A alegria do cotidiano
Chega a ser desconcertante para o bem da nossa vida a impressão da passagem tão rápida dos dias e dos acontecimentos. Quando damos por nós, após a comemoração de um novo ano, sem que tenhamos percebido, ele já está no segundo semestre, encaminhando-se para o seu fim e assim segue a vida, célere como um raio. Mais do que uma impressão, isto é uma realidade, embora continue o dia com as mesmas vinte e quatro horas e o ano com os mesmos 365 dias de sempre. Na medida em que acumulamos atividades em cima de atividades, preocupados em solucionar problemas, melhorar a situação financeira, enfim ganhar mais dinheiro para um padrão de vida melhor, a própria vida em si deixa de ser vivida. Sendo o dinheiro o símbolo da matéria ele acaba se tornando prioridade em tudo que se relaciona a viver.
Não deveria ser desse jeito, mas é assim mesmo que acontece. É só andarmos nas ruas, ouvirmos o teor da maioria das conversas e o ponto focal de quase todos os problemas que nos envolvem; eles acabam recaindo sobre essa temática fundamental: é preciso ganhar mais dinheiro. Não somos nós que determinamos a casa em que devemos morar, o produto mais indicado as nossas necessidades, de saúde, higiene, alimentação, vestimenta, recreação e tantas outras; é a sociedade capitalista. Ela oprime, coloca-nos contra a parede, de frente para o pelotão da máquina comercial como vítimas dessa engenharia dinâmica e produtiva. É benéfico o crescimento econômico quando ele congrega, quando une as sociedades e impulsiona a saúde, o bem estar e, principalmente, a tranquilidades das pessoas; mas não é o que temos testemunhado.
É preciso um esforço concentrado e ao mesmo tempo natural e espontâneo para se viver, tendo o dinheiro, não como prioridade, mas como o auxílio para uma vida feliz. Perder a paz, a tranquilidade para igualar o padrão de vida aos mais afortunados que nós não seria a maneira correta de se encarar a existência. Cada minuto que transcorre diante dos nossos olhos é preciosíssimo para a nossa felicidade. Se conseguirmos, com eficácia, absorver desses minutos, que voam feito flecha, o suprassumo do bem estar e da paz de espírito, a quantidade de dinheiro que temos na conta bancária é o que menos vai importar. É essa tranquilidade, essa despreocupação com o ganhar mais dinheiro que irá, pela ação dos efeitos contrários e da ironia do destino, atrair para nós o padrão de vida mais consoante com a nossa missão sem que precisemos forçar as coisas.
Sentimentos como frustração por não estar exercendo a profissão que gostaria ou o cargo do outro colega; de não poder frequentar os lugares que os ‘privilegiados’ estão frequentando ou as novidades que o conceito mercadológico lhes incutiu só servem para anular, da vida, o seu verdadeiro sabor. Tudo vem na medida certa no tempo certo. Não é se entristecendo nem pela ansiedade que se atrai a boa sorte; pelo contrário. É a paciência, a alegria de viver o dia a dia e a convicção de estar trabalhando no projeto delineado, ou seja, a ação descontraída e confiante que vai determinar a felicidade de uma pessoa. Saber buscar a felicidade onde ela se encontra. Isto é, no cotidiano alegre. No relacionamento trivial. Nas palavras de ânimo e confiança. Enfim, no compartilhar do dom maravilhoso da vida. Para que cada minuto passe como deve passar. Saboroso como um café matinal. E esperançoso como o pulsar. Da vida de Deus.