Há algumas semanas, eu estava comentando com um psiquiatra sobre o crescente número de termos de buscas em meu blog onde o leitor deseja se tornar paraplégico.
Essa vontade que a pessoa tem de ter um membro amputado ou então viver numa cadeira de rodas é uma parafilia denominada apotemnofilia e normalmente se está associada à uma doença psiquiátrica grave conhecida por Sindrome de Munchausen by self, onde a pessoa tem uma necessidade urgente de ficar doente para ser cuidada.
Acontece que essa doença é rara, o que contraria a frequência dos termos de buscas que tem aparecido no meu blog de pessoas procurando maneiras de se tornarem paraplégicas.
Então esse psiquiatra levantou uma questão: Estaria a mídia influenciando de certa forma? Afinal, como ele ressaltou, as novelas romantizam demais as pessoas paraplégicas.
Isso me deixou bastante pensativa. E me levou a pensar no fenômeno copycat. O fenômeno copycat consiste na imitação. Uma pessoa imita a outra. Essa imitação pode ocorrer a partir de um simples comportamento até um crime violento.
Loren Coleman escreveu um livro que aborda esse assunto. O Efeito Copycat.
Como pesquisador sênior da Escola Muskie de Políticas Públicas da Universidade de Southern Maine, de 1983 a 1996, ele gerenciou oito milhões de dólares em projetos federais, que investigaram o contágio nos suicídios, incêndios criminosos, abuso de drogas, maus-tratos, crimes sexuais, entre outros comportamentos.
De acordo com Coleman, a atitude da mídia é “a morte vende”; em outras palavras, se a reportagem/matéria sangra, ela lidera o ranking. O autor, que escreveu e ensinou muito sobre o impacto da mídia, monta um argumento convincente contra os jornais, televisão e livros que sensacionalizam assassinatos e suicídios.
Ele menciona o romance The Sorrows of Young Werther (Os Sofrimentos do Jovem Werther), que destaca um rapaz que se suicida após um romance fracassado. Tal livro inspirou muitos jovens a fazer o mesmo.
Me lembro de um caso parecido (marcante) que ocorreu no Egito, onde uma figura pública muito famosa morreu e então dezenas de mulheres se suicidaram atirando-se de seus respectivos apartamentos. Esse é um outro exemplo de suicídio copycat.
E nem precisamos ir tão longe. Quando Michael Jackson morreu, pelo menos 12 fãs se suicidaram.
Há ainda os tiroteios nos E.U. cuja maioria é também um resultado desse fenômeno. E nem falamos dos serial killers que copiam outros serial killers etc.
E ontem, assistindo ao segundo video dessa postagem aqui, fiquei alarmada quando o médico fisiatra também mencionou esse fenômeno copycat inclusive para dores.
Mas o assunto que quero abordar aqui é sobre a presença desse fenômeno em grupos (comunidades) do Facebook. Me lembro quando contei ao meu psiquiatra que eu participava de diversos grupos sobre transtornos psicológicos no FB. Senti ele ficar um pouco tenso. E então ele me indagou se esses grupos não estariam me influenciando negativamente, já que provavelmente eles possuiam um ambiente pesado. E eu disse que as vezes me cansava sim, me deprimia, mas que nunca tinha atribuido essas sensações ao que ‘rolava’ nesses grupos.
Então comecei a prestar atenção e notei que além desse ambiente pesado que eu vivenciava em alguns dos grupos havia também o fenômeno copycat.
Uma pessoa se cortava (praticava a automutilação) e contava ao grupo. Dali a pouco outra pessoa também se cortava e ainda postava fotos do ‘trabalho’. Um membro do grupo aparecia certo dia falando sobre suicídio e então de repente vários outros membros também surgiam com a ideia de suicidio.
Foi então que comecei a sair desses grupos. Fui deixando um a um.
Isso é perigoso gente! É um assunto sério!
Normalmente para que isso não ocorra em um grupo, ele tem que ser muito bem administrado, e de preferência por um profissional da área de saúde mental.
Não estou afirmando, em hipótese alguma, que todos os grupos sobre transtornos psicológicos no FB são assim. Mesmo porque eu nem conheço todos.
Ainda pertenço a alguns grupos.
Mas se eu notar que o ambiente começa a pesar e começa essa onda de um imitar o outro... eu caio fora! Mesmo porque eu prezo pela minha saúde.
Pedi a opinião de meu psicanalista Henrique Trejgier a respeito e eis o que ele complementa:
“Além destes grupos sem enquadramento profissional, de pessoas com transtornos psíquicos, fornecerem exemplos novos de comportamentos sintomáticos, principalmente solidifica os sintomas já existentes. A terapia de grupos é uma modalidade que exige grande experiência do terapeuta, e não vemos nos grupos das redes sociais nenhum grupo que tenha qualquer semelhança com terapia de grupo. São amontoados de pessoas sofredoras que se unem, mas sem nenhum enquadramento técnico-terapêutico. Ao contrário, observamos uma competição de quem sofre mais. E sendo criada uma expectativa de receber ajuda, inevitavelmente frustrada, a resultante é uma piora do estado emocional. Eu presenciei mais de uma vez, internações e automutilaçoes, de participantes destes grupos, após algumas discussões ou após um outro participante publicar uma mensagem depressiva.”
Portanto, fiquem atentos.
Porque é natural do ser humano imitar comportamentos para principalmente ser aceito em um grupo qualquer na sociedade. E pessoas mais sensíveis ficam ainda mais suscetíveis a esse fenômeno copycat.
E uma coisa é certa: a influência negativa é muito mais facilmente operante do que a positiva.