FOME, OBESIDADE, DESPERDÍCIO: UM PROBLEMA DE TODOS NÓS

(*) Por Antônio Coquito

A afirmativa do senso comum de que o Brasil é o país da contradição traz à tona, no campo da alimentação e nutrição, desafios que o Sistema Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) e Conselhos Regionais de Nutricionistas (CRNs) colocam em debate e busca de soluções na sociedade brasileira. Trata-se da Campanha “Fome, Obesidade, Desperdício: Não Alimente este Problema”. A ação é um chamado a todos os nutricionistas e técnicos em nutrição e dietética; bem como, a toda sociedade, para assumir um papel de conscientização pública e reversão de indicadores preocupantes.

O intuito da Campanha é fomentar na sociedade a reflexão que leve a atitudes. Somos um dos principais produtores de alimentos do planeta. Temos a maior e mais rica oferta de produtos alimentícios. Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (ONU- FAO) mostram que o Brasil produz 25,7% a mais de alimentos do que necessita para alimentar toda a população. Porém, desta realidade, constamos que uns comem de menos- em condições inadequadas. Já outros, demais e com hábitos alimentares nada saudáveis. E, por fim, outros destinam boa parte dos alimentos ao lixo, configurando-se em toneladas de desperdício.

FOME

A radiografia da fome deve nos incomodar para a busca de soluções urgentes. Dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) relativa a 2009 apontam que 11,2 milhões de pessoas passaram fome no período. Os números dão conta de que 30% (trinta por cento) dos lares brasileiros não têm acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente.

A Pnad mostra que a fome brasileira tem uma identidade nordestina, rural, pobre, negra e de baixa escolaridade. Segundo dados da pesquisa, a situação de insegurança alimentar atinge cerca de 8,6% (nível moderada) e 7% (nível grave). Já na área urbana, os dados são de 6,2% (moderada) e 4,6% (grave). Em se tratando de regiões, o norte e o nordeste do Brasil apresenta níveis inferiores à média nacional, no que se refere à segurança alimentar. Os estados com situação mais grave são Maranhão (35,4%) e no Piauí (41,4%. A pesquisa constata que, nestes estados nem a metade da das residências têm alimentação saudável e em condições adequadas. A região Sul é a que tem melhores condições.

O grau de instrução está ligado diretamente às condições de insegurança alimentar. Os dados da Pnad mostram que sendo menor a escolaridade, mas precária é a alimentação. Segundo a pesquisa “em 2004, 29,2% dos moradores sem instrução ou com menos de um ano de estudo apresentavam restrição na quantidade de alimentos moderada ou grave.” Já em 2009, a proporção caiu para 20,2%”. Mesmo tendo melhorado os indicadores, a situação continua a desafiar os profissionais da área de nutrição.

OBESIDADE

O aumento de peso da população brasileira dá indícios de que temos um problema de saúde pública. Segundo dado da Organização Mundial de Saúde (OMS) existem no mundo mais de 1 bilhão de adultos com sobrepeso e 300 milhões com obesidade. Os profissionais de saúde e, no caso, os nutricionistas e técnicos em nutrição sabem das conseqüências. A obesidade é fator de risco para problemas cardiovasculares, de diabetes, hipertensão arterial e certos tipos de câncer. Na saúde pública, o quadro de obesidade brasileira reflete em 1,5 bilhões na conta do Sistema Único de Saúde – SUS

Dados do Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE apontam que a obesidade cresce em todas as regiões do Brasil. Os números afirma que “o sobrepeso atinge mais de 30% das crianças entre 5 e 9 anos de idade, cerca de 20% da população entre 10 e 19 anos e nada menos que 48% das mulheres e 50,1% dos homens acima de 20 anos.” Levando em conta o poder aquisitivo, “entre os 20% mais ricos, o excesso de peso chega a 61,8% na população de mais de 20 anos. Também nesse grupo concentra-se o maior percentual de obesos: 16,9%. No ritmo em que estamos, a previsão do IBGE é que em 10 (dez) anos possamos atingir os padrões norte-americanos.

Atenta aos dados de obesidade e sobrepeso, a Assembléia Mundial da Saúde - entidade deliberadora OMS - chamou a atenção para o problema. Em seu documento chamado Estratégia Global em Alimentação, Atividade Física e Saúde, a instituição chama a atenção dos governos de todos os países se comprometem a implementar políticas que estimulem padrões saudáveis de alimentação e de atividade física.

DESPERDÍCIO

A trajetória do desperdício começa na produção de alimentos. O IBGE deu o alerta: “estamos desperdiçando cerca de 6 milhões de toneladas de alimentos.” Explicitando o desperdício, dados do Instituto Akatu, que trabalha pelo consumo consciente, 44% do que é plantado se perde na produção, distribuição e comercialização. Sendo, 20% na colheita, 8% no transporte e armazenamento, 15% na indústria de processamento e 1% no varejo. No consumo caseiro e hábitos alimentares, as perdas acumulam mais de 20%. No total, o desperdício significa algo em torno de 64%.

Os números do Akatu sinalizam que ao mesmo tempo em que 14 milhões de brasileiros passam fome, “o restante da população joga no lixo 30% de todos os alimentos comprados.” Os dados o Akatu são reforçados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) constata que o brasileiro desperdiça mais do que consome. Os dados do IBGE confirmam o consumo de 35 quilos por ano. Unindo os dados da Embrapa e do IBGE a perda é 2% maior do que o consumo. O índice de hortaliças chega a 37 quilos. Esta situação tem um perfil que aponta 20% (vinte por cento) acontece em casa, 15%(quinze por cento) nos restaurantes.

A preocupação com uma ampla conscientização sobre o desperdício tem conseqüências econômicas, ambientais e sociais. Dedicando-nos a combater o desperdício e a promoção de bons hábitos alimentares, estaremos proporcionando o acesso ao alimento para boa parte da população. Junto destas, levando bem-estar e vida saudável.

SOLUÇÕES

Onde há problemas, temos que buscar saídas e soluções. As iniciativas de reversão dos dados assustadores são diversas, e podem ser implementadas por cada um. As atitudes envolvendo os mais diversos atores sociais podem ser diversas. O importante é conhecer o contexto e agir. Um exemplo é a aquisição de produtos locais e/ou regionais, além de mais saudáveis e com custo mais baixo, contribuem para diminuir a poluição e o desperdício causado pelo transporte.

Em casa, nos restaurantes, nas escolas e instituições – podemos implantar a cultura do aproveitamento integral dos alimentos. No preparo, sempre que possível, reutilizar as cascas e talos. Todos podem resultar em sucos e tortas; bem como enriquecer arroz, sopas, risotos e outros.

A intervenção nas políticas públicas - municipais, estaduais e nacional - de saúde e de alimentação e nutrição, devem fazer parte da agenda dos nutricionistas e técnicos. As políticas e programas sociais se tornam canais efetivos de implementar ações com olhar local; que contribuam na reversão de quadros próximos à atuação do profissional de nutrição.

(*) Antônio Coquito é jornalista socioambiental com especialização em Marketing e Comunicação com ênfase em temáticas sociais -Terceiro Setor- Responsabilidade Social - Políticas Públicas. Também, Também em Comunicação e Direitos Humanos com ênfase em Educação e Cidadania. É Assessor de Comunicação do Conselho Regional de Nutricionistas de Minas Gerais - Contatos: assessoriadecomunicacao@crn9.org.br

Antônio Coquito
Enviado por Antônio Coquito em 03/07/2011
Código do texto: T3073361
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.