O conto de Fada – Chapeuzinho Vermelho – visão psicanalítica.Lia Lúcia A. de Sá Leitão – 09/03/2013.
A atribuição de psique como personalidade é uma visão norte americana, o eu único entre os outros eus, a distinção deve ser feita através dos comportamentos, percepções, sentimentos e saberes construídos de cada um.
Os contos de fada aos olhos da psicanálise trazem à tona o que é essencial no caráter, como se fez a formação desse eu humanamente inconstante e o que é construído no decorrer da vida como máscara, a segunda pele, uma aparência creditada pelo inconsciente armazenando todos os instintos básicos do ser; as perversões incestuosas, os canibalismos, os homicidas, busca do desejo reprimido, todos os atos nefandos assim como a idéia de equidade, os conceitos de boa ventura respeito, tolerancia, paciência, confiança, verdade, equilírio, equidade, imparcialidade, enfim os vários sinônimos que possam definir os princípios éticos e morais.
Trabalhar os contos de fadas com as crianças causará grandes embates entre o real e o imaginário do era uma vez... as histórias do maravilhoso como são conhecido os contos de fadas pelo teor de criação com cunho ético ou moral atravessou séculos amadurecendo o imginário e desenvolvendo as imagens simbólicas tão caras ao homem. Os contos de fadas são os reflexos no espelho das criações simples criadas pela mente humana. As relações personagem idealizado e personagem real se assemelham nas atitudes observadas pelo criador, e assim, o conto de fada pode elucidar fatos no processo de vida que nós comuns mortais sem aprofundamento das percepções não entendemos o interesse dos estudos do cognitivismo sobre a alma e a psiqué.
O entendimento dos contos de fadas se dá pela constituição da dinâmica da mente humana segundo a psicanálise. O princípio do prazer está diretamente vinculado ao Id, desprovido de qualquer senso de ordem moral ou ético, o princípio da realidade que pode ser vinculado em alguns momentos ao princípio de realidade, conceitua os fatos em bom ou mau, e finalmente o princípio moral que pode ser relacionado ao Superego que limita as ações e aponta as consequencias dos fatos e ações praticados.
A fonte da energia original é ´Id, vinculado à libido direciona, motiva a satisfação das pulsões. O Id ao se satisfazer com as produções alucinatórias e não enfatiza a concretização do fato permite que a imaginação crie seu próprio objeto de desejo, seu próprio cenário, seus atores e coadjuvantes, a elaboração de um pano de fundo é a projeção imaginativa, para o Id o tempo subjetivo ou cronológico somado ao espaço histórico, ou seja o modismo não exercem nenhum valor na criação daquele universo narrativo. O Id é atemporal, isso quer dizer que todos os acontecimentos, fatos, ações e a criação de uma realidade paralela, espelhada e acontece no momento presente.
O universo em que foi criado um determinado conto de fada, onde o lugar é criado fora dos limites do conhecimento de um espaço geográfico real, a criação de um novo universo, uma grande tela com matizes coloridos construindo um pano de fundo que se completa a cada momento narrado e forma o imaginário da atemporarilidade do era uma vez promove a interção daquele que ouve com quem lê promovendo a idéia uníssona ao objetivo final de quem escreveu o conto de fadas e o seu objetivo final.
A utilização da livre produção do Id desde a libido, perversão, libertinagem, idolatria, ódio, amor, erotismo, paixões, expiações, enfim toda e qualquer promoção dos valores morais e éticos através da fertilidade da livre criação, da falta de censura promovida no Id .
O maravilhoso em qualquer situação da produção intelectual contribui para a construção, o entendimento e a formação cultural.
Os personagens nos contos de fadas dos mais clássicos aos mais modernos ou mesmo nas releituras poucos são os nomeados, as identidades identificam seus personagens pelas idades cronológicas.
As identidades desses atores se ligam às emoções e ao corpo físico e aos fatores econômicos, a formação do personagem em um ser constituído de uma realidade virtual, porém sem nome e registro de nascimento, espaço de vida e de morte.
As personalidades não se alteram em boas, fadas, estrelas, avós, mães, pais devotados, príncipes, heróis, animais honrados e amigáveis, ou más, como as bruxas, os espíritos demoníacos, ogros, piratas, vilões.
A criação virtual de um personagem de conto de fadas é sabiamente induzida pelo autor – narrador a invadir o emocional daquele que lê e assim, e o leitor empresta a sua personalidade para o personagem.
A leitura o conto de fadas é uma troca de emoções que acompanha o processo narrativo.
A literatura busca no Id a pouca censura para a criação das representações simbólicas da humanidade.
O inexplicável sentimento de amo e ódio desdobrado na escrita só acontece através da criação intermediada pelo Id. Enfim, a reprodução temática das narrativas maravilhosas e a construção imagética do ser humano pode reproduzir na integra o histórico de qualquer pessoa do mundo real.
A infância dos contos de fada possui uma similaridade aquela que lê, é a princípio segura e protegida, por cuidadores, depois vem os rompimentos dos laços afetivos e a dor, a maturidade da criança é vivenciada através da vivencia das experiências e do meio e os conflitos são delineados para uma resolução prática, objetiva oferecida na maioria das vezes pelo bem que prevalece o que elevará o ser na adultez a um ser compromissado, conselheiro, feliz, independente e senhor dos seus caminhos.
Chapeuzinho vermelho.
A avó de uma linda menina que morava na cidade fez uma capinha vermelha e deu a neta para proteger do frio no inverno.
Um dia a avó adoece e fica acamada, a filha preocupada, chama a capinha vermelha e manda na casa da avó com biscoitos, leite, e bolo, a menina sai cantarolando pelo caminho e sem dar conta do tempo encontra um lobo, e mantém um breve diálogo, e revela que vai até a casa da avó que mora sozinha para saber notícias de sua doença.
O lobo esperto e delicado despede-se e corre na frente, lá devora a velhinha e se veste com as roupas e se deita à cama à espera da menina.
Quando a menina chega o lobo pede para ela dividir os alimentos, e lanchar para depois deitar-se com ela debaixo das cobertas.
A menina assim o faz. Curiosamente a menina começa a perguntar sobre os atributos físicos da falsa avó, baços, pernas, pelos, olhos, orelhas e por fim a boca e os dentes e o lobo responde é para te comer melhor. E devora a menina também.
A história medieval trazida por Rita Khell.
A menina vai levar pão e leite para a avó doente, encontra-se com um lobo que pergunta se ela vai pelo caminho menos perigoso e distante ou o mais perigoso e perto, ela diz que vai pelo mais curto e perigoso, o lobo sagaz corre na frente pelo mais rápido e lá devora a vovozinha com requintes de crueldade, deita-se e espera a menina. Ao chegar a menina aceita a comida oferecida de imediato e ao convite de deitar-se nua junto da avó para se aquecer do frio. Estabelece um jogo de sedução sobre os atributos da falsa avó, pelos, ombros, boca e dentes, e é devorada pelo lobo.
As várias formas de narrativa de uma lenda traduz o imaginário popular e a confecção do maravilhoso através do Id, ou seja a primeira pulsão de vida, na qual a menina é induzida a alimentar-se, fortalecer e restauras os ânimos depois de uma caminhada exaustiva, estabelece o contato erótico entre o convite, o despir-se e o deitar-se com aquela voz, depois materialidade dos copos na cama e depois a morte da menina.
Os dois contos a princípio possuem uma identidade moral meninas não devem falar nem se envolver com pessoas desconhecidas e dar informações sobre os seus hábitos.
A segunda chapeuzinho, desprovida de qualquer impedimento do ego que aponta o bem e o mal, estabelece as fronteiras entre o que é livre e o limite, e muito mais distante do superego que dá a noção de certo e errado, virtude e pecado, livre arbítrio e punição. A menina enfrenta pela sedução e desejo de obstruir o legal e se joga na cena sem o menor receio ou escrupulo de preservação e encontra a morte.
É possível perceber em ambas as histórias e em outras tantas da narrativa maravilhosa sobre Chapeuzinho vermelho ou Capinha vermelha que a criança ainda mantém características edipianas inconscientemente, o apego e o cuidado, o carinho pela avó, mas a desobediência e o afrontamento com a mãe ao desobedecer a ordem da segurança e bem estar.
A sedução do diálogo com o lobo (mau) e afeita à qualquer sedução desde que contrariasse a sua chegada na casa da avó por ordem da mãe. A capinha vermelha indica o risco da violência ou mesmo o poder da sedução.
A linguagem fálica aponta que chapeuzinho ou capinha vermelha é associado ao prepúcio masculino que levará ao lobo aquele que estabelece o poder pela coerção, força instinto irracional dos animais, pulsão de morte; thanatos.
O lobo na explosão da força e virilidade também pode representar o desejo pelo pai, apontando o desjo edipiano da filha pelo pai e para alcançar seus objetivos libidinosos pela atração da paixão paterna a menina desobedece a mãe e a avó, aqual ela se desliga totalmente ao ponto de desconhecer as suas características pessoais para deixar-se iludir pelo lobo. Mas ao mesmo tempo que há o jogo da sedução libidinosa e erótica como no segundo texto, há também a punição da licenciosidade pela morte através do lobo, o susto que o pai faz parte do mundo e que também tem seu lado castrador.
Assim sendo, terceira história pode ser narrada om um Inal menos dramático. Chapeuzinho Vermelho foi comida pelo lobo mau, mas uns caçadores ali perto ouviram os gritos de pavor e correram ao local, viram o lobo mau e atiraram no bicho, abriram a barriga do animal e retiraram a vovozinha e chapeuzinho vermelho com vida.
Esse desfecho final de uma das narrações mais moderna dessa historinha proporciona o amadurecimento de chapeuzinho vermelho diante da própria existência, aceitando a transição da sexualidade, sabia que era o sexo como genitália mas não entendia o prazer erótico pelo prazer, assim sendo a desobediência pó processo edipiano é a busca do conhecer e investigar aquilo que ainda é desconhecido ou proibido.
Segundo a narrativa brasileira, o lobo guará é bonzinho, mas anhangá o espírito do mal é quem promove o lado cruel da narrativa, o pai de chapeuzinho vermelho não aparece em nenhuma das narrativas, mas nessa versão brasileira ele é um traficante de animais. Portanto o desvio permanece edipiano devido o caráter do pai ao infringir leis influenciado pelo desejo de morte ou de negação que foi atribuido na infância pelo seu principal concorrente natural o pai.
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos conos de fada. 2 ed., Rio de janieo. Paz e Terra, 1979.
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