Troca-troca de órgãos.
Por Carlos Sena
A modernidade, como tudo na vida, tem seus lados ruins, como por exemplo, a deterioração da natureza, dentre outros. No conjunto dessa modernidade, a qualidade de vida é uma resposta positiva dos novos tempos. Tempos em que a ciência nos trouxe avanços na medicina e nos permite hoje uma sobrevida maior do que no passado. Viver oitenta anos já não é mais nenhuma coisa digna de recordes. Uma pessoa com sessenta anos não é mais vista como “velha e rabugenta” como no passado – pelo contrário – no geral são pessoas ativas que trabalham, estudam, namoram e fazem tudo que todos fazem dentro das suas reais possibilidades. Certamente isso nos foi dado pela evolução da ciência que nos proporcionou os avanços da medicina e de outras áreas do conhecimento. Nesse contexto, a revolução sexual veio a tiracolo rompendo com velhos paradigmas como o da virgindade, do próprio casamento como maneira de formar famílias. Trouxe, consigo, alguns engasgos afetivos como o dos que não casam, mas apenas ficam. A despeito disso, temos que entender como um apêndice que não tumultua as verdadeiras relações de amor e de afeto. Porque todos tem que viver o seu tempo e hoje o tempo está assim mesmo meio confuso em suas bases morais.
Voltando ao campo da medicina em sua evolução, os transplantes são, no nosso entendimento, a grande virada do milênio – isso movido pela questão do genoma e seu mapeamento. Nesse contexto além dos transplantes temos as células tronco – capazes de, por exemplo, recuperar partes do corpo através das combinações celulares do DNA das pessoas. Nesse viés, a gente fica até temeroso do que nos poderá acontecer no futuro: além de tráfico de órgãos como já acontece atualmente, um mercado de outras combinações como enxertos, transplantes, células tronco fabricando órgãos para venda no grande mercado humano. Imagino que seremos nós, no futuro, como os automóveis de hoje. Quando vamos comprar um carro zero quilômetro, a gente escolhe os opcionais. Deste modo, um carro “pelado” custa mais barato do que um carro completo. Então poderemos ser, guardadas as devidas proporções, algo imitando os carros: uma pessoas poderá, amanhã, comprar “olhos verdes”, recuperar via células tronco os rins deteriorados pelo álcool, ou mesmo o “bilau” que já não dê conta das obrigações matrimoniais poderá ser recuperado. Fico pensando no lado cômico que seria uma pessoa negra ter um braço branco, por exemplo, implantado em si. Ou mesmo uma pessoa preconceituosa com a cor negra receber as córneas de uma pessoa negra e daí por diante. Guardadas as devidas correlações, morrer certamente vai dar mais trabalho. Então eu invoco uma canção de Caetano (Sem lenço e sem documento) em que ele diz que vai morrer de “de susto, de bala ou de vício”... É como mais ou menos me divirto imaginando essas situações meio surreais mas, com amplas possibilidades de acontecer. Porque num acidente de moto, por exemplo, dificilmente alguém morreria. Logo a parte danificada pelo acidente seria substituída por outra própria, via células tronco ou mesmo implantadas de outra pessoa. Para isso, acionaria o “banco” de órgãos e tudo certo... Mas um dia, uma bala perdida poderia se achar no coração de alguém e então: morte certa! Ou um infarto violento e morte certa. Ou mesmo um coma alcoólico e morte certa. Pimba! Morte certa e tudo certo, ou errado? Porque em breve, certamente, mesmo quem morrer de susto, de bala ou de vício nem disso morrerá. Mas, certamente, alguns brasileiros morrerão e não irão querer “envivecer” porque viver num país com tantos ladrões e com tanta violência e com tanta impunidade não valerá, certamente, a pena de ficar vivo depois de ter morrido...
Por Carlos Sena
A modernidade, como tudo na vida, tem seus lados ruins, como por exemplo, a deterioração da natureza, dentre outros. No conjunto dessa modernidade, a qualidade de vida é uma resposta positiva dos novos tempos. Tempos em que a ciência nos trouxe avanços na medicina e nos permite hoje uma sobrevida maior do que no passado. Viver oitenta anos já não é mais nenhuma coisa digna de recordes. Uma pessoa com sessenta anos não é mais vista como “velha e rabugenta” como no passado – pelo contrário – no geral são pessoas ativas que trabalham, estudam, namoram e fazem tudo que todos fazem dentro das suas reais possibilidades. Certamente isso nos foi dado pela evolução da ciência que nos proporcionou os avanços da medicina e de outras áreas do conhecimento. Nesse contexto, a revolução sexual veio a tiracolo rompendo com velhos paradigmas como o da virgindade, do próprio casamento como maneira de formar famílias. Trouxe, consigo, alguns engasgos afetivos como o dos que não casam, mas apenas ficam. A despeito disso, temos que entender como um apêndice que não tumultua as verdadeiras relações de amor e de afeto. Porque todos tem que viver o seu tempo e hoje o tempo está assim mesmo meio confuso em suas bases morais.
Voltando ao campo da medicina em sua evolução, os transplantes são, no nosso entendimento, a grande virada do milênio – isso movido pela questão do genoma e seu mapeamento. Nesse contexto além dos transplantes temos as células tronco – capazes de, por exemplo, recuperar partes do corpo através das combinações celulares do DNA das pessoas. Nesse viés, a gente fica até temeroso do que nos poderá acontecer no futuro: além de tráfico de órgãos como já acontece atualmente, um mercado de outras combinações como enxertos, transplantes, células tronco fabricando órgãos para venda no grande mercado humano. Imagino que seremos nós, no futuro, como os automóveis de hoje. Quando vamos comprar um carro zero quilômetro, a gente escolhe os opcionais. Deste modo, um carro “pelado” custa mais barato do que um carro completo. Então poderemos ser, guardadas as devidas proporções, algo imitando os carros: uma pessoas poderá, amanhã, comprar “olhos verdes”, recuperar via células tronco os rins deteriorados pelo álcool, ou mesmo o “bilau” que já não dê conta das obrigações matrimoniais poderá ser recuperado. Fico pensando no lado cômico que seria uma pessoa negra ter um braço branco, por exemplo, implantado em si. Ou mesmo uma pessoa preconceituosa com a cor negra receber as córneas de uma pessoa negra e daí por diante. Guardadas as devidas correlações, morrer certamente vai dar mais trabalho. Então eu invoco uma canção de Caetano (Sem lenço e sem documento) em que ele diz que vai morrer de “de susto, de bala ou de vício”... É como mais ou menos me divirto imaginando essas situações meio surreais mas, com amplas possibilidades de acontecer. Porque num acidente de moto, por exemplo, dificilmente alguém morreria. Logo a parte danificada pelo acidente seria substituída por outra própria, via células tronco ou mesmo implantadas de outra pessoa. Para isso, acionaria o “banco” de órgãos e tudo certo... Mas um dia, uma bala perdida poderia se achar no coração de alguém e então: morte certa! Ou um infarto violento e morte certa. Ou mesmo um coma alcoólico e morte certa. Pimba! Morte certa e tudo certo, ou errado? Porque em breve, certamente, mesmo quem morrer de susto, de bala ou de vício nem disso morrerá. Mas, certamente, alguns brasileiros morrerão e não irão querer “envivecer” porque viver num país com tantos ladrões e com tanta violência e com tanta impunidade não valerá, certamente, a pena de ficar vivo depois de ter morrido...