POBRE, SUJO, MAS SAUDÁVEL

Quando criança eu passava a maior parte do tempo em cima de uma bicicleta velha, chutando bola no asfalto quente, jogando bolinha de gude... Juro que não me restava, sequer, um minuto até mesmo para a higiene pessoal. Sim, era meio porquinho. Só Deus sabe o sacrifício gigantesco que tinha que fazer para dar um tempo em todas as minhas atividades de moleque e tomar banho, sacrifício que acabava rapidinho quando minha mãe usava a vara da infância e da juventude. Com ela até os dentes escovava.

Eu odiava ter que parar de brincar para simplesmente me lavar e aguardar a hora de dormir. Apesar da magreza, a minha saúde me dava tanta energia que até hoje não sei de onde surgia. Minha alimentação não era muito sofisticada: sem McDonald’s, pizza ou qualquer tipo de comida que saísse do orçamento da cesta básica ou da facilidade da roça: arroz, feijão, mandioca, batata, quiabo, abóbora, legumes e quando muito um miolo de acém apuradinho na panela. Gostando disso ou não, tinha que comer, pois essa alimentação é o que me dava forças para aguentar a marimba do dia seguinte. Evidentemente que bolacha recheada e danoninho não me dariam essa disposição

De repente me deparo com um assunto bem mais preocupante do que minha falta de higiene na infância: dados do governo federal de 2013, apontam que nas duas últimas décadas, a obesidade entre crianças de 5 a 9 anos saltou de 4,1% para 16,6% entre os meninos e de 2,4% para 11,8% entre as meninas. No caso dos adolescentes, o excesso de peso passou de 3,7% para 21,7% nas últimas quatro décadas. Sabe quem é responsável por isso? Você, eu, a família de um modo geral que “enfia” nessas crianças tudo aquilo que não vem na cesta básica. Logicamente que há aí influência da cultura do fast-food.

Quando desobedecia minha mãe, o meu castigo era não poder brincar, correr, exercitar-me por mais de uma hora por dia, o que na atualidade é o tempo obrigatório para que uma criança não se torne sedentária. Esse problema começa quando a televisão, o computador, o vídeogame, o celular de última geração passam a ser as principais atividades físicas de qualquer criança. Veja bem, você não precisa ser pobre igual aos meus pais foram na minha infância, tampouco deixar que seu filho seja porquinho igual mim para dar uma alimentação saudável a eles. Seu guri pode ter todos os benefícios da tecnologia, basta ter regras para que não seja mais uma criança obesa contribuindo para aumentar os dados do Governo Federal no assunto obesidade infantil.

Eder Tofanelli
Enviado por Eder Tofanelli em 22/10/2013
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