Dependência química- Onde tudo começa?
Ninguém acorda certo dia e decide ser dependente químico. Existem fatores que estão incorporados em nossa vida desde nossa infância e, em alguns casos, vem como herança familiar e, assim, problemas de ordem emocional são o gatilho para que tudo possa ser despertado.
Não creio que possa ser apenas o fato de ter um amigo que faz uso de drogas ou ter um pai alcoólatra que poderá fazer com que alguém seja um dependente. Penso que, quando as pessoas são atraídas umas pelas outras, existe algo maior por trás dessa amizade, como por exemplo vivências parecidas, dificuldades compartilhadas e até carências identificadas - o que é muito comum, mas que muitas pessoas não querem assumir essas carências por acharem que apenas perdedores são carentes- e se associam a esses grupos onde fica mais fácil ser compreendido sem que seja preciso se expor ou relatar seus problemas e é só fazer uso do entorpecente que será aceito e todos os problemas, aparentemente, se resolvem.
Só que as substâncias dos entorpecentes são sempre bem mais fortes que a dificuldade que a pessoa quer esconder, sem contar os casos onde algumas pessoas, na maioria jovens, começam a fazer uso da droga achando que é por pura diversão - e não é. São pessoas que também são fracas emocionalmente e não importa o nível social: podendo ser artistas, doutores , empresários e até professores, a meu ver não fogem à qualificação de pessoas que "enganam a si mesmas" dizendo que tudo está sob controle, que fazem uso por prazer.
O usuário leve, que descobre a tempo que esse mundo pode ser sem volta, poderá conseguir, se tiver maturidade, sair dessa roda antes de se tornar dependente, mas para isso é preciso além de maturidade ter discernimento do que esse processo acarretaria em sua vida e ter também valores concretos como meta de vida e, nesse caso, poderá ter a sorte de ter sido apenas uma experiência, uma curiosidade de saber o que sente, mas não deixa de ser um risco, porque fatores emocionais podem estar intrínsecos e uma simples curiosidade pode despertar um problema que poderia ser resolvido com uma boa terapia.
A droga e a bebida quando entram como parte efetiva de uma vida - e aqui considero efetivo como sendo alguma coisa que você não pode ficar sem, e não importa que seja todos os dias ou 3 vezes na semana ou apenas quando está na roda de amigos- se você não consegue dizer "não" ela domina sua vida e é preciso ter consciência disso definitivamente e antes que a dependência aumente, procurar ajuda é inevitável ou aceitar quando alguém próximo a você e que tem consideração por você faz o alerta para a situação e para a internação.
As clínicas de reabilitação, na sua maioria, estão aptas a roporcionarem um atendimento adequado e com profissionais capacitados para esse convívio. O tratamento para adictos consiste com o passo inicial que é a desintoxicação e temos aqui a parte mais delicada, pois a falta do entorpecente irá proporcionar atitudes agressivas e de intolerância no paciente e o uso de medicamentos será necessário junto com o envolvimento eficiente dos profissionais que atuam na clínica e do carinho e a presença dos familiares.
Esses profissionais precisam além do conhecimento técnico que é fundamental, gostar das pessoas, da maneira como elas se apresentam no momento. Saber que precisam de ajuda, que não são apenas mais um paciente, mas que possuem carências afetivas, dificuldades nos relacionamentos - muitas vezes até de aceitação na sociedade e na família- e mais, saber que possuem sonhos, que todos ali tinham uma expectativa de vida, que quando crianças queriam ser alguém, que tinham talentos, que sabiam brincar, que conseguiam ter brilho nos olhos e que tudo isso foi perdido...e qual o motivo? Essa é nossa função como profissional, devemos ver além e não olhar com desprezo ou com superioridade, mas saber que cada paciente tem uma história e se ela foi perdida podemos ajudá-lo a recuperá-la. Será uma caminhada difícil, mas juntos poderemos conseguir.