A Obtenção de Carícias
A Obtenção de Carícias
Dr. Wagner Paulon
2012
Precisamos de carícias ao longo de toda a nossa vida — de nós próprios e dos outros. Nós esperamos pelo tipo de carícias que recebíamos em nossa família original. Lá, aprendemos que tipo de carícias existem, quais são OK e quais esta disponíveis. Também aprendemos como dar carícias e como mostrar nosso amor e afeição uns aos outros.
Na maioria das famílias, as regras pelas quais pedimos carícias e concedemos carícias são raramente percebidas. É muito difícil trazer essas regras de acariciar para a consciência do Adulto. Quando éramos crianças, nossos parentes pareciam ser capazes de ler nossas mentes, dizer o que estávamos pensando e do que precisávamos. Freqüentemente, chegamos a equacionar a capacidade de "ler em nossa mente" com "amor verdadeiro" ("Mamãe sabia, por que você não...?") "Se você me amasse de verdade, você. .. sem que precisasse pedir." Este quadro de referência só será possível se:
1) Tivermos sido criados pelos mesmos pais;
2) Tivermos personalidades idênticas;
3) Nossas necessidades não sofrerem nunca alteração;
4) As circunstâncias nunca mudarem;
5) Nossas necessidades forem tão bem satisfeitas a ponto de termos sempre tempo de perceber cada mudança de atitude um do outro.
Além dos diferentes modos aprendidos de expressarmos nossas necessidades de carícias, e de reconhecermos que fomos acariciados, aprendemos que tipo de carícias são OK.
Em geral, os argumentos dos homens apresentam limites muito estreitos para pedir, obter e notar a necessidade de carícias. Raramente voltam seu próprio Pai Nutritivo para si mesmos. Quando um homem precisa de carícias, é-lhe permitido procurar carícias sexuais; ou ficar doente e ser cuidado. Boa parte de seu valor afetivo é desencorajado sob a alegação de parecer "feminino". Grande parte dos homens que se queixam de uniões insatisfatórias deixam claro que não sabem como pedir carícias. Ficam em geral muito embaraçados quando são solicitados a demonstrar afeto.
Em nossa cultura, as mulheres desfrutam de maior liberdade na área das carícias. É-lhes permitido afagar e acariciar seus companheiros, umas às outras, pessoas idosas e crianças de ambos os sexos. Podem também pedir às pessoas que façam coisas para elas, que falem com elas e que lhes façam elogios.
Muitas pessoas dos dois sexos estão programadas para des¬qualificar carícias. Quando recebemos nossos argumentos, também recebemos instruções para desencorajar elogios: "Puxa, seu cabelo está lindo!" "Obrigada, mas acho que devia lavá-lo/ cortá-lo." "Gostei de seu artigo." "Você é muito gentil, mas acho que você poderia ter escrito um muito melhor." "Sua casa parece tão limpa!" "Isso é porque uso luzes muito fracas."
A verdade é que temos uma outra escolha: receber as carícias que nos são oferecidas e mostrar nossa satisfação.
Aprendendo Novos Padrões de Carícias
Uma de nossas tarefas psicológicas mais importantes, portanto, ao construir nossa união, é descobrir como dar e obter carícias suficientes um do outro, de maneiras variadas. "Suficientes" significa que nosso estado do ego de Criança está sentindo-se bem cuidado. "Suficiente" não é um número. Carlinha, precisa ouvir "Eu a amo" quando ela e seu companheiro acordam, antes que se separem para ir trabalhar, quando voltam a se reunir à tarde e antes de adormecerem. João, precisa "ver" as carícias e cheirá-las. Tem necessidade de ver Carlinha sorrir para ele quando prepara o café da manhã, pedir-lhe um beijo quando saem para trabalhar, e "cheirar" algo de bom na cozinha quando volta para casa.
Para que estabeleçamos padrões de carícias adequados, é preciso que nos sintamos OK a respeito de nossas necessidades e não sejamos muito exigentes com relação a eles. Devemos conversar livremente sobre todo o tipo de carícias de que ouvimos falar e decidir qual deles desejamos experimentar. é quase certo que nos defrontemos com algumas injunções: "Se tenho que pedir, então não tem valor" e "Se não me sinto bem, então está errado." Isto é o mesmo que dizer "Andar de bicicleta é errado" porque a primeira vez que tentamos andar nela não nos sentimos à vontade. A maioria das vezes em que tentamos um comportamento novo, não nos sentimos à vontade até que o tenhamos praticado durante um certo tempo — e até que pos¬samos desempenhá-lo sem despender grandes quantidades de nossa energia de Adultos.
Aqueles que foram criados em famílias onde carícias físicas positivas não eram consideradas OK precisam ser dessensitiza-dos quanto às injunções do argumento contra entrar em contato físico com outra pessoa. Salete e CLaudio romperam sua injunção por meio da simples arrelia. Claudio aproximava-se de Salete e ela gritava imediatamente: "Não me toque!" Ele a aborrecia tocando rapidamente em seu braço uma vez e depois mais algumas vezes em resposta a seus protestos. Finalmente, terminavam engalfinhados e rindo às gargalhadas.
Desfrutar da relação sexual envolve trabalho psicológico. Durante os primeiros meses românticos da vida em comum, os jovens casais desfrutam da excitação de uma nova aventura; eles esperam por uma união perfeita, conforme exige seu esta¬do do ego de Criança — mesmo'se seu estado do ego de Adulto reconhece que uma tal esperança representa "pensamento mágico". Como nos demais aspectos de qualquer união, os par-ceiros já trazem noções acabadas a respeito de como homens e mulheres devem participar da relação sexual: longa introdução de jogos sexuais, Número Padrão de Coitos para Casais Novos etc. A comunicação sexual envolve sermos capazes de falar sobre nossas necessidades e sentimentos e tentar novas experiências.
Obter satisfação sexual é uma tarefa mútua. Isto significa deixar nosso parceiro saber o que nos satisfaz e procurar saber o que podemos fazer para satisfazer suas necessidades.
As mulheres ainda conservam uma boa parte de programa¬ção em seus argumentos sobre ser o sexo coisa para homens —mesmo se seu estado do ego de Adulto apresenta evidência do contrário. Nossos rnitos vitorianos estão dando lugar a conheci¬mento mais bem fundamentado. Embora esta atitude relaxada com relação a sexo seja nova em nossa cultura, ela não o é para muitas outras — que nunca foram capazes de nos compreender, a nós e a nossos preconceitos sexuais.
A Trama de Argumentos
Os argumentos tradicionais em nosso país são variações de: ele sai para trabalhar para a família e ela cuida dele, da casa e das crianças. O casamento tradicional é altamente simbiótico. Em assuntos de dinheiro e do que diz respeito ao mundo lá fora, é ele quem pensa e decide, enquanto ela continua sendo a querida criança indefesa. Em casa, ocorre o contrário. Ele não é capaz de encontrar suas meias ou o Band-Aaid; e ela decide sobre como arrumar os armários, "sabendo" sempre melhor do que ele como seu homem se sente. De fato uma boa esposa é capaz de entrar em sintonia com o estado de espírito de seu homem assim que atravessa o umbral da porta à noite; e planeja sua estratégia e seu comportamento na base do que pres¬sentiu.
Outros casais combinam estilos de vida mais experimentais da fase da emancipação com casamento. Casais que vivem em termos de igualdade dividem as tarefas e organizam planos de trabalho alternados. Os dois discutem sobre que tarefas cada um acha mais agradáveis ou menos inconvenientes, e cada um é responsável por seus valores, convicções e sentimentos próprios.
Numa relação "ideal", o casal se comunica e troca carícias ao longo de todos os vetores possíveis de transações. Numa união estável o casal obtém carícias suficientes um do outro de maneira a manter a união — e ainda tem carícias disponíveis para outras pessoas. Os tipos de carícias variam em importância ao longo das diversas fases da relação.
O processo de construção de uma união estável e cooperativa inclui a consideração de todos os estados do ego dos dois parceiros.