O que dizer numa hora dessas?

Repito a pergunta do título do texto que publiquei aqui quando da tragédia que vitimou 241 jovens na boate Kiss em Santa Maria e a respondo, agora, da seguinte maneira: um charqueadense que ainda nem nasceu não pode ser vítima fatal de uma possível falha no sistema público de saúde.
Estive pensando muito nos últimos dias sobre o fato envolvendo um casal charqueadense na primeira quinzena de março, que culminou na interrupção de uma gestação na 11ª semana e no manifesto convocado para ontem em frente à prefeitura. Eu estarei presente [NA - estou escrevendo na segunda-feira pela manhã], assim como fui à manifestação anterior realizada na Câmara de Vereadores, dia 19 de março.
Quero ver esse caso devidamente esclarecido, como cidadão e contribuinte, a fim de que nenhuma outra família de nossa cidade seja vítima de tal tragédia que, pelas informações públicas sobre a mesma até agora divulgadas pela imprensa local e pelas redes sociais, poderia ter sido evitada. Por isso estarei lá [NA - idem], exercendo minha cidadania sem prejulgar ou condenar antecipadamente ninguém.
Levando-se em conta que grande parte do acontecido se deu em Charqueadas, envolvendo moradores da cidade, fiquei surpreso de até agora o Executivo não ter se manifestado publicamente sobre o assunto, principalmente a Secretaria Municipal da Saúde. Na sessão do Legislativo do dia 19, ante a manifestação pública ali ocorrida, uma sindicância para averiguar o fato foi solicitada por proposição de três vereadores da bancada governista. Um pedido de nova Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a Saúde (ao final de 2012 uma CPI sobre o tema teve o seu relatório final aprovado na casa), feita por parlamentares de oposição, foi rejeitada. Todavia, todos os edis se manifestaram sobre essa pauta e vejo isso como um ganho para a sociedade. Assim como as manifestações populares convocadas.
Articuladas pelo pai da criança, familiares, amigos e outros apoiadores, dão uma demonstração mais de compromisso social do que de indignação, visto que, para eles, o prejuízo é irreversível. Mas pode evitar situações análogas para outros, futuramente.
O caminho para tal percebo, para além da sindicância e da mobilização popular, na CPI de 2012. Seu relatório deve ser divulgado pelo Legislativo e repercutido na imprensa e nas redes sociais a fim de que suas conclusões possam ser debatidas pela sociedade. Se esse caso não é episódico, e devemos trabalhar com essa hipótese, podemos encontrar naquela CPI indicativos sobre a origem e a natureza de tais problemas.
Estamos num tempo onde falhas e negligências na saúde pública acontecem em todo o Brasil. A calota do crânio de uma menina que foi perdida, uma perna de um idoso que foi amputada por engano, vaselina injetada na veia de numa criança e uma fileira interminável de tragédias são noticiadas frequentemente pela imprensa. Emergências como a do Hospital Conceição já foram até interditadas por serem consideradas “piores que as de um hospital de campanha de guerra”.
Os profissionais da área da saúde pública, sobrecarregados, têm de dar conta de uma grande demanda, na maioria das vezes, em condições precárias de recursos humanos e materiais. E esse é um problema da responsabilidade dos gestores. Já uma possível negligência, onde quer que ela seja devidamente apurada, é um caso tanto individual quanto de gestão, pois há de se considerar a condição do sistema que lhe favorece e o injustificável desleixo criminoso de um mau profissional.
Era tudo o que eu tinha a dizer numa hora dessas enquanto cidadão.


TEXTO PUBLICADO HOJE NA SEÇÃO DE OPINIÃO DO JORNAL PORTAL DE NOTÍCIAS.