Enfoques sobre o perdão-Benefícios para a saúde física e mental
Iniciamos este artigo formulando duas questões ao amigo leitor: Alguma vez você se deparou com uma situação em que sentiu a necessidade de perdoar, mas não conseguiu? Já precisou pedir perdão e não o obteve?
Quem passou por isso sabe o quanto é difícil conceder ou receber o perdão de alguém, sobretudo quando essa pessoa gozava da nossa sincera afeição e irrestrita confiança. O golpe é profundo como o de um punhal cravado no coração e a mágoa lateja feito uma ferida que nunca cicatriza.
Existem indivíduos (muito infelizes) que perdem seu tempo e saúde planejando suas vinganças com meticulosa frieza. Toda essa sanha, esse ressentimento mórbido acumulado e nutrido às vezes durante anos, vai aos poucos envenenando a alma e esse veneno será absorvido pelo veículo somático de forma funesta. Sem o suspeitarem, essas pessoas rancorosas estão criando e alimentando em seu organismo um tumor cancerígeno. Isto é um fato já cientificamente comprovado. Pessoas que guardam muito rancor têm mais chance de desenvolverem câncer e problemas cardíacos.
Mas afinal, o perdão pertence a Deus ou ao homem?
Segundo o conceito das religiões monoteístas, o principal atributo do Criador é justamente a perfeição. Ora, sendo perfeito, Deus não pode sofrer afrontas de suas criaturas, Ele não se ofende nem se enche de cólera contra a sua própria criação. Os escritores dos textos inseridos no Velho Testamento bíblico, à semelhança do que fora feito com os deuses greco-romano, conceberam um deus de sentimentos demasiado humanos.
O perdão deve vir dos homens para os homens, pois sendo estes cheios de imperfeições, ninguém está isento de cometer erros. Ademais, graças à chaga do orgulho, se sentir ofendido é próprio do ser humano.
Na visão religiosa o verdadeiro perdão é aquele que se faz acompanhar do total olvido da ofensa. Entretanto, devemos considerar que esquecer depende da nossa memória. Quantos episódios desagradáveis ficam gravados em nossa memória que gostaríamos de não recordar, mas que simplesmente não nos esquecemos?
Sob o enfoque da moderna psicologia, perdoar é a saudável atitude de não devolver o mal que os outros nos fazem. É se libertar de todo o ressentimento, porque quanto mais odiamos uma pessoa, mais nos ligamos a ela e mais infelicidade isso nos acarretará. Em muitos casos o ódio que declaramos sentir por alguém é um amor que enlouqueceu.
Entenda que perdoar nem sempre é sinônimo de reconciliação imediata, porque quem nos machucou necessita muitas vezes de tempo para refletir e tomar consciência de suas faltas, por outro lado, nossa confiança fora abalada e, portanto, quem a abalou precisará reconquistá-la, coisa que não se consegue da noite para o dia. Desse modo compreendemos que o ato de perdoar traz maiores benefícios para quem perdoa do que para quem é perdoado..
Em suma, perdoe de coração, mas se ainda não puder, perdoe mesmo sem o coração, e quando digo sem o coração, quero dizer sem floreios, pois não é necessário fazer encenação para perdoar alguém. O ato de perdoar (soltar as mágoas) possui um efeito terapêutico e lhe proporcionará um grande bem-estar.
O olvidar o mal a que as religiões se referem requer de nós certa evolução espiritual. Quando Jesus sofria os derradeiros suplícios da crucificação e pediu ao Pai para que perdoasse a seus verdugos “pois eles não sabem o que fazem” era o próprio Mestre quem os estava perdoando. Jesus soube compreender, como nenhum outro fora antes capaz, a fragilidade do espírito humano.
Esquecer uma ofensa pode ser compreendido como um ato de benevolência para com o faltoso: não reavivando em sua mente a todo instante, por qualquer desentendimento posterior, as tristes imagens de suas faltas. Fazer alguém recordar o mal por uma espécie de prazer de quem desperta essas reminiscências é provocar mais sofrimento na consciência do arrependido. Uma verdadeira atitude anticaridosa.
Exercite o perdão e o autoperdão. Procure não ficar se lamentando pelos erros cometidos no pretérito. Se não for possível corrigi-los agora, tente não cometer os mesmos erros no futuro.
Por último, relevar as faltas alheias ou as próprias não significa ser conivente com elas, ou seja, para perdoar um presidiário você não tem que eximi-lo da culpa (e das penas previstas na lei) porque agindo dessa maneira você estará em conivência com a criminalidade. A punição justa, sem vingança ou crueldade, faz parte do processo reeducativo da criatura humana.
Perdoe aquele que erra, pois todos podemos errar, no entanto, jamais se abstenha de censurar o mal.
Lembre-se, você pode passar a sua vida inteira se contorcendo de ódio por seus desafetos ou pode perdoá-los, libertando-os e se libertando. A escolha é sua.
1) veículo somático: o mesmo que corpo físico
2) Lucas 23:34