Saúde Pública
Dentre todas as funções desempenhadas pelo Estado, uma das quais a população mais anseia e se importa é quanto à Saúde Pública. No entanto, essa é uma das áreas mais problemáticas nas quais um governo pode intrometer-se. Esse serviço apresenta diversas variáveis que vão desde operações caras até comportamentos individuais nocivos que criam diversos empecilhos para uma ação efetiva.
Na nossa sociedade contemporânea, há muitos defensores da saúde estatal, defendendo gastos gigantescos e prioridade para esse papel do governo. Contudo, muitos desses “militantes” se esquecem de uma série de problemas que devem ser respondidos sobre a atuação desse setor.
O principal problema do poder estatal, ao menos para liberais um pouco mais abertos a algumas concessões, como eu, não é sua atuação original, mas sim sua expansão. Inicialmente, a saúde pública buscava atender aos problemas mais primitivos e facilmente resolvíveis das pessoas: vacinas, tratamentos de emergência e operações de baixos custos. No entanto, com o passar do tempo, e o consequente costume da população com o novo serviço “gratuito” – agora visto como um direito -, mais é demandado, e na tentativa de atender a esses anseios do povo, muitos erros são feitos.
Essa crença de que a saúde é um direito inalienável, – garantida por constituições, tratados, acordos e regulamentações internacionais – e não um bem, faz com que haja a necessidade de pagar-se tratamentos caros, como forma de agradar a população e, consequentemente, angariar votos. Entretanto, isso não é suficiente. Isso porque em uma sociedade em que as pessoas, em geral, tão pouco se importam com sua própria saúde – um pouco hipócrita, não? –, comendo alimentos com muita gordura saturada, muito carboidrato simples, acumulando gordura corporal, não se importando com todos os micronutrientes necessários ao corpo e sendo sedentários, cria-se a necessidade de outra ação para que a inalienável saúde pública funcione: controlar hábitos de consumo e de comportamento.
Nesse momento há a grande contradição. Se o governo opta por oferecer um serviço preventivo, muitos dos pagadores de impostos que necessitarem desse para algo caro, já após terem contraído alguma doença grave, se revoltarão, acreditando nos direitos inalienáveis. Todavia, se o Estado pagar o tratamento dessas pessoas, além de ter que aumentar os impostos – ou diminuir investimentos em outras áreas – estará recompensando atividades ruins, contraproducentes, dando incentivo à irresponsabilidade. Isso porque a incidência de doenças é maior em pessoas que não se preocupam com saúde.
Nesse dilema, muitos burocratas acreditam ter a solução: mudar consumo e hábitos. Alguns deles são ingênuos, acreditando que a educação pode mudar toda essa “cultura”. Entretanto, os humanos são seres complexos, com desejos e vontades próprias, cheios de vida e diferentes, são indivíduos, logo, em cada qual, peculiaridades. Não é porque você pensa que algo é melhor para alguém, que isso será verdade. Para diferentes objetivos, existem diferentes estratégias. Para alguém que queira apenas aproveitar a vida e não se importa em morrer 5 ou 10 anos antes, esses maus hábitos não são assim tão importantes. Dito isso, não é uma palestra ou aulas que mudarão esses costumes, a maioria das pessoas já sabe dos benefícios de comer-se bem e tomar cuidados em cada ação cotidiana, educar seria apenas para falar novamente o que todos já sabem.
Outros burocratas, contudo, são mais radicais. Defendem leis que regulem indústrias, bares, restaurantes, tentando de diversas formas incentivar ou até obrigar as pessoas a praticarem esportes e comerem de forma saudável. Todavia, essa solução é mais um problema do que, de fato, uma solução. Além de ignorar a complexidade do ser humano, e sua inerente individualidade, tentando padronizar a todos, reduzindo a liberdade desfrutada pelas pessoas – além de tudo isso, como se não fosse bastante -, esses reguladores mostram ignorância.
Essa falta de inteligência desses burocratas deve-se a uma tentativa desesperada e frustrada de negar a realidade. Isso porque eles não entendem – ou fingem não entender – que se não for vontade da pessoa preocupar-se com a saúde, ela não se preocupará, façam eles o que façam. Além disso, ignoram também o mercado negro que é formado toda vez que se proíbe algo. Proíbe-se álcool? Haverá mercado negro. Proíbem-se armas? Haverá mercado negro. Proíbe-se Trakinas? Haverá mercado negro. É inevitável. Lutar contra isso é lutar contra a realidade, contra o próprio comportamento humano.
O problema da saúde pública, no Brasil e no mundo, está longe de ser resolvido com uma canetada. É um problema sério e complexo, cheios de variáveis. Não é “só” falta de verbas, educação, bons hábitos, gestão eficiente dos recursos, ou o que for – embora, é claro, melhoraria um pouco a situação se esse cenário utópico existisse. É, também, algo estrutural, uma falha no modo como esse sistema coletivista e igualitarista opera. Logo, para resolvê-lo, é preciso mais que apenas uma ou outra pequena mudança.
http://umolharlibertario.blogspot.com.br/2013/05/saude-publica.html