Sobre a gripe suína

Praticamente já não se fala mais na gripe suína, dão a entender que a epidemia mortal se acabou. De fato, ela não existe, nem nunca existiu! A gripe suína foi apenas um golpe multibilionário!

Mostrarei a gênese do golpe.

Vivemos um longo período de estabilidade. Durante o século XX, três epidemias foram mais relevantes que outras: a gripe espanhola, em seu início, a tuberculose, em seguida, e AIDS no final do século. Essa parece ser a dinâmica natural das coisas e, grandes populações estão sujeitas a epidemias avassaladoras.

Tal constatação levou os estudiosos a conjeturar como seriam as epidemias. Consideraram que uma das mais avassaladoras poderia ser uma nova epidemia de gripe.

Tal consideração, bastante surpreendente, baseia-se no seguinte:

A gripe é uma doença de aves. Quando uma forma da doença aviária infecta uma pessoa, coisa difícil de ocorrer, a letalidade é altíssima, a maioria das pessoas infectadas morre.

Isso é esperado pelo simples fato de se tratar de uma doença de aves. Os estudos sobre parasitismo revelam que o contato prolongado entre parasita e hospedeiro tende fortemente a abrandar a virulência das infecções. Embora os médicos não saibam disso, está em todos os livros introdutórios de ecologia.

A dinâmica esperada para uma tal epidemia seria a seguinte: como ocorreu com a gripe espanhola, de algum modo uma ave contagia uma pessoa, que provavelmente morre com uma gripe fortíssima. Pessoas próximas a essa primeira vítima pegam a doença, a maioria sucumbe. Ocorre que as linhagens viróticas mais agressivas, aquelas que derrubam logo o indivíduo e o matam, se espalham menos que linhagens mais brandas, que permitem que os indivíduos infectados circulem pelas ruas por mais tempo, contagiando um número maior de pessoas. Como o parasita, o vírus, no caso, tem um ciclo de vida muito rápido, novas gerações cada vez mais brandas, e, por essa razão, mais infectantes, se alastram pela população infectando uma quantidade cada vez maior de pessoas, mas causando menos males em cada uma delas. Com o passar do tempo, a gripe tende a se tronar essa coisa banal que todos conhecemos, essa coisa chata.

Há certos detalhes nessa dinâmica. Eventualmente a gripe pode passar de uma pessoa para outra espécie próxima, como o porco. Nesse caso, a mesma dinâmica se verifica entre os porcos, enquanto a linhagem virótica se adapta à nova espécie.

Adaptar-se a uma nova espécie, significa passar a acarretar menos males a ela.

Pode ocorrer, no entanto, uma reinfecção da doença, dos porcos para as pessoas. Isso não seria tão inesperado, já que o vírus teria sido preadaptado às pessoas pela epidemia prévia, ocorrida em humanos. Mas esses vírus reinfectantes, já adaptados aos porcos, readquiririam, por isso, uma forte letalidade nas pessoas. Teriam estado coevoluindo com porcos, não com humanos.

Pois bem, toda essa dinâmica é teórica e muito bem descrita. Toda ela é esperada, ocorrerá outras vezes.

Surgiu então uma novidade, a vacina para a gripe. Em princípio, isso significa uma oportunidade de se ganhar centenas de bilhões todos os anos, vacinando a população do planeta anualmente! Imaginem a força desses bilhões!

Em 2007 começaram a surgir nos meios de comunicação inúmeros relatos de uma suposta gripe aviária letal. A idéia estava sendo plantada. Em 2008 pássaros encontrados mortos eram examinados à procura do vírus da gripe. A notícia da gripe aviária se espalhava pelo mundo.

Essa parte do golpe é meio cômica, revela desconhecimento de ecologia e evolução. O grupo das aves é bastante grande e diversificado e os vírus não andam circulando de uma espécie para outra tão rapidamente. Ocorre, no entanto, que as diversas gripes circulam entre as aves.

Apesar de tamanha avidez, e da notificação, na Ásia, de criadores de galinhas contaminados pela gripe, nada aconteceu, e as gripes aviárias não se espalharam pela população humana.

Inventaram então a gripe suína.

Inventaram uma enorme letalidade no México, por onde ela se alastrava. Fizeram a coisa parecer pior que manga com leite!

Então vieram as vacinas, os tratamentos... os sistemas de saúde, no mundo inteiro, direcionaram suas verbas para o controle da gripe.

Como podemos ser absurdos. E como nossas ações são determinadas pelo costume, e pela irracionalidade. De uma hora para outra pareceu absolutamente natural mobilizar enormes recursos, escassos e necessários em outras áreas, para cuidar da gripe.

A gripe suína era e continua sendo (ela continua a circular por aí) apenas uma gripe.

Algumas pessoas ficaram bilionárias!

Muitos ganharam notabilidade pelos atos heroicos no combate à gripe!

Vivemos uma tragicomédia. O mundo é engraçado, mas triste.