FOI APENAS UM SONHO

Foi apenas um sonho.

Antônio Edson Oliveira

Outro dia fiz uma bela viagem, fui conhecer o pais das maravilhas. Um amigo meu chamado João levou-me a conhecer toda aquela beleza: todas as pessoas tinham onde morar, os idosos fazendo caminhada por lindos parques, sem lixo, sem assaltantes, todas as crianças iam à escola, pois a própria estrutura escolar já os motivava a fazer isso. Havia quadras de esporte em todos os bairros da cidade, e os programas de arte e cultura faziam parte do cotidiano da juventude. Fiquei mesmo encantado quando meu amigo me falou do sistema de saúde. Era um sistema único, baseado por princípios de universalidade integralidade equidade... Era tudo muito bonito! Meu amigo me explicou que naquele pais a mortalidade infantil era quase zero, e que a saúde funcionava perfeitamente em três níveis. E como a atenção básica verdadeiramente dava atenção e que além dela haviam praticas integrativas e complementares em saúde, respeitando os saberes que o povo acumulou ao longo da historia, as pessoas pouco adoeciam. E quando isso acontecia era só dirigir-se ao sistema de saúde que seriam bem cuidado de forma humanizada, com profissionais bem pagos e capacitados para cuidar das pessoas. A burocracia era a mínima necessária, quase não existia, e por esse motivo não havia filas. Como também não havia a necessidade do “jeitinho” para que alguém fosse atendido, a saúde era realmente para todos. Os hospitais bem equipados, e os gestores, médicos e todos os trabalhadores da saúde realmente comprometidos com a qualidade de vida das pessoas.

No caminho meu amigo foi me explicando que era muito difícil manter um sistema assim. Pois a cultura dominante impõe que o sentido de nossa vida é a competição, o salve-se quem poder e que no mundo não há lugar para que tod@s sejam plenamente realizados, que não há emprego, renda, saúde, riqueza material, poder compartilhado e oportunidades para tod@s. a cultura dominante nos impõe que as filas de espera são normais; que morrer a espera de um cuidado é a equação do estar vivo e que, portanto adoecer é fatalidade; e morrer todos um dia morrerão.

Enquanto João ia falando eu pensava: que ser humano sou eu, que humano ser somos nós? Como me educar a ser humano? Como contribuir para o ser mais do outro? De modo que o meu igual possa se tornar o protagonista do seu desenvolvimento, como ser pessoa, cidadã, gente no seu estado potencial e espiritual? E as perguntas continuam em minha mente em meio a tantas respostas permeadas de esperança...

Em casa continuamos a conversa meu amigo dizia que ser feliz sozinho é o atalho que o mercado vende como se fosse um caminho. Educadores formais acabam entrando nessa onda, profissionais acabam reduzindo sua visão de economia, saúde, educação... Através da ideia focal da biomedicina no contexto de uma sociedade que reduz o protagonismo dos sujeitos a sua capacidade de consumir e de auferir lucros e dividendos, seja dentro da lei do mercado ou mesmo fora da lei...

Já cansado e encantado com tudo que João falara e havia me mostrado, dei boa noite e me preparei para dormir, mas dominado pelo sono não ouvi o boa noite de João o que ouvi foram os gritos de minha esposa que dizia: Levanta homem já são quatro horas da manhã e nós temos que pegar a fila no posto pra tentar conseguir uma consulta pra menina que há três dias está ai queimando de febre.

Antônio Edson Oliveira

Cordelista e militante das CEB`S.

Educador Popular das Cirandas da Vida da SMS de Fortaleza.

Edson Oliveira
Enviado por Edson Oliveira em 24/06/2012
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