O Sono Tranquilo e a Segurança Nossa de Cada Dia

Você já observou a evolução da tecnologia em segurança, para fazer frente à violência das grandes cidades?
Pois é! Hoje, graças às cercas elétricas, ao número sem fim de kits de alarmes, câmeras, placas de captura, Gps e outros babilaques mais, podemos dormir tranqüilos, pois estamos todos resguardados; nós e nossos bens materiais.
Se não vejamos: um cara que conheço, montou perto do meu apê, um bar de comidas típicas do Mineirão, ou seja, feijão tropeiro, fígado com jiló, aquela coisa de comida de futebol, com direito à sujeira e tudo. E não é que seu comércio vem dando certo?
Agradou em cheio. Então é aquele vozerio no passeio, muita cervejada e cigarros, risadas e arrotos escandalosos, desde as primeiras horas das manhãs, à noite adentro.
E pra ser mais agradável, mandou pintar no espaço ao lado, também alugado, os escudos dos três principais clubes de futebol da cidade – América, Atlético e Cruzeiro. Ficou bonito. Muito bonito.
Instalou ali um telão, para transmissão do Campeonato Brasileiro de Futebol.
Seu próximo passo, foi o de proteger o patrimônio. Chamou uma especializada em segurança, que montou-lhe um super sensor, capaz de detectar qualquer presença ou movimento.
A partir daí, é que pode fechar o estabelecimento e ir embora sossegado, já que mora um pouco distante.
Daquela data em diante, comecei a prestar a atenção, no quanto podemos dormir tranqüilos, já que têm sido sistematicamente ampliadas, nossa segurança e proteção. Resolvi então relatar, como tem sido saudável, nosso sagrado descanso. Vejam só!
Os morcegos que sobrevoam as árvores na madrugada, são captados pelo sensível sensor do alarme do bar e imediatamente dispara um “uí, uí, uí, uí forte que, mesmo no mais profundo sono, agente acaba acordando. Mas é apenas um sustinho a toa. E se o alarme soou, e não for morcego, na manhã seguinte, o dono do bar, dará conta.
Podemos pois, continuar dormindo. E com segurança!
Um pouquinho mais tarde, - entre uma ou duas horas depois – costuma soar um outro disparo intermitente assim; siu, siu, siu, parecendo um assovio, só que eletrônico. Está aí outro susto a toa, com o qual não precisamos nos preocupar. Trata-se da guarda motorizada do bairro, pela qual cada morador paga a sua cota. E pra mostrar que ela está trabalhando, o motoqueiro aciona sua buzina e a aproveita para espantar qualquer bandido desavisado, que por ventura esteja rondando nossa janela, ou mesmo um automóvel estacionado na rua.
Vamos continuar dormindo, que não para por aí.
Sabe aquele outro barulhinho, de alguma coisa batendo em telha de zinco, ora cai um, ora cai dois, ou três juntos?
Pois é! É outra bobagenzinha. É aquela árvore grande, feiosa,despencando seus caroços - que aliás, até hoje não se sabe a que servem - no telhado da portaria da revendedora de gás, junto ao bar. Éh. É ela mesmo. Aquela que emporcalha a rua toda, com suas folhas secas,que de vez em quando o vizinho junta e põe fogo, produzindo aquela fumacinha gostosa pelo bairro todo, lá pelas cinco da manhã.
Seis da manhã? Ah sim!
Bom! Nessa hora, um micro ônibus para todos os dias em baixo daquela mesma árvore, a padaria já abriu, o motorista desce pro café e deixa o veículo ligado.
Mas ao contrário do que você pensa, não é para esquentar os nervos da gente. É para ir esquentando o motor do utilitário.
E como tal, começamos a utilizá-lo bem cedo.
Bem; nesta hora, aquele cachorrão branco, peludo, bonito e bem cuidado, do vizinho d'outro lado, dispara a latir fazendo eco no quarteirão.
Taí, outra coisinha de que não devemos nos preocupar.
Já nesta altura do campeonato, os ladrões estão com sono e já devem estar chegando em casa pra dormir. Bom pra nós portanto!
Também, com um cão de guarda assim, podemos ficar tranqüilos.
Depois também, seu latido nem sempre é sinal de perigo.
Às vezes é o cheiro, ou o vulto de um vira-lata, passando em seu portão, ou mesmo um trabalhador, de muchila e marmita arrumadas, esperando a lotação. É que os cães não suportam ver sacolas, guarda chuva, nada que constitui uma ameaça para eles.
Como vimos, podemos com segurança, continuar nosso tranqüilo e merecido sono. Agora, caso meia hora depois, você acordar com um “fom,fom,fom – fom,fom,fom” , nada de preocupação; é o padeiro trazendo o pão até a sua porta.
Tá ruim? Na verdade, o que ele quer mesmo é resgatar-lhe as boas lembranças da infância, quando das férias interioranas, gozadas na casa da vovó. Bom demais, não é?
Agora cá pra nós. Você não acha que está querendo muito não?
Chega de dormir. O dia está claro e seu patrão conta com você.
Acorda brasileiro! Acorda!
Afonso Rego
Enviado por Afonso Rego em 27/07/2011
Reeditado em 11/04/2012
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