O futuro existe para pacientes psiquiátricos?
O FUTURO EXISTE PARA PACIENTES PSIQUIÁTRICOS ?
Não existe. Muitas mães responderão assim diante de seus filhos em surto psiquiátrico.
Não existe. Assim pensarão após anos de compromisso assumido com a vida, com a esperança e com as crenças.
Não existe. Se o futuro existisse os filhos especiais não sofreriam tanto. Os filhos dizem, cada um da sua forma, que os pais não são eles para sentirem o que sentem.
Não existe. Se o futuro existisse os filhos seriam capazes de entender o quanto uma mãe pode ser capaz de sentir a mesma dor, o mesmo sofrimento, o mesmo medo, a mesma angustia, o mesmo pânico.
Não existe. Se o futuro existisse responderia as mais dolorosas questões dos pais. Quem irá cuidar dos meus filhos quando eu não estiver mais aqui? Quem cumprirá o meu papel? Quem irá prestar atenção em nossos filhos? Quem dará um abraço no momento da dor emocional?
Não existe. Se o futuro existisse haveria o caminho mais adequado para ele. Haveria estrutura na área de saúde, haveria estrutura na área de inclusão das pessoas especiais. Haveria um sentimento mais humanitário para com estas pessoas.
O futuro tal como gostaríamos não existe de fato.
Ao ficar estabelecida a condição de paciente psiquiátrico, os únicos sentimentos encontrados são de piedade e consternação em fase inicial. Após vem o afastamento. As pessoas se afastam em tempos diferentes. Algumas de imediato, outras aos poucos e quando pensamos que contávamos com alguma compreensão já não há mais ninguém.
Vemos que nossos filhos se afastam cada vez mais dos objetivos que traçaram para eles mesmos antes das primeiras crises. Vemos que todos os sonhos foram virando pesadelos. Até que o diagnóstico venha de maneira definitiva muitos são os caminhos percorridos.
Não se pode medir dor emocional. Não se pode dizer a outra mãe que a minha dor é maior que a sua dor. Não se pode dizer a outro pai que a dor dele é maior do que a de outro pai.
Uma conduta porém tem que ser destacada. Existem os pais sinceros, amigos e que cumprem o dever de estar ao lado dos filhos. Mas existem também os pais que rejeitam os filhos exatamente porque apresentam o problema psiquiátrico.
A imperfeição. É exatamente isto que o problema psiquiátrico representa: a imperfeição.
Ser imperfeito significa não ser normal. Significa ter uma conduta diferente dos demais. Significa ser inconveniente e significa que pode ser aquela pessoa que sempre poderá ocasionar um problema. Uma pessoa cujas reações são imprevisíveis.
Neste mundo da previsibilidade, neste mundo de comportamento padrão tudo está completamente voltado para os acordos estabelecidos. Não chorar, não gritar, não deixar a dor sair através do grito que tem que ser controlado. Não bater, não esmurrar, não quebrar objetos. No mundo real não pode. Na telinha da TV é possível surtar em qualquer novela. Mas na própria casa não se pode surtar, não se pode gritar, não se pode esmurrar. Para isto existe a polícia, o Samur, a Lei do Silencio.
As Pessoas de Alta Sensibilidade surtam. Elas querem gritar, querem berrar, querem sentir a dor que sentem. Existem medicamentos para controlar todos os impulsos. Não gritar, não chorar, não berrar, não se matar.
Mas, quando comecei a escrever, me referia aos pais dessas pessoas tão queridas. Como evitar o sofrimento dos pais? Alguém já me falou em aceitação. Aceitar que ter um filho assim é uma fatalidade.
Quando os pais perguntam aos médicos sobre o prognóstico não há nada para ser dito. A ciência não evoluiu para assegurar uma crença de que o futuro existirá. Talvez melhore, talvez piore, talvez algo mude o roteiro.
Então, o que fazer ? Confesso que essas dores são fortes demais. Confesso mais: tem momentos que a desesperança chega forte no coração da gente.
Os pais das Pessoas com Alta Sensibilidade sentem tudo que os filhos sentem mas ao sentir se abismam. Como pode meu filho ou minha filha sofrer tanto por algo que poderia ser tão menos sentido ou menos sofrido? Como pode alguém ir ao fundo do poço enquanto outras encontram soluções rápidas?
Não existe inclusão social para paciente psiquiátrico. É que a própria sociedade já limita o convívio, já estabelece que o mundo pode muito bem viver sem essas pessoas. Então, para que perder tempo?
É por isto que considero a psiquiatria fascinante. É por isto que acredito que para ser psiquiatra o profissional tem que ter um elenco de qualidades, perfeitas e imperfeitas, para conseguir atingir positivamente os pais e os filhos impacientes pacientes.
Mas quero falar especialmente para as mães. Para aquelas que abdicaram da própria vida, do próprio viver, para estar com os filhos nesta caminhada. Se esses filhos são Pessoas de Alta Sensibilidade vocês são pessoas de alta generosidade.
E quanto ao futuro...existe ou não? Enquanto existirem pessoas de alta generosidade existirá a luta pelo tal futuro. Mas neste momento enquanto observadora vejo que há muito trabalho a ser realizado.
Quem tem fé se apegue a Fé. Quem tem Deus no coração que também busque cada vez mais estar em comunhão com Ele.
O que a sociedade oferece aos pacientes psiquiátricos é muito pouco ou quase nada.
Quem sabe um dia conto uma história com maior esperança.
Vera Mattos
04 de agosto de 2013
16h:03m