Apresentaçao de pacientes
Há um mês e meio examinei alguém a propósito de quem se falou de psicose freudiana. Esta é uma psicose lacaniana verdadeiramente caracterizada. Palavras pronunciadas por Jacques Lacan ao público presente no final da entrevista com o paciente Senhor Primeau que ele entrevistou no Saint-Anne.
Estaria Lacan demonstrando uma doença, a psicose, através da entrevista com o paciente? Ou por intermédio deste dispositivo Lacan ouvindo o sujeito tenha se deparado com sua construção teórica sobre a psicose se desdobrando na sua frente, ou melhor, no seu ouvido.
A apresentação de pacientes tem sua origem na psiquiatria e foi com as apresentações de Charcot que este dispositivo, ganhou ares de espetaculo, ele exibia os doentes ditos mentais principalmente as histéricas. O paciente era utilizado para demonstrar a doença cujo diagnostico foi proferido pelo médico. Era um espetáculo com cena montada, todos eram atores, o medico, o paciente e a plateia. Muito se falava na época da simulação histérica. O médico tentava desmontar esta simulação, deixar a paciente, geralmente eram mulheres, sem a defesa sintomática.
Freud acompanhou as apresentações de Charcot e ele mesmo fez este exercício a pedido de Meynert quanto de seu retorno do estudo com Charcot, mas a sua construção teórica da Psicanálise muito ajudou para que a apresentação de pacientes tivesse outro caráter, ou seja, levar em consideração o sujeito do inconsciente, na França este dispositivo foi utilizado por Lacan a Psicanálise adapta digamos assim, mas deixa de ser um espetáculo para ser um provedor de cura, procura-se deixar o sujeito falar, se com a psiquiatria é a clinica do olhar na psicanálise é a clinica da escuta, o psicanalista que faz a entrevista empresta seu corpo e sua escuta como acontece no consultório, a diferença é que normalmente é com o psicótico que este exercício acontece, existe também o publico, prefiro chamar assim pois da a impressão de quem esta ali para testemunhar o desenrolar desta prática de entrevista, representantes do Outro o que ajuda na separação transferencial do psicótico com o analista. Na entrevista há uma hiperaudição, a escuta da conversa entre psicanalista e paciente é ampliada, procura-se todos os indícios possíveis que falem sobre o paciente e também sobre o analista o que também demonstra o caráter de transmissão deste dispositivo na psicanalise.
A transmissão em psicanalise se da pelo estudo dos textos da teoria psicanalitica, mas a prática, o método, a forma é difícil de transmitir, por isso passar por um percurso de analise é fundamental, atravessamento do fantasma como denominou Lacan, quando Freud tenta escrever aos jovens psicanalistas tentando organizar sua prática, observa que é insuficiente. Logo a entrevista com pacientes é promotora de uma transmissão.
Freud não desenvolve muito sobre a psicose, cabendo a Lacan na retomada da psicanalise freudiana adentrar ao estudo da psicose. Talvez Freud não tenha praticado a apresentação de pacientes por este motivo, é o paciente psicótico aquele que possibilita este dispositivo, aliás diferente da neurose que a clinica dá conta, o psicótico com seu inconsciente a seu aberto se utiliza da realidade da cena que se monta para poder falar, como a transferência é maciça entre analista e paciente a presença de um terceiro auxilia um pequeno deslizamento nesta relação transferencial, poderíamos perguntar aqui se na psicose existe transferência, mas seria o caso de outro estudo.