ANGÚSTIA E ESOFAGITE

Angústia é um sentimento humano, um sinal de alerta de que algo não vai bem. Não ficamos angustiados sem que exista uma boa razão para isso. Parece que existe uma mão que aperta o abdome superior perto do coração. Relaciona-se com o plexo solar.

O plexo solar é um agrupamento autônomo de células nervosas localizado atrás da região mais inferior do esterno, osso anterior do tórax que se liga às costelas. Além de sua importância neurológica este plexo é considerado de forma muito especial pelo hinduísmo. Segundo a religião mais praticada na Índia é o ponto de energia, ou manipura. Estaria relacionado com a vontade e o poder. É considerado o chacra das emoções inferiores, ligadas ao ego. O plexo solar é a sede física da angústia.

Em geral, angústia e ansiedade são consideradas exatamente a mesma coisa. Para mim, no entanto, acho que a angústia demonstra mais um quadro agudo e intenso, enquanto que ansiedade seria mais contínua e crônica, quase como um estilo de ser.

Schopenhauer achava que a ansiedade é a regra, pois, para ele “viver é necessariamente sofrer”. Nietzsche acompanha esse pensamento achando que o sofrimento e a tragicidade são apanágios da existência humana. Jean-Paul Sartre, filósofo francês contemporâneo, representante maior da corrente existencialista, defendeu que a angústia surge no exato momento em que o homem percebe a sua condenação irrevogável à liberdade, isto é, o homem está condenado a ser livre. Kierkegaard pensa de maneira semelhante. Já Freud considera que há uma luta eterna do id com o superego, resultando um ego relutante e ansioso.

Angústia e ansiedade podem gerar problemas somáticos por interferência nos nervos controladores da harmonia das funções vitais.

Dito isso, vamos para o lado clínico desse tema. A esofagite que se concentra mais na parte inferior do esôfago dá um sintoma muito semelhante à angústia ou ansiedade. Uma sensação de forte opressão na chamada “boca do estômago” que é a junção do esôfago com o estômago. Dores e azia completam o quadro sintomatológico.

A causa mais comum de esofagite é a hérnia de hiato, que nada mais é que a entrada da parte superior do estômago no tórax, vencendo a barreira do diafragma. Assim o conteúdo ácido do estômago vaza para o esôfago que não está preparado para receber esse agressor. O estômago tem o chamado muco protetor que forra toda sua parede, impedindo o contato direto do ácido que ele produz. Já o esôfago não conta com esse forro e se deixa inflamar.

A hérnia de hiato pode ser congênita – esôfago curto – ou aparecer com o aumento da pressão intra-abdominal – obesidade, gravidez, traumas, constipação intestinal. É bastante comum, acreditando-se que ela esteja presente em um por cento das pessoas. Os mais idosos, certamente mais flácidos, apresentam-na com frequência bem maior.

Interessante mencionar que muitas vezes uma esofagite intensa pode parecer um infarto do miocárdio.

O motivo desse arrazoado de ideias é exatamente mostrar a semelhança de sintomas entre problemas puramente emocionais com desarranjos puramente físicos.

Muitas vezes a angústia ou ansiedade pode levar ao diagnóstico errado de esofagite e, vice-versa, um diagnóstico de gastrite pode camuflar a existência de ansiedade.

Como a angústia desequilibra o psicossomático, poderemos ter a coexistência de esofagite e angústia. Dose dupla de problemas. Será sempre de bom alvitre considerar a possibilidade dessa associação o que levaria a um tratamento mais efetivo.