Amy Winehouse & o TPB
Foram vários os programas que vi que tentavam analisar os porquês da vida tão confusa que Amy Winehouse levava.
E esses porquês eram absurdos de se ouvir. Coisas como "ela fazia de propósito pela promoção na mídia", "isso é coisa de artista", "ela não soube lidar com a fama".
Muitos focam no abuso excessivo de álcool e drogas que, sim, era um problema mas não o problema. Era uma consequencia e não a causa.
Esses muitos comentaristas, enfim, só demonstravam que nada sabiam da pequena menina de grande voz e, sim, tão confusa, como qualquer outro portador de um transtorno de personalidade chamado borderline.
Eu, e tantos outros que sofremos desse distúrbio, conseguimos perceber que Amy tinha algo em comum conosco.
Evidente que há graus de comprometimento mas uma coisa era perceptível: Amy parecia tão perdida, tão sem lugar, que uma descrição (que vou reproduzir com minhas palavras) que ouvi num desses inúmeros programas pode ser útil dentro de tanta besteira que se falava:
Amy, no show que fez no Brasil, era uma garota pequena, mirrada, que quicava no palco, tão frágil; numa nota mais alta que alcançava e, com a qual, levava a platéia aos aplausos frenéticos, se assustava com tal demonstração, como se não fosse pra ela tal reconhecimento, como se nem houvesse aquela multidão, ali, para assistí-la.
Borders se sentem tão solitários, tão abandonados, rejeitados e vazios. São tão carentes e frágeis. Fico imaginando essa pequena border girl exposta ao mundo na sua fragilidade, nas suas dificuldades, sendo apontada, criticada e julgada.
O pai taxista de Amy, que como li na Isto é (reportagem que a Wally me passou - vide link abaixo) competia com a pequena menina a atenção da esposa dele, mãe de Amy.
E que, com o sucesso da filha, entrou numa carreira de músico ... o que a levou a depressão.
Amy, minha querida, qual era o seu lugar? Sempre que tentou existir, diziam a você: "não, aqui você não pode estar, aqui já tem alguém no lugar"
Borders, muitas vezes, por ter uma fragilidade na estrutura do ego, não conseguem ter sua própria opinião. Isso acaba os tornando influenciáveis.
Foi assim que Amy chegou ao álcool e as drogas. Conheceu seu (ex-)marido traficante, produtor que a iniciou nesse meio e no qual ela buscou um apoio. Daí a consequencia e não a causa. A causa era o transtorno.
Pelo que eu soube, afastada do (ex-)marido preso inclusive, ela estava namorando um jovem que não tinha vícios e que havia proposto ajudá-la a abandonar seus vícios.
Resultado: ele não aguentou a vida que ela levava e, alguns dias antes de sua morte, ele rompera o namoro.
Amy se machucava, bebia, se drogava, tinha problemas com comida - engordou uma época e, ultimamente, estava magérrima.
Nos últimos tempos não conseguia se dedicar a sua carreira.
Amy era borderline e tudo o que nós, borders, passamos e é tão doloroso ela estava vivendo publicamente. E isso me deixa tremendamente triste.
Fotos expostas, vida deliberamente escancarada.
A mídia ainda parece brincar com sua morte da mesma maneira que brincou com ela enquanto ela vivia ...
Não houve respeito algum... seu sofrimento foi mostrado (sem opção) publicamente e ela, sem escolha, foi sumindo a olhos vistos, aos pouquinhos ...
Amy, sinto muito por nós borders, pela discriminação e pelo desrespeito pelo qual passamos.
E sinto tanto por você, minha querida. Sinto pelo que sofreu, sem apoio, sem carinho, sem ter alguém com quem trocar seus maiores receios, que pra nós, borders, são tão profundos.
Amy, little border girl, eu te respeito. Espero que você, ao menos agora, tenha o seu lugar.