacêutico ou em grau alimentar. O grau de pureza farmacêutico é superior ao grau de pureza alimentar, conforme indicado por ALONSO (1998).
Pectina (10%) É um polissacarídeo ramificado constituído principalmente de polímeros de ácido galacturônico, ramnose, arabinose e galactose. É um dos principais componentes da parede celular das plantas e o principal componente da lamela média (uma membrana formada durante a divisão celular, utilizada como cimento, unindo células entre si). Suas ramificações são importantes na formação do gel pretendido, já que são elas que aprisionam a água à molécula, favorecendo a formação de gel (WIKIPÉDIA, 2009).
Gelatina (0,5%) É uma proteína derivada da hidrólise parcial do colágeno, em que as ligações moleculares naturais entre fibras separadas de colágeno são quebradas permitindo o seu rearranjo. A gelatina funde à temperatura próxima de 370C (temperatura próxima à corporal) e retorna ao estado sólido com o decréscimo da temperatura. Misturando com água a gelatina forma um gel coloidal sob aquecimento brando. É uma substância translúcida, incolor ou levemente amarelada, praticamente insípida e inodora (VIVA MUNDO, 2009).
Nipagin (0,15%) e Nipazol (0,05%) São ésteres conservantes antimicrobianos derivados do ácido p-hidroxibenzóico, freqüentemente conhecidos como "parabenos". Utilizados nas formulações magistrais de uso externo. Os benefícios são: largo espectro de ação antimicrobiana (efetivo contra bactérias gram-positivas e gram-negativas, fungos e leveduras). Na concentração normal de uso são efetivos em baixas concentrações, possuem baixa toxicidade e não são irritantes aos olhos, à pele e mucosas (PHARMASPECIAL, 2009).
Gel de petrolato-polietileno Base oleosa para pomadas, na forma de gel untuoso, liso, macio, uniforme e translúcido, pronto para uso em produtos farmacêuticos e cosméticos (SR BRASIL MATÉRIAS-PRIMAS, 2009).
Na alopatia, a única medicação disponível comercialmente em Orabase é o Oncilon-A, que é um corticosteróide sintético e que possui ação antiinflamatória, antipruriginosa e antialérgica. Esta medicação é indicada para o tratamento auxiliar e para o alívio da dor e sintomas associados com lesões inflamatórias orais e lesões ulcerativas resultantes de trauma, mas é contra-indicada em pacientes com hipersensibilidade a qualquer um dos componentes da fórmula, e como contêm corticosteróide, é contra-indicado na presença de infecção fúngica, viral ou bacteriana da boca e garganta (BULAS. MÉD. BR, 2009).
Experimentalmente, Bebusscher (2007) utilizou o quimioterápico tópico Imiquimod 5% associado com a pasta Orabase em um paciente que apresentava lesão verrugosa na mucosa oral, com diagnóstico histopatológico de papiloma vírus tipos 6 e 11. O quimioterápico e a Orabase foram preparados na proporção 1:1, e administrados uma vez ao dia, por dois meses. O tratamento resultou na completa regressão da lesão e não houve recidiva durante um ano, período no qual foram feitas as observações.
A medicação ultradiluída e dinamizada é classicamente prescrita para uso interno, porém, o uso tópico em Orabase pode ser uma alternativa interessante na odontologia homeopática, já que proporciona proteção e conforto local imediato. E como se trata de um veículo inerte é possível a associação à medicação ultradiluída e dinamizada. Contudo, é necessária a realização de trabalhos experimentais que verifiquem se o uso tópico desses medicamentos ultradiluídos e dinamizados é igualmente eficaz ao uso interno.
O preparado da medicação Calendula officinallis e Borax ultradiluída e dinamizada em Orabase para uso tópico após a extração dentária, deve ser realizado em farmácias de manipulação de medicamentos homeopáticos. O cirurgião dentista homeopata pode fornecer este preparado para o paciente, ou prescrevê-lo, orientando-o sobre os cuidados na aplicação em casa, com luvas descartáveis fornecidas pelo cirurgião dentista ou adquiridas em farmácias. Após a extração, o preparado em Orabase deve ser aplicado e o paciente instruído sobre como deve realizar as aplicações em casa, assim como os cuidados que deve ter com o preparado.
CONCLUSÃO
O uso tópico dos medicamentos Calendula officinallis e Borax ultradiluídos e dinamizados em Orabase pode ser uma alternativa interessante na odontologia homeopática, com a finalidade de acelerar o processo de cicatrização após extrações dentárias já que, pela associação à Orabase, proporciona proteção e conforto local imediato. Estudos experimentais devem ser realizados para avaliar se a administração tópica desses medicamentos ultradiluídos e dinamizados é igualmente eficaz ao uso interno.
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