Estamos cegos quanto às nossas emoções e pressionados socialmente contra nossa própria ética!

Todos somos capazes de sentir amor, raiva, medo, paz. Mas como estão nossas emoções e nossa ética durante a vida?

Não nos é ensinado à refletir sobre as emoções. Nós apenas às conhecemos mas nunca pensamos nas emoções que estamos acostumados a sentir. Por outro lado vemos com clareza as pessoas que estão sempre alegres, as que estão sempre tristes. Mas como ver isso em si mesmo?

O primeiro ponto sobre as emoções está naquelas que são momentâneas e as que são duradouras. As emoções que surgem com o prazer físico duram aquele espaço de tempo em que estamos sentido. A paz de um fim de semana, o prazer de comer uma comida boa, de passar uma tarde com alguém que se gosta muito.

Porém existe outro ponto. As emoções que surgem da ética, da paz de espírito, do dever cumprido. Este lado da emoção que tem sido negligenciado. A pessoa quando age pelo bem de si e dos outros sente uma paz inabalável. O amor não físico que pode se dedicar a qualquer ser, objeto, pessoa também é indestrutível. Estes sentimentos tem esse poder porque eles possuem uma compreensão muito ampla. Não é um prazer que dura enquanto estamos vendo, nem que termina com alguma má notícia surge porque ele é fruto das nossas atitudes positivas, da nossa forma de enfrentar a vida. É inabalável porque quando surge um problema para aquele que busca a paz, ele não se entristece com o problema, mas ao contrário, faz da sua a vida a busca pelas soluções. Há uma compreensão das dificuldades intrínsecas de todo ser vivo e o reconhecimento das próprias limitações e isso faz com que a pessoa seja consciente do que deve fazer e por fim encontrar a paz, liberdade e expansão da vontade de estar vivo que o prazer imediato não alcança.

Quando trabalhadas as emoções profundas e também as imediatas encontramos nosso verdadeiro caminho de alegria e transformação.

Outra questão que frequentemente ignoramos é a “compensação” emocional. Buscar um prazer para compensar uma tristeza. Isso pode ser quando “rimos” para não chorar, quando comemos uma comida porque é “o único prazer que podemos sentir”, quando saímos para a “balada” para encontrar um namorado ou namorada para compensar nossa solidão e falta de carinho. Fazer isso é compreensível. Mas transformar isso na solução final das tristezas é um grande equívoco.

Quando entramos nestes estados de compensação, como a tristeza é maquiada com alegria, como estamos “sorrindo” na hora em que devíamos dizer “não gostei”, a tristeza vai aumentando e a busca pelo prazer imediato aumenta na mesma proporção. A falsa alegria faz com que o pouquinho de poeira debaixo do tapete aumente tanto que chega uma hora em que o tapete não esconde mais e construímos para nós mesmos os estados de melancolia, de tristeza e depressão.

O intuito deste artigo não é retirar da depressão quem está deprimido, para isso busque um profissional, mas este artigo pode sim auxiliar àqueles que estão entrando neste ritmo de permanecer no prazer momentâneo ou escondendo a tristeza debaixo do tapete. Sempre que mentimos para o outro, antes dele, mentimos para nós mesmos.

Por fim, junto com essa contradição pessoal, a sociedade trabalha nos impedindo de pensar sobre este assunto. Nos enchemos de atividades, procuramos uma vida cheia de amigos, de trabalho e sem tempo por imaginar que ao chegar neste nível seremos felizes porque estamos entre muitas pessoas e muito agito. Quando vemos “agito e pessoas” sorrindo, entendemos que estamos vendo felicidade, que queremos isto. Porém nem todos somos assim. Muitos gostam de estar entre poucas pessoas lendo um livro dito “chato” e ser mais feliz que a propaganda de TV mostrando pessoas bonitas bebendo na praia em busca de sexo, hoje sutilmente disfarçado por palavras como "namoro", "rolo", "ficante", etc.

A propaganda engana porque ficamos seduzidos pela beleza das pessoas dos comerciais que nos excita sexualmente, pelos sorrisos em seus lábios dizendo “sou feliz”, pelos amigos que vemos aos montes se divertindo nos causando a inveja de não sermos daquele jeito. São obrigações que nosso pensamento entende como “alegria”, prazer e felicidade. E então automaticamente, a propaganda resolve nosso problema. Ela diz: faça o que estamos fazendo. E nessa hora milhões de pessoas vão para as academias ficarem bonitas, vão atrás de dinheiro para conquistar os produtos da alegria dos comerciais, vão atrás da quantidade de amigos que veem.

Quando nos damos contas desse mundo falso, só nessa hora percebemos como a beleza física sexual, o dinheiro, os grupos de amigos falsos são carências e tristezas nossas que sentimos e estamos tentando resolver baseado nos valores sociais que nem sempre são os nossos.

Sorrimos quando não queremos sorrir para não desagradar e terminarmos sozinhos.

Aceitamos um salário que não é digno para não passar fome.

Aceitamos ser egoístas quando na verdade queremos dividir.

Desta forma o desejo de amor e carinho se sobrepõe à nossa ética. A consequência ao longo dos anos é uma sociedade que não olha para si mesmo, mas sim para a TV para aprender o que comprar. E não olha mais para a emoção de si mesmo em contradição. E aprende a ignorar o sofrimento do outro uma vez que só presta atenção no prazer de si mesmo, uma vez que o prazer imediato está acima do sentimento de paz e alegria encontrado ao ajudar o outro que foi esquecido ou nunca foi sentido.

E neste momento surge a certeza que ajudar o outro é perder o tempo que se tem para gastar com si mesmo. E quando só utilizamos nosso tempo com nós mesmos, com nossos amigos e nossa alegria momentânea, nunca saberemos o que é a paz, a satisfação pessoal a alegria interior.

E a paz interior é uma motivação tão importante quanto a competição, porque ela quer a perfeição não porque o outro fez algo melhor que você, mas porque devemos fazer o melhor por nós mesmos como sociedade porque queremos com isso estar bem conectados uns aos outros.

E a paz interior conquista a confiança que faz com que sintamos tranquilos ao ficar doentes porque não olharão para nossas contas bancárias na hora de prestar socorro.

E a paz interior conquista os amigos que vão olhar para sua alegria, saúde e satisfação pessoal ao invés de competir para ver quem está mais feliz.

É preciso também compreender a ilusão. Precisamos sempre nos lembrar que aprendemos que se uma pessoa de terno e outra de chinelo, se ambas disserem a mesma coisa, daremos importâncias diferentes. Quando atribuímos que uma destas pessoas está mais correta pela forma como está vestida, seja para melhor ou pior, estamos nós mesmos deixando de ouvir o que ela diz e dando maior importância ao seu título de Doutor, à sua roupa, ao seu dinheiro. São com ilusões que um dia nos encontraremos entre pessoas tristes, infelizes, imorais porém todas bem vestidas, falando bem, com boa aparência e socialmente melhores que as outras.

Ao abandonar os modelos sociais e procurarmos a nossa forma pessoal de ser feliz encontramos a satisfação porque só nós mesmos conhecemos o que nos insatisfaz.

Sejamos honestos, vejamos nossas emoções e conquistemos a nós mesmos e os outros. Junto com nossa alegria pessoal está a de todas as pessoas.

Muita paz.

Roberto de Andrade

Psicólogo

CRP 12/07441