E SE O BICHINHO MORRER? COMO LIDAR COM O LUTO NA INFÂNCIA

Ter um bichinho de estimação em casa é uma alegria, principalmente para as crianças e e casais sem filhos. Ter um bichinho em casa faz bem para a saúde mental dos humanos.

Um detalhe escapa aos apaixonados pelos animais: geralmente a vida do bichinho é mais curta que a humana, alguns sofrem pelos maus tratos e a falta de liberdade, portanto, é preciso estar prevenido sobre sua fuga ou perda definitiva.

Por sua vez, a criança imagina que o bichinho de casa é parte da família. Se pedirmos para a criança fazer um desenho, provavelmente demonstrará que o bichinho habita seu imaginário como se fosse gente, um membro normal da família.

Daí que a perda do bichinho – por morte ou fuga – normalmente é sentido com tristeza, luto, angústia ou culpa, podendo durar dias, meses ou anos. Adultos também sofrem quando perdem o seu bichinho de estimação.. Qualquer perda gera vazio existencial.

Que podem fazer os pais? Em primeiro, devem levar a sério o sentimento de perda da criança. Jamais fazer pouco caso, dizendo “Era só um animal” ou “Podemos arrumar outro”. Agir com insensibilidade não ajuda a criança a elaborar o seu luto. A substituição do animal na ausência da criança, por exemplo, substituir o passarinho que morreu por outro igual quando a criança esta na escola, só reforça a dificuldade de nós, adultos, em lidar com as perdas.

A melhor forma de enfrentar esses problemas é falando sobre eles, tomando consciência, por meio da palavra, do significado de quem foi embora, que fazer com o vazio de agora.

Em segundo lugar, os pais devem respeitar o choro da criança; respeitar o tempo de sofrimento da perda que todos nós precisamos ter para reorganizar o sentido de existência. Tentar acabar a tristeza com broncas e rispidez só faz piorar as coisas.

Terceira sugestão: convidar a criança para fazer o enterro do bichinho. Estimulá-la a dizer palavras de despedida. Isso mesmo. Por que não homenagear um ser que nos foi muito importante para o desenvolvimento da criança, que lhe deu tantas alegrias e proporcionou tantas brincadeiras?

Quando falamos em perdas nos referimos não só a perda simbólica, fuga do animal de estimação, por exemplo, mas também das perdas reais, ou seja: MORTE

A perda de um bichinho – ou pessoa querida – exige tempo e cuidados especiais para ser superada. Também pode ser uma boa oportunidade para esclarecimento de questões fundamentais sobre o significado da vida.

Para as crianças com até dois anos de idade a morte é percebida como ausência e falta, ou seja, ainda não conseguem perceber que é definitivo. Quando uma morte ocorre, a criança irá procurar a presença do bichinho ou da pessoa morta e experiência uma sensação de perda, mas, intelectualmente não pode entender a permanência desta perda.

Já as crianças de três a cinco anos compreendem a morte como um fenômeno temporário e reversível, em contrapartida as de seis a nove anos já percebem que a morte é irreversível.

As crianças de 10 anos até adolescência já possuem geralmente um pensamento formal, onde o conceito de morte torna-se mais abstrato (conseguem pensar em alma) e compreendem a morte como inevitável e universal.

Contraditoriamente à crença popular, a maioria das crianças e adolescentes quer falar sobre a morte. Os pais precisam superar sua dificuldade e resistência para conversar assuntos considerados tabus, como a: morte, sexualidade, drogas etc. Apesar da morte ser um assunto tão banalizado na mídia, ela ainda se constitui um tabu. Podemos dizer que, por um lado, a morte e o morrer tornaram-se banalizados, e por outro, ela continua sendo um tabu nas conversas ou na disposição para se pensar sobre o impensável – pois nosso inconsciente não tem representação, tal como entendia Freud.

A verdade é que amadurecemos psicologicamente quando encaramos o sofrimento, a dor, a morte ou o vazio existencial. O ideal mesmo seria que todos nós pudéssemos crescer através apenas do amor e não através da dor e de tanto pesar.

Isaura von Zuben Lemos
Enviado por Isaura von Zuben Lemos em 15/03/2011
Código do texto: T2849049
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