A questão da vinda dos médicos cubanos para o Brasil
Por Carlos Sena


A respeito da coluna de LUIZ NASSIF ON LINE
 
O artigo de Pedro Saraiva na coluna de LUIZ NASSIF é lúcido e vem a bom tempo explicar o que muitos precisam compreender. No fundo o artigo corta na carne as vaidades: dos médicos que não querem sair da capital, mesmo tendo sido formados com o dinheiro público pois a maioria se forma nas universidades do governo; dos governos que nunca ligaram para as populações pobres que não tem acesso a médicos; das próprias instituições formadoras que viraram "caça-níqueis" não só em medicina mas em todos os níveis do conhecimento. Além da vaidade, erros: do ministério da educação que autorizou no passado a proliferação de faculdades de medicina indiscriminadamente; do ministério da saúde que, diferente de agora, nunca bateu de frente com esta questão que agora enfrenta e sofre com a pressão dos conselhos e assemelhados; dos conselhos que, no geral, sempre estiveram ao lado dos médicos e nunca da medicina e, desta maneira, sempre se postaram em defesa dos profissionais e não das famílias que sofrem sem médicos no interior do Brasil; dos estados que nunca se uniram para fazer frente aos órgãos de classe e, assim, romperem com o falso moralismo que não permite trazer médicos de fora, especialmente de Cuba para cá. Como vemos, uma série de ERROS se apresenta como indutor desta situação que nos encontramos, ou seja, de vermos os pobres morrendo de diarreia, de verminose e outras doenças causadas pela pobreza e pela ignorância e, acima de tudo pela falta de médicos. 
O caso dos médicos de Cuba e o Provab têm sido as duas grandes bandeiras do atual ministério da Saúde. Ou seja, cuida-se de redimir o déficit de médicos do Brasil em duas frentes: a de dentro e a de fora. A de dentro via PROVAB e a de fora via MÉDICOS ESTRANGEIROS (dentro deles os de Cuba), bem como o estímulo a novas faculdades de medicina no interior... Com isso se tenta quebrar as "caixas pretas" de boa parte dos médicos que se escondem nelas para melhor ganhar dinheiro; também as "caixas pretas" dos órgãos que cuidam das residências médicas e dos conselhos próprios de medicina. Dito diferente: tudo que sempre manteve médicos e a medicina no porão dos mistérios tal qual, digamos assim, a eleição de um papa, agora precisa ser escancarado para o bem da saúde da população. Afinal, se um dia os médicos foram meio deuses por conta do modelo de sociedade vigente, agora não há motivos para isso. Porque o mundo mudou, a ciência nos deu condições de avaliar melhor o trabalho dos médicos e de todos os profissionais e isto nos dá condições de compreender que médico não é mercadoria nem moeda de troca como alguns querem nos fazer engolir. Médico é um profissional importantíssimo, desde que suas funções de salvar vidas não sejam negociadas em balcão de feira, nem em mesa de prefeito ou de governador. Muito menos em conselhos de classe que se distanciam dos seus objetivos para se aliar aos seus pares... (Vale a pena lembrar que não se podem culpar só os médicos, pois as políticas públicas dos governos passados foram de alguma maneira, responsável pelo atual modelo que forma médicos para Ricos e para viverem nas Capitais como se fossem profissionais de primeira categoria e os demais de segunda.)
O Brasil precisa fazer o divisor dessa "água" que já passa por debaixo da ponte há anos. "Água" que não lava mais nossos brios e que, nem mesmo benta, salva a alma das nossas populações que morrem de diarreia, de febre, de verminoses e, acima de tudo, de inanição... Principalmente a fome de justiça é a que se tenta fazer com essa luta para "dobrar" os mercenários que dominam a nossa medicina e os "filhinhos de papai" que, formados em escolas públicas de medicina se recusam a trabalhar no interior do Brasil. Esquecem eles que foram formados com o dinheiro dos nossos impostos - mesmos os que pagaram suas faculdades. Porque hoje em dia as faculdades pagas, no geral, vivem penduradas nos programas do governo que lhes paga muito bem por alunos que lá estudam via programas públicos.
Assim, o Brasil espera para que, enquanto novas faculdades de medicina se instalem no interior do país, médicos de Cuba e de outros países venham. Com certeza serão recebidos com banda de música e tapete vermelho. Porque já não temos mais como suportar médicos que só querem viver em consultórios luxuosos atendendo madames e fazendo cirurgia plástica e colocando Botox e tudo mais. Pior: todos ou grande maioria deles foi formado com o dinheiro público. Pior: no geral são péssimos médicos! Sabemos que não podemos discriminar os "especialistas" em medicina que estão por aí lotando as nossas capitais e ganhando muito dinheiro, pois o nosso país é capitalista. Mas, o que não sabemos é se esses médicos super especialistas o são com o nosso dinheiro - o dinheiro público que deveria ser convertido para o  benefício da saúde pública, não para a formação de super especialistas. 
Neste final longo de comentário, vale o pena dizer que há médicos sérios e comprometidos neste país que precisam ser mais reconhecidos, inclusive financeiramente, pelos governos. Porque são esses que mantiveram o SUS funcionando, mesmo com todas as suas firulas. Portanto, reconhecer o trabalho dos abnegados não é dever é obrigação, porque são esses que estão lá no interior do país que fazem das "tripas coração", literalmente, para que muitos não morram, principalmente via PSF - Programas de Saúde da Família.

Carlos Sena

O Ministério da Saúde está em processo de estudos acerca das formas legais e de competência técnico-científicas dos profissionais médicos que deseja trazer para o interior do Brasil. Todo esse "bafafá" é porque há interesses contrariados, menos os da ppopuloação carente das nossas cidades do interior e regiões metropolitanas.