Autismo: Uma dor desconhecida

Ao nascer, não é possível diagnosticar em uma criança manifestações de sintomas que possam constatar a presença do Autismo, que é um transtorno onde se caracteriza pelo padrão de comportamento repetitivo, contido em si mesmo, dificuldades para se comunicar , incapacidade de interagir socialmente com qualquer pessoa.

Por volta dos 2 anos de idade é que começam a surgir os sintomas aparentes de que algum tipo de dificuldade no desenvolvimento emocional, cognitivo, sensorial e intelectual não estão sendo processados de maneira habitual, só então se torna mais evidente a observação do comportamento para um possível diagnóstico.

Os transtornos podem variar de intensidade leve, onde não há comprometimento da fala ou da inteligência, como na Síndrome de Asperge, até atingir formas graves onde o portador pode apresentar quadro de retardo mental, comportamento agressivo e incapacidade de qualquer contato interpessoal.

A criança até então ficaria perdida em seu mundo, sem poder ou saber como manter contato com o lado exterior. Está presa a um corpo e não sabe como controla-lo. Era preciso uma ponte para esse contato, que só agora começa a ser construída.

Recentes estudos estão alicerçando possibilidades de que a pessoa autista não só sabe se comunicar, mas sabe quem é e o que sente, precisa apenas de alguém que consiga ouvi-la , entendê-la e consequentemente poder ensiná-la a resolver o que está passando em seu interior, pois a luta é com seu cérebro que, através de bloqueios, impede e trava a realização do que se deseja fazer.

Por exemplo, quando vemos um autismo debatendo seus braços fortemente ou com movimentos semelhante a espasmos era considerado apenas um sintoma peculiar da doença, porém agora sabemos que esses movimentos são dolorosos. São movimentos exagerados para conter a dor de um formigamento intenso nos braços, como se estivessem pegando fogo; quer se livrar desse incomodo, mas não sabe se comunicar oralmente para isso, então agita fortemente os braços na tentativa de resolver o problema.

Outra característica comum do portador de autismo é tapar os olhos e os ouvidos, permanecendo assim por um longo tempo e não tínhamos um padrão de explicação com segurança para essa atitude. Agora, as pesquisas mostram que esse comportamento seria para impedir o excesso de informações sensoriais vindas do exterior que estão chegando até elas, sendo que não querem ou não podem processar todas essas informações.

O funcionamento do cérebro no autista é diferente, ou seja, ele não suporta sobrecarga de sons, cores, luzes, imagens, cheiros e até de muitas pessoas conversando . O tapar os ouvidos, gritar ou chorar repentinamente , fazer movimentos repetitivos, ter acesso de raiva e até convulsões são maneiras de bloquear esses estímulos que incomodam devido a forte sensibilidade que sentem.

Um outro sintoma que verificamos é de que o autista não consegue fixar os olhos em uma pessoa quando alguém fala com ele, isso porque para ele, esse fixar o olhar seria como que tirasse milhares de fotos simultaneamente com os olhos numa fração de segundos. Todo esse excesso de informação causa uma sobrecarrega em seu cérebro que não consegue suportar, então desvia o olhar.

Outro comportamento comum é o de alteração no humor ou chorar sem motivo aparente. Pode ser considerado algumas vezes como efeitos colaterais a medicamentos usados pela criança e como ela não sabe expressar o que sente, isso causa essas atitudes como manifestação de mal-estar e que, até então, eram consideradas como sendo normal à doença.

Deve-se considerar também que muitas vezes as reações da criança a fatos ocorridos podem ser retardatários, ou seja ela pode chorar por um fato que aconteceu há algum tempo e que na hora ela nem manifestou nenhuma reação, porém passado um certo tempo, conseguiu processar aquele fato e só agora foi capaz de chorar e, portanto, pode até ser em um momento inadequado e sem compreensão para os que estão à sua volta.

Algumas crianças babam e cospem muito. Achava-se até então que era uma atitude agressiva da criança, porém agora em pesquisas realizadas pode-se entender que pelo motivo da criança autista não falar, a musculatura da boca torna-se bem flácida, impedindo-as de engolir a saliva e, o cuspir ou babar é a maneira utilizada pra eliminar essa saliva que as incomodam, causando-lhes desconforto.

Sabemos agora que ao exercitar os músculos da boca com alimentos que precisem fazer mais força para degluti-los ajudará a fortalecer esses músculos e evitar o acúmulo de saliva como também facilitarão no treino de exercícios fonéticos, incentivando a elaboração de alguns fonemas.

Quanto aos movimentos repetitivos que um autista faz, como o balançar a cabeça de maneira ritmada, principalmente quando alguém esta falando com ele considerava-se como falta de interesse, que não estava prestando atenção e nem ouvindo o que era dito a ele. Agora, são entendidos como uma forma diferenciada de manifestação. É uma reação semelhante a que muitos de nós temos quando estamos em uma sala de aula como: ficar enrolando o cabelo no dedo enquanto a professora ensina ou quando você fica rabiscando algo quando está falando ao telefone.

Todos esses relatos conseguidos em pesquisa, alargam as fronteiras do que até então era desconhecido e proporcionam a nós, profissionais da área de comportamento, uma visão agora com mais esperança de que poderemos ultrapassar esse caminho desconhecido e atravessar a ponte para o contato direto com essas pessoas que queriam se comunicar e não conseguiam visualizar o outro lado. Agora uma pequenina luz já começa a iluminar nosso entendimento para que possamos compreendê-los e orientá-los a trilhar um caminho não tão árduo.