FREQUÊNCIA DE LOMBALGIA EM TRABALHADORES DA CONTRUÇÃO CIVIL NUM CANTEIRO DE OBRAS EM SALVADOR BAHIA
FREQUÊNCIA DE LOMBALGIA EM TRABALHADORES DA CONTRUÇÃO CIVIL NUM CANTEIRO DE OBRAS EM SALVADOR BAHIA
Autoras:
Isabel Bispo Almeida
Faculdade de Fisioterapia, Universidade Católica do Salvador (UCSAL)
E-mail: bebel.999@hotmail.com
Verena Loureiro Galvão
Mestrado em medicina e saúde humana pela Fundação Bahiana para o Desenvolvimento das ciências, FBDC, Brasil (2008)
Professor assistente da Universidade Católica do Salvador, (UCSAL) Brasil.
E-mail: verena.fisio@hotmail.com
Resumo: O presente estudo objetivou estimar a freqüência de lombalgia em trabalhadores da construção civil num canteiro de obras da capital baiana. Foi realizado um estudo descritivo de corte transversal com operários civis. Utilizou-se como instrumento de investigação um questionário e escala visual analógica de dor. Participaram 106 trabalhadores. Da amostra selecionada 34% referiram lombalgia sendo a dor manifestada no repouso, com surgimento durante o trabalho da obra. A maior prevalência foi evidenciada em operários adultos jovens masculinos, cor não-branco, a qual exercia atividade laboral de intenso esforço físico, em postura antiergonômica. Observou-se tratamento prévio e história de afastamento do trabalho. Os resultados encontrados demonstraram a necessidade de introduzir ações educativas, medidas preventivas com programa de fisioterapia laboral, orientações posturais e correções ergonômicas. Tais políticas são relevantes para melhoria da qualidade de vida e preservação da saúde ocupacional dos operários civis.
Palavras chaves: Lombalgia; Saúde do trabalhador; Ergonomia
Abstract: This study aimed to estimate the frequency of low back pain in construction workers on a construction site in the capital of Bahia. A cross sectional study with workers was conducted. It was used as a research tool a questionnaire and an analog visual scale of pain . Participants 106 workers. From the selected sample, 34 % reported only lumbalgia, according to the analogue visual scale, with pain being manifested at home, beginning during their work at the site. The highest prevalence was found in young adults, male,The labor activity which exerted intense physical effort in anti ergonomic posture. There was a previous treatment and history of absence from work. The results demonstrated the need to introduce educational, preventive measures with a physiotherapy program at work, ergonomic posture guidance and correction. Such policies are relevant to improving the quality of life and preservation of the occupational health of construction workers.
Key words: Low back pain; Occupational Health; Ergonomics
INTRODUÇÃO
As alterações na região lombar são caracterizadas por eventos álgicos que podem ser agudos ou crônicos, ocasionados por desordem funcional e pela mobilidade que a coluna exerce predispondo a desgaste das vértebras. O desequilíbrio biomecânico modifica os movimentos da coluna lombar, enfraquece a musculatura e conduz à dor e restrição de movimentos. (Pereira et al., 2006; Mendes, 2005;Toscano et al., 2001) A lombalgia é uma disfunção osteomuscular muito comum entre os indivíduos sendo um dos fatores desencadeante de incapacidade funcional é considerada um problema de saúde pública. Possui grande importância clínica e epidemiológica, sendo o grande motivo de absenteísmo na vida dos trabalhadores. (Picoloto, Khouri et al., 2008; Mendes, 2005; Ferreira, Rosa et al., 2000)
Estimativas internacionais apontam que a dor lombar tem alcançado padrões epidêmicos onde aproximadamente 70 a 85% da população mundial refere essa dor em alguma fase da vida. (Almeida et al.,2008; Azevedo 2008; Toscano et al., 2001; Greve et al.,1999) A elevada prevalência da sintomatologia músculosquelética que ocorre em várias categorias profissionais, tem semelhança com dados estimados concernente ao operário civil devido à maneira incorreta de manusear carga, executar movimentos repetitivos e permanecer em posturas inadequadas no trabalho. (Santana et al., 2004) A soma destas ações na coluna provocam micro traumas mecânicos por esforço físico excessivo e também por diversos tipos de tensão psicológica que levam ao estresse associado à falta de condições ergonômicas enfrentados pelos trabalhadores no canteiro de obras. (Reis et al., 2007; Santana et al., 2004; Walsh et al., 2004)
Dentre as doenças de alto risco, as principais relacionadas ao trabalho na construção civil ocorrem comumente por movimentos de repetição, posturas viciosas, manuseio inadequado e sobrecarga em demasia que causam lesões e provocam distúrbios osteomusculares. Consequentemente, as lesões adquiridas pelos operários civis decorrente do estresse físico exercido nas atividades, desenvolvem as lombalgias, hérnias discais e desvios posturais1 que levam ao afastamento do trabalho e custos para o sistema de saúde, com aumento de gastos para o governo. (Vicentini, 2009; Reis et al., 2007; Santana et al., 2004; Ferreira e Rosa, 2000)
Fatores ergonômicos, pessoais, ocupacionais, clínicos e psicológicos analisados em pesquisas, apresentaram relação significativa com a capacidade de o trabalhador exercer sua função sem relatos de dor lombar associada à sobrecarga do aparelho locomotor. (Pereira et al., 2006; Santana et al., 2004) Alguns pesquisadores tais como Toscano 2001, Khouri e Reis et al., 2008, preconizaram que as lombalgias ocorrem mais comumente em pessoas sedentárias, com isso a vulnerabilidade do sistema musculoesquelético, promove maior disposição para disfunção na coluna, que geralmente se desenvolve durante desempenho da atividade laboral.
O trabalho da construção civil se caracteriza no âmbito nacional, como um dos setores de maiores índice de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais1 pelos perigos expostos aos operários, essencialmente de origem ergonômica, na qual se desenvolvem ao levantar e transportar cargas e executar constantes movimentos de repetição. (Vicentini, 2008; Santana et al., 2004) Os estudos sobre disfunção lombar têm aumentado a fim de aprimorar prevenção, causa e tratamento pelo fato da elevada prevalência na população e pelo importante impacto sócio-econômico de efeito negativo. (Khouri et al., 2008) Por ser uma das queixas mais freqüentes pelos pacientes, a busca por atendimento médico tem crescido em hospitais e clínicas para tratamento das afecções lombares. (Greve et al., 1999) As evidências científicas sugerem que a resolução da dor apenas de forma medicamentosa torna-se ineficaz . É importante incorporar medidas educativas e ações promotoras de saúde no campo de trabalho para conscientizar os trabalhadores, prevenir os distúrbios lombares e ofertar bem estar na execução da atividade profissional. (Picoloto et al., 2008; Arcanjo et al., 2007;Reis et al., 2007)
Alguns setores de produção industrial têm aplicado sistema de orientação ergonômica bem como fisioterapia laboral para assegurar melhoria no ambiente profissional com saúde e qualidade de vida. Essas medidas vêm crescendo devido exigência do Ministério do Trabalho às empresas para que doenças ocupacionais no trabalhado sejam evitadas. (Reis et al., 2007; Falcão et al 2006;Toscano et al., 2001) O contexto apresenta suma importância no cotidiano do operário civil sendo fundamental para o sistema empresarial proporcionar segurança no trabalho.
Considera-se importante verificar a ocorrência de alterações funcionais na região lombar para sugerir mudanças de ordem ergonômicas no ambiente laboral dos operários civis, com instruções educativas e programa de fisioterapia laboral para garantir vida saudável no trabalho. Assim, o presente estudo objetivou estimar a freqüência de lombalgia referida por trabalhadores da indústria civil na cidade do Salvador, Bahia.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de um estudo descritivo transversal realizado com trabalhadores de uma empresa de médio porte de construção civil, localizado na cidade de Salvador, Bahia. Foi considerado como critério de inclusão estar trabalhando na obra durante o período de coleta de dados. Os dados primários foram obtidos por meio da aplicação de formulário no canteiro de obras da construtora. O instrumento de coleta foi elaborado pelas autoras contendo dados sócio econômico, demográficos, ocupacionais e clínicos. A escala visual analógica de dor também foi utilizada. O instrumento foi calibrado com estudo piloto com alguns indivíduos no canteiro de obras e estes não foram considerados como população de estudo.
O projeto foi encaminhado à diretoria da empresa e após a análise do engenheiro civil com os diretores a pesquisa foi autorizada. Os dados foram coletados dentro do canteiro de obras pela autora do estudo no período de março a maio de 2009 em dias alternados no turno matutino. Após esclarecer a importância da pesquisa, era feita a coleta dos dados entrevistando individualmente cada trabalhador.
As variáveis sócio-demográficas foram nome, sexo (masculino ou feminino); idade (em anos), estado civil (solteiro, casado/união estável ou viúvo); cor da pele (branco, pardo, preto); Peso (em quilogramas), altura (em metros), IMC (definido pela divisão da altura pelo quadrado do peso). Grau de escolaridade baixo – até ensino fundamental incompleto, médio – até ensino médio completo e alto – até nível superior completo, renda baixa até um salário mínimo, média até dois salários mínimo e alta acima de dois salários mínimos. As variáveis ocupacionais foram definidas como profissão/função na obra (pedreiro, ajudante de pedreiro, instalador/montador de andaime e elevador, pintor, eletricista, carpinteiro, encanador, servente e outras); a postura adotada durante o trabalho (sentado, de pé, agachado), manuseio de carga, dor devido trabalho, jornada de trabalho em horas, única fonte de renda, atividade física e outra ocupação. As variáveis clínicas relativas à dor músculosquelética também foram questionadas como o local da dor, o tipo de dor, início da dor, o período de dor, o momento em que a dor piora, afastamento do trabalho, atendimento médico, se fez tratamento, interferência nas AVD’s, patologia associada, conhecimento sobre causa e prevenção de dor lombar.
O banco de dados foi formulado no software Excel XP, onde foram analisados possíveis erros de consistência e tabulação dos dados. As informações foram apresentadas em forma de tabelas de modo a permitir melhor visualização e interpretação dos dados encontrados no estudo. O programa estatístico utilizado foi o SPSS versão 13.0. A verificação da associação entre as variáveis estudadas foi feita através do teste T-student. Foram consideradas como estatisticamente significantes as associações com o p-valor menor que 0,05.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Tecnologia e Ciência protocolo Nº 0771. Para participar da pesquisa todos os sujeitos assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido baseado na resolução 196/96, o qual continha os objetivos do estudo, os procedimentos e a segurança do anonimato absoluto, a confidencialidade das informações obtidas, respeitando-os em sua autonomia e que os interesses envolvidos seria tratada de forma ética, além de previamente ser acordado com os diretores e engenheiro da construtora.
RESULTADOS
Foram localizados 122 trabalhadores no canteiro de obras e 106 preencheram os critérios de inclusão que representou um percentual de 87%. Houve perda de 16 trabalhadores que não quiseram participar da pesquisa formando uma taxa percentual de 13%. A justificativa da não participação foi interesse em não parar o trabalho para evitar atraso na obra.
As características sociais econômicas e demográficas da população estudada foram dispostas na Tabela 1. Observa-se que dos indivíduos 96 (90,6%) eram predominantemente do sexo masculino, 75 (70,8%) com idade de até 35 anos, 59 (55,7%) tinham peso a partir de 70 kg, 84 (79,2%) com altura acima de 1,65, (56,7%) apresentaram IMC normal compatíveis a peso ideal, sendo que havia 13 (12,2%) operários com obesidade. Com relação à situação conjugal 60 (56,6%) considerados solteiros, cor da pele verificou-se que 94 (88,7%) deles eram não-brancos. Renda considerada baixa de até um salário mínimo foi evidenciada para 71 (67%) trabalhadores. Foi identificada escolaridade baixa em 58 (54,7%) operários e 101 (95,3%) eram naturalizados da capital baiana. Ao analisar as características sócio demográficas da tabela 1 não foi observado associação significativa em peso, altura, IMC com presença de lombalgia entre os operários. Entretanto, observou-se associação significativa entre sexo, idade, cor da pele, escolaridade, renda e situação conjugal.
Na Tabela 2 apresentam-se as características referentes ao exercício do trabalho na população estudada sendo que 33 (31,1%) operários afirmaram manusear carga no trabalho. Foi observado que em relação à postura no trabalho 74 (69,8%) exerciam sua função apenas em uma postura (sentado, de pé ou agachado) e 32 trabalhadores desenvolviam sua função em duas ou mais posição. Referente à queixa de dor 50 (47,2%) confirmaram sentir dor devido o trabalho que exerce, dos entrevistados 35 (33,0%) afirmaram desempenhar outra atividade laboral. Foi observado que 71 (67,0%) possuíam apenas o emprego na obra como fonte de renda, com relação à atividade física 33 (31,1%) disseram praticar ocasionalmente. Quanto à ocupação no canteiro de obras foram encontrados 09 (8,5%) trabalhadores que exerciam função considerada de leve esforço físico (assistente administrativo, engenheiro civil, apontador, almoxarife, técnico de segurança e porteiro), 43 (40,6%) profissionais que executavam tarefas de moderado esforço físico (carpinteiros, pedreiros, eletricistas, pintores, encarregados, gesseiro e vidraceiro) e 54 (50,9%) operários que desenvolviam atividades de intenso esforço físico (ajudantes prático, operadores de máquina, serventes e encanadores). Quanto ao tempo de profissão 79 (74,5%) trabalhadores tinham até 10 anos de serviço e 27 (25,5%) trabalhadores relataram ter acima de 10 anos de profissão. Com referência a jornada de trabalho obteve uma média de 8,3 (DP=0,9). Ao realizar correlação com as atividades laborais foram encontradas associações significativas entre manuseio de carga, postura no trabalho, outra ocupação, atividade física e dor devido o trabalho. Porém, observou-se ausência de associação significativa entre única fonte de renda, função na obra e tempo de serviço.
Na Tabela 3 estão dispostas as informações relacionadas com as características das queixas de dor nos trabalhadores civis e mostra que 34 (32,1%) referiram sentir apenas dor lombar, outra parte 16 (15,1%) alegaram dor lombar associada à coluna torácica e/ou cervical bem como algia correlacionada com os membros pernas e/ou braços. Segundo os resultados dos entrevistados 35 (33,1%) dos operários classificaram a sintomatologia álgica sendo do tipo localizada, 24 (22,6%) afirmaram que essas dores se manifestam em repouso, 29 (27,3%) afirmaram sentir dor há mais de 12 meses. Em relação ao início da dor 30 (28,3%) disseram ter surgido após trabalhar na construção civil, 17 (16,1,0%) afirmaram que a dor interfere nas AVD’s e 11 (10,4%) relataram que já se afastaram do trabalho por causa da dor. Com relação à assistência médica 17 (16,1%) afirmaram ter procurado atendimento médico sendo que 36 (34,0%) não fizeram tratamento. A aplicação da EVA (escala visual analógica) apresentou um resultado de 3 com desvio-padrão de 3,0 revelando quadro de dor relativamente suportável. Dos entrevistados 05 (4,7%) disseram ter alguma patologia associada.
A Tabela 4 apresenta a associação referente à análise da presença de dor lombar de acordo com as variáveis estudadas e demonstra que as queixas álgicas estavam relacionada em 21 (61,8%) operários com idade menor ou igual que 35 anos, 30 (88,3%) eram do sexo masculino, 30 (88,3%) não branco, sendo 19 (55,9%) solteiros, 16 (47,1%) apresentaram IMC acima do peso, 19 (55,9%) com ensino fundamental incompleto, 21 (61,8%) com renda de até 2 salários mínimos, 17 (50%) desenvolviam tarefas dispendiosa com intenso esforço físico, 23 (67,7%) exerciam a função apenas em uma postura, o tempo de profissão foi menor que 10 anos em 27 (79,4%), surgimento das dores ocorreram depois do trabalho na obra em 30 (88,3%) operários, 24 (70,6%) dos operários já realizaram tratamento e necessitaram de afastamento do trabalho.
Na Figura 1 encontram-se os dados de 32,1% de freqüência de lombalgia entre os trabalhadores civis observa-se que 15,1% com outras algias no segmento da coluna lombar, torácica e/ou cervical associado a algum membro concomitante.
DISCUSSÃO
A freqüência de lombalgia entre trabalhadores da indústria civil em um específico canteiro de obras na cidade de Salvador, Bahia foi elevada e os principais fatores associados foram ser do sexo masculino, ter idade adulta jovem, ter renda considerada média e baixa escolaridade apresentando IMC elevado. Observa-se também que manusear carga de forma inadequada, permanecer em apenas uma postura durante execução da função, desenvolver tarefa de intenso esforço físico, geram queixas álgicas que podem surgir depois do trabalho da construção. Evidenciou-se que os sintomas foram freqüentes inclusive para aqueles que já buscaram assistência médica e já se afastaram do trabalho temporariamente.
Os resultados do presente estudo são semelhantes com os estudos de Falcão et al., 2006, onde evidenciaram a incidência de lombalgia em aplicadores de cola no sexo masculino ao executar movimentos repetitivos em membros superiores e tronco na postura ortostática. No estudo de Silva et al., 2004, foi encontrado risco elevado para dor lombar crônica no sexo feminino, pelo fato da mulher desempenhar dupla jornada de trabalho e pelas características anatômicas e funcionais que favorecem as lombalgias. Entretanto, Rosa et al., 2000, ao estudar operários civis encontrou elevada incidência de lombalgia em trabalhadores que exerciam as funções de maior gasto energético como pedreiros, armadores de ferragens, operador de máquina, eletricistas e servente de pedreiros.
De acordo a função que o trabalhador executa no canteiro de obras seja de pintor, encanador, pedreiro ou outra, é necessário manter o corpo em determinada postura por algum tempo. Com isso ocorre maior dispêndio de energia para manter o equilíbrio, a coordenação e a postura no cumprimento da tarefa. Essas atividades desenvolvidas requerem elevado esforço físico ao manusear cargas e equipamentos, geralmente conduz ao comprometimento de estruturas articulares e musculares. (Rosa et al., 2000)
No presente estudo a freqüência de lombalgia foi identificada em operários adultos jovens em idade produtiva. Os achados nessa faixa etária podem estar relacionados com a intensa execução da atividade laboral. Já Loney et al., 1999, num estudo populacional evidenciou a prevalência de lombalgia crescente em indivíduos com faixa etária de 40 a 60 anos. Almeida et al., Azevedo et al., 2008, correlacionaram no seus estudos, a prevalência de lombalgia com o avanço da idade, na qual sucede do desgaste natural das estruturas articulares e sistêmicas e pelo surgimento ao longo do tempo de patologias crônicas como doenças reumáticas.
Picoloto et al., 2008, contextualizaram a baixa escolaridade como um fator de risco para queixas álgicas, pois em geral os trabalhadores com baixo nível de instrução, conseguem mais oportunidade de trabalho na atividade de produção, a qual solicita do corpo maior esforço físico. Na população estudada houve um número significativo de operários com baixa escolaridade, esta situação pode estar relacionada com dor lombar.
Este estudo revela que os sujeitos que relataram sentir dor lombar, grande parte estava acima do peso, um discreto número com obesidade grau I de acordo o IMC e um elevado percentual de operários não praticavam atividade física. Pesquisadores como Domínguez et al., 2002, em estudo num centro universitário, atribuiu queixa de lombalgias por sedentarismo em alguns entrevistados, porém, Azevedo et al., 2008, observaram a prevalência de lombalgia em indivíduos com peso normal e acima do peso, essa informação demonstra a multifatoriedade do problema. Isso denota que o sobre peso assim como o sedentarismo foram considerados fatores que provocam disfunção lombar podendo estar associados. Esta condição além de desencadear alterações emocionais favorece a busca por assistência médica a fim de reduzir os sintomas álgicos.
Pesquisadores como Vicentini, 2008, Picoloto et al., 2008 ao realizarem estudos com trabalhadores metalúrgicos e operários civis respectivamente, concordaram no que diz respeito à carga horária diária de 9 horas de trabalho. No presente estudo, foi verificado que diversos operários trabalhavam continuamente, realizavam horas extras e muitas vezes dormiam no canteiro de obras, por exigência de chegar cedo ao trabalho e pela demanda da atividade que exercia. Dessa forma, faz-se necessário que sejam introduzidas pequenas pausas a cada turno pelo intenso ritmo de atividades laborais.
Nesse estudo, os operários entrevistados no canteiro de obras relataram manusear carga e equipamentos, não sabendo especificar em quilogramas a quantidade equivalente. Reis et al., 2007 e Guimarães et al., 2001, nos seus estudos sobre a análise do transporte manual de carga entre operários civil, confirmaram alteração biomecânica devido à sobrecarga no aparelho locomotor e consideraram que o peso manuseado era desproporcional à massa corporal do indivíduo. Araújo et al., 1996 ao avaliarem riscos ergonômicos num canteiro de obra onde ocorre o freqüente manuseio de areia, brita, cimento, ferragens, madeira, tijolos dentre outros, identificaram a necessidade de implementar medidas adequadas para que os operários sejam informados das técnicas corretas para levantar e transportar cargas. Porquanto os mesmos não recebiam dos dirigentes treinamentos e/ou instruções referente a cuidados posturais. Esses autores ainda relataram a necessidade de estabelecer limites para que o manuseio de carga não exceda a capacidade física do operário. A percepção dos pesquisadores em relação ao transporte de carga é concordante com o presente estudo, na qual questiona sobre o excesso de peso e a forma inadequada de manusear ser um fator favorável, para desencadear lesões osteomusculares e algias que comprometem a saúde do trabalhador.
Dentre os trabalhadores da construção civil, grande parte desempenha suas funções laborais em postura ortostática, por muitas horas e sem intervalo, os mesmos referiram dores lombares após o trabalho. No estudo de Ribeiro et al., 2005, com gesseiros foi relatado dor lombar e desconforto muscular, após jornada de trabalho pela permanência em postura anti ergonômica, já Picoloto et al., 2008, afirmaram que a atividade contínua na postura sentada causa tensão na coluna e elevada pressão intervertebral favorecendo lombalgia. O trabalho por várias horas sentado favorece má postura, fraqueza dos músculos abdominais e exaustão dos paravertebrais, essa condição favorece dor lombar.
Levangie et al.,1999, nos seus estudos, notaram que o índice de massa corpórea e o nível de atividade exercida várias horas sentado ou em pé diariamente não foram fatores de risco importantes para desenvolver lombalgia demonstrando uma fraca associação positiva para essa afecção. No entanto, Siqueira et al., 2008, no estudo com fisioterapeutas, constataram entre a maioria dos profissionais, a permanência em postura inadequada no trabalho durante horas. A afirmativa revela um importante fator que favorece algias na coluna lombar com a sobrecarga imposta aos músculos posturais sustentado por longo tempo.
Verificou-se neste estudo, um percentual pequeno de operários que relataram afastamento do trabalho por conta da dor. Esses dados justificam um possível quadro álgico suportável, podendo ser tolerável sem necessitar de afastamento temporário. Rosa et al., 2000, evidenciaram entre os operários, uma fração de licença médica por motivo de lombalgia. Todavia, Gurgueira et al., 2003, ao investigarem a presença de sintomas osteomusculares em profissionais de enfermagem constataram que a lombalgia foi a queixa principal, e consideraram como causa primária que geralmente leva ao absenteísmo de curto a longo período. Entretanto, Walsh et al., 2004, afirmaram que, os longos períodos de afastamentos do trabalho por causa da evolução das lesões músculo-esqueléticas, com sintomas intensos de parestesias e fraqueza muscular, limitam o trabalhador para exercício de suas atividades diárias e ocupacionais, que pode comprometer sua capacidade funcional e laboral e gerar custos para o sistema de saúde. Mendes, 1988 há décadas, manifestou questionamentos concernentes às conseqüências da lombalgia como causa de incapacidade e/ou invalidez para o trabalhador, e enfatizou a necessidade do setor de saúde prevenir e não apenas tratar.
No estudo de Rosa et al., 2000, com operários da construção civil foi considerado alta incidência de lombalgia, e foi identificado que os sujeitos pesquisados não procuravam serviços médicos para solução da dor. Vicentini 2008, revelou em seu estudo que, grande parte dos trabalhadores com lombalgias não buscavam atendimento médico, e para alívios das dores faziam uso inadequado de automedicação. Esse fato concorda com os achados deste estudo, porém a categoria mais acometida pelos sintomas álgicos eram os pedreiros, serventes de pedreiros, eletricista, encanadores e pintores. No presente estudo, dos operários que referiram dor lombar apenas um pequeno percentual já buscaram atendimento médico para tratamento da dor.
Ao investigar prevalência de lombalgia em transportadores de sacos de café, Pereira et al., 2006, utilizaram a escala visual analógica (EVA) para identificar a presença de limitação funcional, encontraram grande percentual de trabalhadores que graduou a intensidade momentânea da dor. Os achados foram semelhantes com o presente estudo, onde os trabalhadores graduaram com um número a sua dor. Os resultados numéricos da EVA foram subjetivos, pois indicaram que, o número referente à dor pode variar de indivíduo para indivíduo de acordo o quadro álgico, quer seja agudo ou crônico. Entretanto, foi possível identificar os trabalhadores que efetivamente precisavam de terapêutica correta para disfunções lombares como também, outros que necessitavam receber orientações, medidas profiláticas e conscientizar-se a fim de evitar o desenvolvimento da lombalgia ocupacional.
Brandão et al., 2005, num estudo com bancários evidenciaram que a ocorrência de algias aconteciam mais na posição sentada, com trabalho em ritmo acelerado e pela postura adotada no desenvolvimento da tarefa. De acordo com a função que o trabalhador exerce, Domínguez et al., 2002, afirmaram no seu estudo que, o trabalhador que realiza sua função muito tempo sentado, de pé, transportando carga e repetindo movimentos tem predisposição para lombalgias. Esses autores confirmaram na pesquisa a prevalência de lombalgia também em coletores de lixo, fisioterapeutas, enfermeiros, motoristas e cobradores de ônibus, professores e várias outras ocupações.
Foi enfatizado no estudo de Santana et al., 2004, que na indústria de construção civil existia um importante problema de saúde pública por acidentes de trabalho não fatais, que são as doenças ocupacionais. Considera-se relevante que, políticas de saúde pública sejam elaboradas e introduzidas efetivamente no canteiro de obras para assegurar a saúde do operário civil.
O presente estudo encontrou um reduzido nível de conhecimento dos operários civis em relação ao manuseio de carga, postura adequada e perigos expostos no ambiente que conduzem para disfunções essencialmente lombares. Todavia, Medeiros et al., 2007, ao investigarem riscos na indústria civil e o conhecimento do operário sobre essa questão, verificaram a necessidade de um intensivo trabalho educativo e preventivo com diálogo e caixa de sugestões para possibilitar que os operários percebam e opinem sobre os verdadeiros riscos existente no canteiro de obras.
Este estudo apresentou vantagens por ter sido uma pesquisa de baixo custo e de fácil acesso. Em relação às limitações, este estudo teve uma reduzida amostragem de conveniência onde os resultados possam não ser essencialmente significativos, devido à totalidade existente de trabalhadores da indústria civil. O estudo limitou-se por analisar a situação do trabalho civil em apenas um canteiro de obras, sendo que, é importante averiguar diferentes empresas do ramo de indústria civil para traçar o nível de saúde dos operários. O fato de o desenho do estudo ser transversal baseado apenas em sintomas relatados pelos trabalhadores, uma vez que a expressão de uma mesma dor não é igual para todos. Com isso, os resultados desta pesquisa poderão ser benéficos ao ser utilizados por novos pesquisadores, auxiliando em ações de prevenção dessa sintomatologia com vistas à manutenção da saúde desses trabalhadores.
CONCLUSÃO
Este estudo demonstra um grave problema de saúde pública e aponta uma elevada prevalência de lombalgia que tem acometido um percentual significante de operários civis. Os resultados sugerem associação de dor lombar com sexo, idade, manuseio de carga e postura inadequada no trabalho. Os dados apresentados podem ser aproveitados e contribuir de maneira positiva para benefício do trabalhador civil. Com base nas informações adquiridas neste estudo é possível que haja compromisso por parte do sindicato dos trabalhadores, bem como dos órgãos competentes e empresariado, com a finalidade de consolidar medidas de políticas públicas saudáveis de natureza preventiva e terapêutica para favorecer e garantir saúde no trabalho e proporcionar melhor qualidade de vida. Recomenda-se que novos estudos sejam feitos envolvendo maior número amostral de trabalhadores civis para possibilitar melhor entendimento da problemática existente nesta classe trabalhista.
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