CUIDADOS PALIATIVOS




 

Dr. House, interpretado por Hugh Laurie, diz em um dos episódios da série médica televisiva de maior sucesso de todos os tempos: “Vive-se com dignidade, mas morre-se sem ela”. É uma forma de pensar que domina a verdade sobre a morte. 
 
Somos todos vulneráveis frente à doença, ao paciente moribundo e frente à morte. Essa vulnerabilidade pode aparecer relacionando-se a feridas e perdas anteriores e que não foram totalmente resolvidas. A compreensão e aceitação da nossa vulnerabilidade podem contribuir para o nosso crescimento e amadurecimento perante o fim da vida. 
 
A morte é inevitável, mas ela pode ocorrer sem maiores traumas, principalmente frente a uma doença incurável. É o que se chama “Cuidados Paliativos”, já com aplicação inclusive no Brasil.
 
A OMS (Organização Mundial de Saúde) define cuidado paliativo como sendo “a abordagem que promove qualidade de vida de pacientes e seus familiares diante de doenças que ameaçam a continuidade da vida, através de prevenção e alívio do sofrimento. Requer a identificação precoce, avaliação e tratamento impecável da dor e outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual”.
           
A filosofia do cuidado paliativo começou a ser posta em prática na Inglaterra pela enfermeira, médica e assistente social Cicely Saunders. Em 1967, ela fundou o St. Christophe Hospice, que oferecia cuidado integral ao paciente e, até hoje, é referência mundial na área. Cicely morreu em 2005, depois de um período internada no hospital que fundou. No Brasil, as discussões sobre o assunto tiveram início nos anos 1970, mas somente na década de 1990 começaram a aparecer os primeiros – mas tímidos – serviços organizados. Até os dias de hoje, infelizmente, pouco se avançou no assunto e o Brasil ostenta o antepenúltimo lugar no ranking de “Qualidade de Morte”, à frente apenas de Uganda e Índia. No lado oposto está o Reino Unido, seguido pela Austrália. Esses dados foram divulgados pela BBC em 14 de julho de 2010.
 
A aplicação do cuidado paliativo:
a) Promove o alívio da dor e de outros sintomas estressantes;
b) Reafirma a vida e vê a morte como um processo natural;
c) Não tem por pretensão antecipar ou postergar a morte;
d) Integra aspectos psicossociais e espirituais ao cuidado aplicado;
e) Oferece um sistema de suporte que auxilie o paciente a viver tão ativamente quanto possível, até a sua morte;
f) Oferece um sistema de suporte que auxilie a família e entes queridos a sentirem-se amparados durante todo o processo da doença;
g) Deve ser iniciado o mais precocemente possível, junto a outras medidas de prolongamento da vida.
           
No hospital onde trabalho integro a Comissão de Cuidados Paliativos e posso afirmar que é muito difícil lidar tranquilamente com isso tudo e estaria mentindo quem afirmasse o contrário. Mas a aplicação dessa técnica (se é que podemos chamá-la assim) é fundamental, já que nenhum tratamento pode oferecer maior desconforto ao doente do que sua própria doença. E muitas vezes o prolongamento artificial da vida faz com que isso ocorra, resultando em um sofrimento ainda maior ao paciente e seus familiares.
 
O Prof. Dr. Carlos da Silva Lacaz faz a seguinte afirmação: “Eu sabia que na minha profissão iria viver literalmente com o sofrimento humano, e sempre me preocupou esse lado dramático que envolve nossa profissão: porque ela vive de vida, do sofrimento do doente e também da morte. A morte, sempre imbatível e triunfante. (...) Precisamos ter humildade, porque a ciência vai ficar sempre com suas dúvidas e a natureza com seus mistérios”.             
 
Se há um limite para a cura e o tratamento, não o há para os cuidados. Afinal, a grande meta é melhorar a nossa qualidade de vida para, como consequência, melhorar a nossa qualidade de morte (com dignidade).
 

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