É do livro do Eclesiástico, um dos livros judaicos escritos pouco antes da era cristã, a frase “Que a saúde se difunda sobre a terra”. Essa frase está servindo de lema para a Campanha da Fraternidade 2012. O assunto é oportuno e urgente face a situação ainda precária do sistema de saúde pública em nosso país, assim como pela relação que esse problema tem com a fé e com a proposta pascal.
            No Brasil, movimentos cristãos de linha espiritualista, sejam católicos, sejam pentecostais, fazem cultos invocando a cura divina. Pastores reúnem multidões, colocam na frente as pessoas enfermas, invocam o nome de Jesus (em Massabielle, na França, o catolicismo faz isso também), impõem as mãos e muitas pessoas saem dali sentindo-se curadas. Independentemente do fato que, nesse tipo de fenômeno, sempre podem ocorrer fraudes, muito crentes vivem isso com toda pureza de sua fé. Sou de opinião que deve-se ter o mais profundo respeito por essa forma de interpretar a fé e a oração.
            Nos evangelhos, Jesus convida sempre a ir ao cerne das questões. Não adianta combater a erva má simplesmente arrancando as folhas. É preciso ir à raiz. Como sinal de que o projeto de Deus para o mundo é saúde para todos, Jesus curou doentes, mas sempre chamando a atenção de que era preciso mudar a estrutura social que provocava aqueles males, seja no caso a marginalização da pessoa doente, seja a abominável cultura de que a doença é conseqüência de algum pecado. O compromisso da fé não pode ser apenas aliviar as dores de um ou de outro, mas cuidar para que todos tenham saúde e vida. Quem divide a vida em material e espiritual, via de regra opõe essas duas dimensões e não vê relação entre saúde e salvação.
            Nas culturas antigas tanto quanto na concepção moderna da Organização Mundial da Saúde, define-se a saúde como um processo. Não é um estado adquirido de forma permanente e é um bem estar corporal, social e psíquico que envolve também a dimensão espiritual. Jesus fez isso ao curar um paralítico, fazendo-o levantar-se da cama e lhe assegurando o perdão e a reconciliação consigo mesmo, a integração social e a reabertura do amor divino no seu coração. Essa ação de Jesus revela a missão do seguidor de Jesus no plano da saúde.
            A CNBB através da Campanha “Fraternidade e saúde pública”, propõe a chamada “bioética dos 4P”:
            .Promoção da saúde,
            .Prevenção de doenças,
            .Proteção das pessoas vulneráveis,
            .Precaução frente ao desenvolvimento biotecnológico.
 
            É uma boa hora para relembrar, insistir e garantir a todos os brasileiros o acesso universal, integral e equânime aos cuidados necessários de saúde.