Medo e constrangimento.

Fiquei pensativo quanto a um fato divulgado hoje no programa da Fátima Bernardes sobre o constrangimento de um menino portador de uma doença de pele (não contagiosa) que viajava e um avião da empresa área Gol. Sucede que sua presença no avião gerou atos de discriminação e injúria por parte de outros passageiros que, acintosamente, confabulavam e reivindicavam a não presença do enfermo naquele voo. Tudo isso na diante do menino que mesmo compadecido com o seu mal teve de passar por outro sofrimento de ordem psicológica que não deveria ser externado de forma tão desumana.

O que me pergunto é o seguinte: - Será que o medo é maior do que a noção de sensibilidade que o caso deveria desencadear nas pessoas? Particularmente, se fosse eu o envolvido na questão não teria agido com esse toque de insensatez. Aquelas pessoas não chegaram a entender que se tratava de alguém moribundo que precisava é de atenção e não de desprezo.

É verdade que o impacto inicial de se enxergar algo incomum (e relacionado com doença) gera certa desconfiança. Entretanto, a pessoa que é mais sensível e não pensa só em si próprio pode até ficar angustiada com aquilo, mas deve ter a educação necessária para não transpor a barreira da indiferença com o outro ser humano que sofre. No meu caso se eu estivesse sozinho ficaria na minha e não ia interferir. Mas, caso houvesse alguma criança comigo eu iria procurar informações discretas com as aeromoças sobre o caso, já que não ia querer expor meus filhos a uma possível contaminação.

A meu ver, o que se deve evitar em casos dessa natureza e a exposição do doente. A criança que ali estava não precisava presenciar toda a celeuma em função de sua presença dentro daquele avião. Isso soa desumano. A minha primeira impressão seria de que a mãe que já estava sofrendo com aquele mal sobre o filho, caso fosse algo contagioso, não iria expor outras crianças ao mesmo drama. Aliás, no presente caso a primeira informação que foi repassada às pessoas é de que a doença não era contagiosa e mesmo assim os alaridos não cessaram.

Cada um tem o seu ponto de vista e não deixa de ter sua razão. O próprio direito assegura que as pessoas (para se defenderem) podem utilizar de meios que se assim não fosse poderiam ser caracterizados como crime. O Direito Penal isenta de crime a legítima defesa, o estrito cumprimento do dever legal e o estado de necessidade. Todas essas excludentes são hipóteses legais que permitem que as pessoas extrapolem certos deveres em nome do direito à vida.

Enfim, para mim a questão não é de cunho legal, mas de ordem espiritual. Só evoluem as pessoas que são compadecidas e que enxergam além de si próprios. É necessário que os seres humanos sejam sensíveis ao drama alheio. Nesse caso específico todas as pessoas que se rebelaram em nome da própria segurança, sem se atentar que ofendiam a alma de um ser moribundo, por certo, não estão preparados para entender o sofrimento humano.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 21/08/2013
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