PARTO NORMAL OU CESARIANA?
Sérgio Martins Pandolfo*
“É salutar que mudemos nossos conceitos e avaliações sobre qualquer coisa; os tempos mudam e o conhecimento evolui”
Tem vindo a aumentar de maneira progressiva com o fluir dos anos, o número de partos que terminam por operação cesariana, em evidente contraste com o que se via em épocas passadas, quando a incidência dessa operação era mínima; e isso se deve, principalmente, ao notável avanço que tem experimentado a medicina em todos os seus setores nestes últimos anos, fazendo-se notar também no Campo da Obstetrícia, em aparente paradoxo.
Com efeito, o aprimoramento da técnica operatória, mercê de modernos métodos de anestesia, o conhecimento mais pormenorizado da fisiologia materna e fetal (e das trocas transplacentárias), bem como, o aparecimento de novos antibióticos, cada vez mais potentes, fizeram com que a via abdominal deixasse de ser a última e desesperada escolha, para se constituir numa das vias de escolha, para terminação do parto. Já durante o acompanhamento pré-natal é possível vaticinar sobre o tipo de parto a adotar, mercê de exames especializados modernos e de alta confiabilidade, detectando doenças da mãe como, por exemplo: diabete, sífilis, verrugas genitais (infecções pelo papilomavírus – HPV), lúpus, HIV/SIDA (infecção pelo vírus da imunodeficiência adquirida) e outras: estreiteza de bacia, má posição fetal, crescimento intrauterino fetal retardado, má-formação do feto, circulares de cordão, placenta prévia obstruindo o canal de parto, sofrimento fetal crônico, primiparidade idosa (acima dos 35 anos) e muitas outras condições.
Alonjados anos atrás, operar uma paciente para extrair um feto que não pudesse nascer pela via natural representava enorme perigo a ser enfrentado pela paciente, ante os dois grandes espantalhos da cirurgia, na época: a infecção e a hemorragia.
Hoje, devido à absoluta segurança e simplicidade de execução, quando praticada por especialista hábil e em ambiente cirúrgico adequado, a operação cesariana teve ampliado grandemente o campo de suas indicações, como já profetizava, com muita propriedade, o Prof. Jorge de Resende, insigne fundador da Escola Obstétrica nacional e Mestre de gerações, em magistral artigo: “escancaram-se as suas indicações e a incidência aumenta, o que alarma os partidários da Obstetrícia tradicional, mas não sensibiliza os tocólogos (parteiros) de boa linhagem”.
Por outro lado, o parto difícil realizado através da via natural inadequadamente constituída ou trabalhada, pode acarretar lesões permanentes importantes à mulher e ao feto.
Para a mulher porque a distensão exagerada das estruturas de sustentação dos órgãos genitais durante o parto propicia, por lesões das estruturas de sustentação, a “queda” dos mesmos, o que induz ao aparecimento de prolapsos do útero e da bexiga, pelo deslizamento progressivo desses órgãos, que em fases avançadas e principalmente nas mulheres que tiveram muitos filhos podem chegar a se exteriorizar através da vagina; pelos mesmos motivos, produzem-se muitas vezes rupturas do colo uterino e do períneo, com graves transtornos funcionais, máxime no que respeita aos atos da defecação e da micção e até nas relações sexuais, obrigando a feitura de intervenções cirúrgicas complexas para as devidas correções.
Para o feto porque, pela compressão maior ou menor da cabeça durante o parto, podem-se produzir lesões cerebrais de maior ou menor intensidade e que pelo geral só virão a se evidenciar mais tarde, representadas por graus variáveis de retardamento mental, epilepsia, tiques nervosos, gagueira, etc., principalmente quando, para a solução desses partos distócicos (difíceis), são empregados instrumentos como o fórceps ou o vacuoextrator, sem os requisitos indispensáveis para a utilização correta e segura dos mesmos.
Dessa maneira, no conceito da moderna Obstetrícia, a operação cesariana, longe de se constituir numa demasia ou abuso de indicação, deve ser realizada sim toda vez que houver a menor dúvida quanto à absoluta normalidade do parto transvaginal, sendo, portanto, a solução ideal para os casos duvidosos e de resolução temerária ou incerta pela via natural, com mortalidade e/ou morbidade para a mãe e para o concepto quase nulas, preservação das estruturas urogenitais e perineais e recuperação pós-operatória tão pronta e completa quanto a observada no parto normal.
Por fim, se a tudo o que acima dissemos ajuntarmos o sofrimento físico e psicológico da mulher durante o trabalho parturiente e sua terminação, toda vez que este foge dos padrões de normalidade, seremos induzidos a meditar e concluir que, num futuro não muito distante, o parto será normal ou cesáreo, talvez até – e por que não? - com predominância deste último ( Na foyo ao alto desprendimento da cabeça fetal na operação cesariana)
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(*) Médico e escritor. SOBRAMES/ABRAMES.
Especialista em Ginecologia/Obstetrícia. Livre Docente Doutor da UFPA
E-mails: sergio.serpan@gmail.com - serpan@amazon.com.br - Site: www.sergiopandolfo.com
Sérgio Martins Pandolfo*
“É salutar que mudemos nossos conceitos e avaliações sobre qualquer coisa; os tempos mudam e o conhecimento evolui”
Tem vindo a aumentar de maneira progressiva com o fluir dos anos, o número de partos que terminam por operação cesariana, em evidente contraste com o que se via em épocas passadas, quando a incidência dessa operação era mínima; e isso se deve, principalmente, ao notável avanço que tem experimentado a medicina em todos os seus setores nestes últimos anos, fazendo-se notar também no Campo da Obstetrícia, em aparente paradoxo.
Com efeito, o aprimoramento da técnica operatória, mercê de modernos métodos de anestesia, o conhecimento mais pormenorizado da fisiologia materna e fetal (e das trocas transplacentárias), bem como, o aparecimento de novos antibióticos, cada vez mais potentes, fizeram com que a via abdominal deixasse de ser a última e desesperada escolha, para se constituir numa das vias de escolha, para terminação do parto. Já durante o acompanhamento pré-natal é possível vaticinar sobre o tipo de parto a adotar, mercê de exames especializados modernos e de alta confiabilidade, detectando doenças da mãe como, por exemplo: diabete, sífilis, verrugas genitais (infecções pelo papilomavírus – HPV), lúpus, HIV/SIDA (infecção pelo vírus da imunodeficiência adquirida) e outras: estreiteza de bacia, má posição fetal, crescimento intrauterino fetal retardado, má-formação do feto, circulares de cordão, placenta prévia obstruindo o canal de parto, sofrimento fetal crônico, primiparidade idosa (acima dos 35 anos) e muitas outras condições.
Alonjados anos atrás, operar uma paciente para extrair um feto que não pudesse nascer pela via natural representava enorme perigo a ser enfrentado pela paciente, ante os dois grandes espantalhos da cirurgia, na época: a infecção e a hemorragia.
Hoje, devido à absoluta segurança e simplicidade de execução, quando praticada por especialista hábil e em ambiente cirúrgico adequado, a operação cesariana teve ampliado grandemente o campo de suas indicações, como já profetizava, com muita propriedade, o Prof. Jorge de Resende, insigne fundador da Escola Obstétrica nacional e Mestre de gerações, em magistral artigo: “escancaram-se as suas indicações e a incidência aumenta, o que alarma os partidários da Obstetrícia tradicional, mas não sensibiliza os tocólogos (parteiros) de boa linhagem”.
Por outro lado, o parto difícil realizado através da via natural inadequadamente constituída ou trabalhada, pode acarretar lesões permanentes importantes à mulher e ao feto.
Para a mulher porque a distensão exagerada das estruturas de sustentação dos órgãos genitais durante o parto propicia, por lesões das estruturas de sustentação, a “queda” dos mesmos, o que induz ao aparecimento de prolapsos do útero e da bexiga, pelo deslizamento progressivo desses órgãos, que em fases avançadas e principalmente nas mulheres que tiveram muitos filhos podem chegar a se exteriorizar através da vagina; pelos mesmos motivos, produzem-se muitas vezes rupturas do colo uterino e do períneo, com graves transtornos funcionais, máxime no que respeita aos atos da defecação e da micção e até nas relações sexuais, obrigando a feitura de intervenções cirúrgicas complexas para as devidas correções.
Para o feto porque, pela compressão maior ou menor da cabeça durante o parto, podem-se produzir lesões cerebrais de maior ou menor intensidade e que pelo geral só virão a se evidenciar mais tarde, representadas por graus variáveis de retardamento mental, epilepsia, tiques nervosos, gagueira, etc., principalmente quando, para a solução desses partos distócicos (difíceis), são empregados instrumentos como o fórceps ou o vacuoextrator, sem os requisitos indispensáveis para a utilização correta e segura dos mesmos.
Dessa maneira, no conceito da moderna Obstetrícia, a operação cesariana, longe de se constituir numa demasia ou abuso de indicação, deve ser realizada sim toda vez que houver a menor dúvida quanto à absoluta normalidade do parto transvaginal, sendo, portanto, a solução ideal para os casos duvidosos e de resolução temerária ou incerta pela via natural, com mortalidade e/ou morbidade para a mãe e para o concepto quase nulas, preservação das estruturas urogenitais e perineais e recuperação pós-operatória tão pronta e completa quanto a observada no parto normal.
Por fim, se a tudo o que acima dissemos ajuntarmos o sofrimento físico e psicológico da mulher durante o trabalho parturiente e sua terminação, toda vez que este foge dos padrões de normalidade, seremos induzidos a meditar e concluir que, num futuro não muito distante, o parto será normal ou cesáreo, talvez até – e por que não? - com predominância deste último ( Na foyo ao alto desprendimento da cabeça fetal na operação cesariana)
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(*) Médico e escritor. SOBRAMES/ABRAMES.
Especialista em Ginecologia/Obstetrícia. Livre Docente Doutor da UFPA
E-mails: sergio.serpan@gmail.com - serpan@amazon.com.br - Site: www.sergiopandolfo.com