IMPORTAÇÃO DE MÉDICOS CUBANOS: REAIS OBJETIVOS
Hoje, ao abrir alguns sites na internet, me deparei com a notícia: “Brasil trará 6.000 médicos cubanos para atender moradores de áreas carentes”. Seria essa ação uma tentativa de realmente minimizar o problema da carência de médicos em determinadas áreas do país, ou simplesmente um misto de demonstração pública da simpatia que guarda o governo do PT pela ditadura mantida, há mais de 50 anos, pelos irmãos Castro em Cuba, conjuntamente com o interesse de investir o mínimo possível para solucionar um grave problema social?
Eu sinceramente gostaria muito de acreditar que essa iniciativa visa, unicamente, sanar o problema da grave escassez de médicos para atender a população em algumas áreas críticas do Brasil, como, por exemplo, a região norte. Porém, algo me diz que essa medida tem outros objetivos, talvez muito mais amplos.
Não é novidade que o PT, há 10 anos no comando do executivo nacional, tenta manter uma relação de estreita amizade com o governo de Cuba, antes centrado na figura de Fidel, hoje tendo como “presidente” seu irmão Raul Castro. Graças a acordos mantidos entre os governos brasileiro e cubano desde 2002, a relação comercial entre os dois países tem apresentado grande crescimento. Para se ter uma ideia, em 2012 esse comércio bilateral superou R$1,3 bilhão. Para mim, uma demonstração clara do “mergulho de cabeça”, o qual vem realizando o governo cubano no sistema capitalista nos últimos anos, embora oficialmente afirme ser um estado comunista. Essa situação paradoxal tem gerado muitas discussões. A famosa blogueira cubana Yoani Sánchez, amplamente criticada pelos defensores do governo atual de Cuba, já chegou a afirmar: “Cuba não vive um comunismo, mas um capitalismo de estado.”.
No início desse ano, Yoani visitou o Brasil, e, em uma das entrevistas que concedeu, falou sobre a educação e a saúde de seu país, uns dos setores públicos vistos como de qualidade e resultado de um bem sucedido governo comunista. Entretanto, segundo ela, as informações que dão conta da eficiência desses sistemas, estão atrasadas em, no mínimo, 20 anos. “Nos anos 70 e 80, Cuba viveu o florescimento de toda a estrutura de saúde e educação. Foram construídas escolas e postos de saúde em toda parte graças aos subsídios soviéticos. [...] Hoje, quando um cubano vai a um hospital, leva um presente para o médico. É um acordo informal para que o atendam bem e rápido. Levam também desinfetante, agulha, algodão, linha para as suturas.”, afirmou a blogueira em entrevista à revista Veja. Essa descrição me leva a refletir sobre a declaração em tom totalmente diferente feita pelo ministro das relações exteriores, Antônio Patriota. Em pronunciamento ele afirmou: "Cuba tem uma proficiência grande na área de medicina, farmacêutica e de biotecnologia. O Brasil está examinando a possibilidade de acolher médicos por intermédio de conversas que envolvem a Organização Pan-Americana de Saúde, e está se pensando em algo em torno de seis mil ou pouco mais". Parece paradoxal, mas o país que, segundo informações de quem conhece de perto a realidade ilha (e não simplesmente se baseia em boatos oficiais veiculados por um governo ditatorial), tem um sistema de saúde altamente precário (no qual a população tem até mesmo de subornar para ter um atendimento de qualidade), é o mesmo que exportará médicos para o Brasil.
Não sei se minha desconfiança tem fundamento (Espero que não, que seja distante disso!), talvez soe até muito direitista, porém, no meu entendimento, essa justificativa de importar médicos cubanos para atuarem no Brasil, tem três objetivos fundamentais:
Primeiro seria adquirir uma mão-de-obra barata para sanar o problema, e ao mesmo tempo ser vantajoso financeiramente. Bem sabemos que os profissionais da saúde em Cuba são muito mal remunerados, quando comparados aos brasileiros. Médico lá é visto como qualquer outro profissional. Já no Brasil, a figura do médico é meio que idolatrada. Portanto, os salários desses profissionais que atuarão no Brasil seria muito abaixo do que comumente é pago a um médico brasileiro.
Em segundo lugar (ainda ligado ao primeiro objetivo citado), a proposta visa evitar um enorme gasto em políticas que seria necessário para resolver o problema a nível administrativo. Nesse caso, a solução passaria por desenvolver políticas públicas nas áreas de educação e trabalho, isto é, ampliar as vagas dos cursos de medicina nas regiões com baixo efetivo médico e ao mesmo tempo criar incentivos para fixação desses profissionais, após a conclusão de seus cursos. Como mesmo sustenta o Conselho Federal de Medicina, o problema da má assistência médica à população não está na falta de pessoal, mas sim em sua má distribuição. Enquanto um número muito grande desses profissionais se “amontoa” nas regiões sul e sudeste do país, regiões como norte e interior do nordeste sofrem com sua escassez generalizada.
Por fim, - talvez mais importante, já que o governo petista não raramente mostra-se disposto a estender a mão ao governo cubano - o objetivo seria contribuir com a diminuição dos índices de desemprego da classe médica na ilha que, inegavelmente, vive uma situação social precária, com um povo pobre e prisioneiro de um sistema econômico falido.
Para mim, a situação na qual se encontra a saúde pública brasileira não pode continuar. Porém me pergunto: qual o preço que estamos dispostos a pagar? O governo mantém uma forte política protecionista no âmbito econômico, em que não se admite a importação indiscriminada de produtos estrangeiros, sob a justificativa de manter forte o setor secundário de nosso país. Por outro lado, não hesita em importar, por conta própria, mão-obra para trabalhar com o mais importante produto que possuímos, o nosso povo. Se funcionar, temo que vire moda. Nada impede que daqui a pouco tenhamos também “hermanos”, bolivianos e outros ocupando vagas em vários setores públicos do Brasil. Basta haver uma necessidade comprovada, uma justificativa plausível e significativa vantagem financeira. Qualidade? Esse não é o ponto em questão.
Souza Rafael
Por favor comentem o artigo. Gostaria de reavaliar meu próprio posicionamento.