Por que tomar decisões é angustiante?!
Por que decidir algo me deixa tão desesperado, por quê?
Lembro-me de não saber o que fazer em vários momentos de minha vida, a ansiedade, o medo, a indecisão me tomaram conta nestes momentos, como ao ser mandado embora do emprego, por exemplo, a mudez tomou conta, mas o cérebro gritava.
Queria fugir e ao mesmo tempo rir, um conflito que surge entre as mais variadas informações que naquele instante parecem ferver. Uma mistura entre a indefinição e a indecisão, e apenas quando se sai do local, e se começa a andar é que toda a raiva e frustração ganham tamanho, as lágrimas correm, as palavras certas aparecem, as soluções daquele evento e não àquele que se encontra agora estar desempregado, sem aquele trabalho específico.
Na minha despedida do quartel, meu lar naquele pouco mais de ano, e eu estava perdido sem saber o que fazer, se corria ou ficava, por mais que tivesse planos, o medo me tomou posse e automatizei, fiz tudo como robô seguindo simplesmente...
O mesmo acontece com alguma ofensa recebida, há um instante mínimo de reação onde uma avaliação é realizada em micro tempo, e depois de uma reação adversa ao que somos é que na paz reinante nos vêm soluções de que aquilo era tão banal que nem merecia uma nota registrada nas páginas de nosso cérebro.
O mesmo acontece quando fui fazer o curso de montagem de motores, cheguei e ‘dei de cara’ com nomes de peças e funções que para outros seriam comuns, mas que para mim eram de outro planeta e tive de num instante tomar a decisão em desistir do curso ou encarar e processar em mim as novas informações, como em outros cursos que pareciam repetir as mesmas coisas de sempre e em mim tive de alimentar a esperança que talvez no final daquele curso houvesse de surgir um algo novo naquela reciclagem que fazia.
Quando acontecem estes eventos e o pânico me toma por inteiro eu tenho a tendência de me achar incompetente (baixa auto-estima), por que qualquer um que esteja por perto parece que é tão rápido a tomar decisão menos eu. Isso não acontece quando estou fazendo uma prova sozinho ou uma redação, ou quando estou desenhando ou pintando, ou quando estou escrevendo teatro ou atuando ou ensaiando um texto, por que são áreas em que eu domino muito bem e sei no meu planejamento cerebral todo o processo e execução.
O que me causa pânico é o desconhecido, o que acontece e me surpreende, e acredito que a trava que me atinge é o que espero, sempre espero o pior, tipo passar na sala do chefe para a demissão, ser chamado na secretaria e ser avisado que fui dispensado.
Fato que acontece em alguns grupos de teatro o medo de alguns atores e diretores com a competição, já tive experiência em certo grupo de sugerir outra abordagem e o diretor não gostar no momento da idéia e semanas depois implantar aquela idéia, aí tida como sua, demonstrando que não está preparado a ter esta concorrência à sua porta quero dizer no seu palco.
Também aconteceu com desenhos, faço design de jóias, na visita a uma empresa como funcionário da grife mantive contato direto com o presidente da renomada empresa e dias depois a minha chefe direta precisava de um email específico e eu disse que o possuía e ofereci, e ‘este email’ era o email pessoal do presidente da empresa e imediatamente fui chamado a conversar com o presidente da empresa do por quê e como eu o possuía (o email pessoal), também numa demonstração de medo de meus superiores: supervisora e chefe. E não demorou muito para que eu fosse substituído naquela terceirizada.
Estas tomadas de decisões podem se tornar criações monstruosas de acordo com nosso repertório sobre estes momentos, minha esposa sempre tenta amenizar dizendo que gosto de generalizar muito as coisas, mas tenho em mim que a cada momento existe um comando específico, mas que ele pode ser tranquilamente adaptável a outros similares.
As dificuldades no trabalho com as novas informações, que dia-a-dia pipocam de todos os lados, superar a si mesmo no desenvolvimento das funções e absorvendo este novo aprendizado causam em nós o sentimento do chamado ‘medo de perder’, sentimento que nos tira o essencial de uma resposta rápida e imediata, sei que devemos ser prudentes e até mesmo demorar a responder até obtermos informações suficientes de garantia, mas esta paralisia que pode nos acometer pelo medo pode ser o nosso afastamento de oportunidades de ação, nos privando de talvez até mesmo errar para recomeçarmos de novo.
E o conflito perdura ‘não sei se sento na esteira ou deito na cadeira, se caso ou adoto um cachorro’.
Por Abilio Machado. Ator, Dramaturgo e Acadêmico em Psicologia.