O PODER DA MENTE NA LUTA CONTRA A DEPRESSÃO
Qual o sentido da vida?
Cada pessoa deve perguntar-se qual o sentido de sua vida, que benefício espera extrair dela. Se fizer essa pergunta, as respostas suscitarão outras perguntas, cujas respostas suscitarão outras que se irá eliminando a medida que se for respondendo a cada uma com sinceridade. E no fim se chegará à razão de tudo – a felicidade pessoal.
Para chegar-se a tal resposta é preciso perguntar-se por que. Por que deitar cedo? (para levantar sedo e descansado na manhã seguinte); por que acordar de madrugada e deixar o aconchego da cama, desacomodando-se para cumprir horário? (para não sofrer descontos no pagamento); por que dedicar oito ou mais horas da preciosa existência diária ao trabalho e ainda fazer horas extras? (para manter e reforçar a renda); porque voltar para casa no final do dia e repetir isso diariamente até o dia em que de voltar com a conta bancária mais recheada, podendo suprir a dispensa novamente, a geladeira, pagar as taxas, a prestação da casa, do carro, dos móveis e eletrodomésticos novos, da escola dos filhos, comprar roupas para a família,viajar nas férias e finais de semana, etc.?
Por que tudo isso? Unicamente pela felicidade pessoal. Em fim, tudo está aí e tudo que acontece é em função da felicidade de cada um. Nada visa outra coisa. Até mesmo o sofrer ao qual se submete em favor de alguém, no fim, visa a felicidade individual. Este é o sentido de tudo. Entretanto, porque se luta tanto sem alcançar essa felicidade? Onde está o erro e o que se tem deixado de fazer?
A resposta está no foco, na definição, na eleição individual do sentido, do que é o sentido para cada pessoa ao seu próprio ver. Embora a maioria das pessoas não saiba o que é sentido e que tudo que se faz tem que ter um sentido, todos o têm, porém, o definem erradamente. Ou seja, definem como sentido o que não é o sentido. O único sentido para tudo é a felicidade individual, e as pessoas lutam por ela. E para chegar-se à tal felicidade pessoal basta saber o que a produzirá; o que é que resultará em felicidade. Qual a razão de se ter dinheiro, casa mobiliada e suprida, carro abastecido, televisão digital, computador com internet, caminhos abertos para onde se desejar ir, dinheiro para hospedar-se, etc.. Quem consegue tudo isso, com isso produz sua felicidade? E, se lhe parece que produz, quanto essa felicidade lhe custa?
Qual o sentido de trabalhar?
O trabalho é o meio através do qual se adquire os recursos para a manutenção da vida e bem-estar próprios e daqueles por quem se tem afeto. O trabalho também é uma forma de distração, bem como um meio para fazer o bem e produzir a realização pessoal e crescimento. Porém, sua essência é prover meios de sobrevivência a quem o executa, o que jamais se deve esquecer, pois o trabalho não é a razão de ser de si mesmo.
Para que se faça algo é preciso um sentido, um porque fazer, um objetivo, uma razão de ser, uma justificativa – algo que valha a penalidade a ser paga para chegar-se a tal. E, como é com tudo, também é com o trabalho, embora que quando se trabalha para os outros esse benefício em regra seja o salário, ele (o trabalho) tem que produzir felicidade pessoal do início ao fim, não só a felicidade do momento de receber o pagamento resultante, mas também a felicidade decorrente da execução do trabalho. Em primeira mão, o salário e os benefícios que o indivíduo que o produz espera que ele produza redundando em felicidade. Em segunda mão, a própria satisfação de fazer algo denota felicidade, pois os benefícios do trabalho não são apenas o dinheiro, sendo que o trabalho também é uma forma de beneficiar a outros (o que produz satisfação e autoconfiança) e o fazer bem feito e bem dominar a profissão é igualmente uma forma de satisfação e felicidade. Entretanto, se o trabalho em si e a remuneração dele decorrente não resultarem em felicidade, ele perde a razão de ser e já não se vê sentido no fazê-lo, pelo que passa a ser sentido como carga excessiva e desnecessária, tornando-se uma tortura, parecendo um preço muito alto a ser pago sem sentido. Chega-se ao ponto de perder o gosto por determinado trabalho apesar de seus altos rendimentos.
Se alguém executa determinado trabalho mais pelos benefícios que ele produz para os outros, ainda assim o faz por sua felicidade própria, pois só faz-se algo por alguém se o beneficiar esse alguém produzir felicidade para quem o faz, pois a felicidade pessoal sempre é o beneficio final. Porém, não se concorda em praticar o trabalho sem perceber o benefício do salário equivalente em moeda. Quem não recebe tal benefício (ou o benefício que recebe não lhe parece equivalente) e também não vê outro benefício além do salário, sente-se lesado, pois lhe parece que paga um preço muito alto por quase nada ou nada. Tal lesão resulta em frustração. Sendo então que, aos seus olhos, há um prejuízo e por prejuízos a mente comum requer compensação, havendo de quem possa requerer o ressarcimento, o assunto é aparentemente liquidado após o devido reparo. Entretanto, não havendo, ou sendo obrigado a prosseguir o trabalho sem o que entende como devido reconhecimento, o indivíduo pode entrar num sistema de auto-piedade, postando-se dentro de si mesmo como se tudo e todos estivessem em dívida para com ele e querendo que os outros adivinhem seu sentir e reconheçam e reparem essa dívida.
A súmula de tudo é que o trabalho tem que render recurso financeiro com o qual se possam adquirir os subsídios para poder estar com quem se gosta de estar – o cônjuge, os filhos, a família e todos pelos quais se tem afeição. Tal recurso é geralmente entendido como o benefício decorrente do trabalho. A razão humana determina que o preço a ser pago por algo tem que produzir o benefício equivalente. Sendo assim, o salário que se recebe pelo trabalho tem que ser equivalente ao quanto ele vale para quem o presta. Se não é, o indivíduo vê-se lesado pelo tanto esforço que dedica em troca de tão pouco e por isto se entristece, permitindo a seus íntimos perceber e viver a apatia. Age-se assim porque a recompensa que se espera pelo trabalho que se efetua é unicamente o salário; porque se vê apenas ele como benefício. Entretanto, embora o salário possa ser o motivo pelo que se trabalha, ele não é o fim em si mesmo, mas um meio para se chegar ao benefício. Em regra, fica no esquecimento o entender de que o trabalho e o salário são meios, como são tudo que deles deriva. Por isto trabalha-se como se fossem a recompensa e assim, por mais alto que seja o salário de alguns, eles jamais são felizes e seguem trabalhando sempre mais, perseguindo a recompensa que imaginam que esteja guardada num monte maior de dinheiro e bens. Todavia, por mais que consigam ganhar mais, seguem pensando que não recebem a recompensa equivalente. Assim, ambicionam e lutam por salários mais altos, trabalhando sempre mais, mas a cada dia mais insatisfeitos, trabalhando por isto mais, mas produzindo sempre mais insatisfação, pois o que conseguem é sempre mais fadiga, estresse e frustração, olhando, por isto, cada vez mais para si mesmos e entendendo-se como vítimas das circunstâncias, do patrão, da família e da sociedade e sentindo cada vez mais pena de si mesmos.
Qual o sentido de adquirir?
A súmula da propriedade é liberdade. Após analisados cada um dos benefícios do possuir, chega-se ao substrato liberdade, porque propriedade denota soberania (dom- domini – domínio - senhorio), que denota poder (poder fazer e alcançar tudo o que se deseja), que denota autoridade (respeito e honra), que denota autonomia (o que, quando e onde se quer), que denota liberdade (liberdade para ir atrás, trabalhar e lutar para alcançar o que se imagina que produzirá felicidade). Portanto, é um equívoco presumir que propriedade produz felicidade. Como o trabalho e o salário, a propriedade é um meio com o qual se pode produzir a felicidade. Entretanto, a importância de nem um meio pode sobrepujar a de seu fim, como tornar a propriedade a razão da felicidade. O fim de um meio é atingir seu fim e o fim da propriedade é dar suporte para a produção da felicidade e não ser a razão da felicidade. Sendo assim, é preciso determinar a diferença entre o que se precisa ter e o que se deseja possuir. O que se precisa ter é meio com o qual se poderá produzir a felicidade, enquanto o que se deseja ter é entendido no subconsciente como a razão da felicidade. Se possuir um televisor fosse a razão da felicidade, nem seria preciso ligá-lo, bastando apenas tê-lo. Se fosse o caso de ter que ligá-lo para percebê-lo, bastaria ouvi-lo ou percebê-lo ligado para ter a satisfação de possuí-lo. Entretanto, não é assim. Quem compra um televisor, se não gosta de assistir, o adquire para agradar alguém, o que lhe dará felicidade. Porém, se gosta, dedicará tempo a assistir seus programas favoritos. Entretanto, nem mesmo esses programas são o fim, a razão da felicidade, mas o poder compartilhá-los virá depois, nem que seja na forma de contar a alguém.
No caso do televisor, por exemplo, torná-lo a ração da felicidade é sacrificar a verdadeira razão para adquiri-lo, obrigando-se a estar mais tempo distante da família, fatigando-se muito mais com o trabalho, preocupando-se além do necessário e privando-se de prioridades para adquirir um, mesmo que seja para compartilhá-lo, sendo que um televisor com o preço pela metade ofereceria o mesmo benefício . O ponto onde termina a necessidade de adquirir e começa o desejo de possuir é quando se adquire o que não é prioridade a custo de muito esforço antes do que é prioridade e quando se adquire o que é prioridade por preço muito acima do que se poderia pagar, no sentido não do poder pagar, mas do preço menor que se poderia encontrar.
Muitas coisas nas casas das famílias, em suas garagens e jardins não lhes fariam falta, não precisavam ter sido adquiridas quando foram e poderiam produzir menos glamour, sendo menos dispendiosas. É por essas coisas que muitas pessoas perdem o sabor pela vida, pensando que tais coisas lhe produzem felicidade, apesar de que estão sempre atrás de uma nova aquisição. Entretanto, a despeito de lutarem tanto, abrirem mão de tanto mais e vencerem tanto para adquirir essas coisas, essas pessoas não são felizes, ao contrário, vivem frustradas, pois vêem-se exauridas pelo tanto que trabalham, pelo preocupar-se constante com as dívidas, pelo tanto que se distanciam de seus amados e dos prazeres da vida, pelo tanto que perdem de descanso e lazer para possuir e pagar tais coisas. Este é o ponto em que os desejos se transformam em ruína para os indivíduos e suas famílias, quando os indivíduos confundem os meios com o fim e perdem de vista o verdadeiro sentido de cada coisa.
Observei que muitas vezes o problema que aflige uma pessoa é a prestação do televisor digital de cinquenta polegadas pendurado em sua sala combinado com a prestação da máquina de lavar roupas. Este último equipamento parece justo, pois lhe poupa o tempo que poderá utilizar com algo que lhe dê prazer, como um passeio, uma boa conversa com uma visita ou assistir a televisão de alta tecnologia. Entretanto, se a pessoa não assiste a tevê, o aparelho já nem tem razão ser, sendo que se fosse para ser assistido, o que importaria mesmo seria a programação que poderia ser assistida numa tevê inferior, mais antiga e de custo menor. Entretanto, a qualidade do aparelho pode ser justificada pelo prazer de assistir melhor, se a pessoa realmente assistisse. Mas, se a pessoa nem o assiste e, tampouco, passeia ou recebe visitas, até a máquina de lavar perde o sentido. Quanto a tevê, no caso de se receber uma visita, ela se contentaria com qualquer uma. O que se percebe, entretanto, é que tão logo surge um aparelho de tevê mais glamoroso, muitas pessoas põem de lado seus antigos televisores em perfeitas condições de funcionamento para contemplarem um da última tecnologia em seu lugar e mostrar para os demais que o possuem. Porém, pouco o assistem, pois se ocupam trabalhando extra para pagar a prestação.
Este foi um exemplo. Cada um deve conhecer a causa de sua ansiedade, os apuros que impõe sobre si mesmo com aquisições desnecessários ou que poderiam ser adiadas. Na verdade, essa ânsia de adquirir bens e conforto nada mais é do que egoísmo, pois apenas serve de alimento para a vaidade e orgulho. O querer adquirir bens para a família reflete o egoísmo pessoal quando os objetos que se adquire tornam-se alvo do orgulho pessoal, de sua satisfação íntima, de sua vanglória, se tornam razão de sua autoconfiança, do sentir-se abastecido e seguro; quando os bens que se adquire e o dinheiro acumulado tornam-se a confiança no futuro; quando os indivíduos se apegam a suas aquisições como se elas fossem eles mesmos. E o primeiro sintoma disso é quando se põe a preocupação para com a felicidade dos filhos e da família em segundo plano para adquirir os bens. O segundo é quando as pessoas e suas vidas tornam-se menos importantes que os bens que se adquire. Precisamos cuidar quanto a esses sintomas, pois se os manifestamos indica que estamos perdendo o sentido pelo que nos esforçamos e todo o nosso esforço se tronará sem significado e nos frustraremos brevemente, nos tornando insatisfeitos, nos sentindo explorados, exauridos, fracassados, etc., e desenvolvendo auto-piedade exacerbada, sentimento de que todos nos exploram, rancor, indignação, etc., desenvolvendo uma apatia autodestrutiva que poderá nos levar ao sono desmedido, à preguiça, ao comer compulsivo ou à abstinência de tudo, à irritabilidade inexplicável, ao psiquiatra, ao uso de álcool e drogas, ao roubo, ao assassinato, ao hospício ou ao suicídio.
O esforço não recompensado.
A exaustão pelo trabalho excessivo não é mera manifestação de auto-piedade, pois esta é que surge daquela. Quando nos sentimos exauridos por nosso esforço em trabalhar para adquirir é porque não vemos os frutos desse esforço, embora tenhamos adquirido muitos bens e os vejamos todos os dias. Porém, nossos filhos e familiares continuam nos exigindo, como se o que lhes damos não bastasse, parecendo-nos que entendem que somos de ferro. Ao contrário do que esperávamos, parece que eles não reconhecem o tanto que temos feito, apenas querendo mais e nos tratando com indiferença se não conseguimos dar conta desse mais, como se para eles não fôssemos mais do que meros provedores. Isso nos leva a estafa e exaustão, o tanto nos esforçarmos e não vermos o devido reconhecimento.
Contudo, o mesmo pensamento que nos levou voluntariamente a nos esforçar tanto para dar-lhes tudo e sentirmo-nos seus super-heróis é o que nos faz pensar que eles nos exigem mais. Por um lado, eles podem mesmo estar exigindo sempre mais, mas fomos nós que nutrimos essa cultura neles, inicialmente privando-os de nós para nos dedicarmos ao trabalho excessivo, pois em nossa mente queríamos nos mostrar a eles impecáveis por prover-lhes tudo o que nossos pais nos proveram ou queríamos que nos tivessem provido. Entretanto, embora provemos tanto, nossa consciência nos acusa de estar em dívida para com eles por nossa ausência. Então, em vez de lhes dedicarmos mais tempo, nos vimos obrigados a dar-lhes mais coisas com o fim de compensar-lhes essa falta. Eles, por sua vez, aprenderam que as coisas são assim mesmo e foram aceitando esse suborno, embora lhes parecesse tão pouco compensador. Foram aprendendo que o trabalho ao qual tanto nos dedicamos é mais importante para nós que eles e que nos dedicamos tanto assim a ele por ele nos trazer satisfação. Eles, como nós, porém, não sabem que o trabalho não é nosso alvo, mas nossa felicidade pessoal é e ela, em nosso íntimo, está relacionada com nosso sentimento de poder, de segurança, de estabilidade e de garantir-lhes tudo, e eles, assim como o trabalho, nada mais são do que os pretextos ou os meios com os quais pensamos reafirmar esses sentimentos. Perdemos o sentido, pois a felicidade deles era o foco e ver sua felicidade nos produziria felicidade pessoal. Entretanto, elegemos os meios errados para produzir-lhes felicidade e produzimos-lhes insatisfação.
Fizemos assim porque pensávamos que nosso cônjuge e filhos poderiam se orgulhar de nosso esforço em favor deles, do tanto que conseguimos ganhar para eles, sentir orgulho e misericórdia de quem se martirizou em seu favor. Se o alvo do nosso esforço fosse verdadeiramente a satisfação dos filhos e da família (se sua satisfação fosse a causa de nossa satisfação), nos preocuparíamos em saber o que eles querem (o que precisam para alcançar o que querem) – a felicidade pessoal. Então não precisaríamos trabalhar tanto para compensar a falta de nossa presença e não teríamos que suportar nossa consciência a nos confundir que eles são insaciáveis, que nos requerem sempre mais. E, além do mais, eles não teriam desenvolvido essa cultura exploradora, porque eles só queriam jogar um futebolzinho com o pai, mesmo que fosse com uma bola de fronha cheia de capim, porque não lhes era importante os meios, mais sim os fins; eles só queriam participar de uma conversa com a mãe, o que poderiam fazer sem grandes dispêndios. Se tivéssemos prestado atenção nisso, se tivéssemos nos lembrado de que uma canoa de coqueiro para escorregarmos na grama era tudo quando éramos pequenos, que o escorregar era mais importante que a canoa, pelo que também escorregávamos sobre papelão, teríamos vivido com nossas famílias uma vida mais simples, mas todos seriam felizes e não teríamos desenvolvido essa auto-piedade exacerbada capaz de nos fazer olhar agora ainda mais para dentro de nós e esquecermos que nossos filhos passaram a existir por conseqüência de nossa busca por prazer e felicidade, sendo por isto a razão para continuarmos existindo.
Quando o pai ou mãe vai ao álcool, às drogas e ao suicido com o pretexto de não conseguir dar o melhor ou o mínimo para seus filhos pequenos é porque sua piedade por si mesmo ultrapassou em muito a piedade que ele tem por eles. Perdeu o sentido, a verdadeira razão de ser de lutar, de ir atrás, do trabalho, do dinheiro e dos bens. Esqueceu o significado pelo qual lutava e o pessimismo o derrotou. Se um pai ou mãe terminam no mesmo fundo de posso porque seus filhos embora adultos lhe exigem tudo ou muito mais do que pode prover, é porque deu-lhes muito mais do que precisavam, negando-lhes o que realmente precisavam, sua atenção, e eles se tronaram dependentes desse círculo vicioso.
Se dermos muitos aparatos para nossos filhos, os ensinaremos a depender de nós, bem como de muitas coisas para cumprirem seus compromissos, divertirem-se e terem felicidade. Ao contrário, devemos ensinar-lhes a cumprir suas tarefas, resolver seus problemas e produzir a própria felicidade com o mínimo, pois assim nem uma carência os impedirá de realizarem-se e serem felizes. Se fizermos da outra maneira, eles se tornarão impotentes diante da menor carência, o menor empecilho os impedirá e qualquer fracasso os fará derrotados, tornando-se inaptos e sem utilidade para si mesmos. Entretanto, nossos filhos têm potenciais e força como nós, não sendo em nada inferiores, querendo ser desafiados e podendo lutar contra qualquer adversidade se lhes dermos os subsídios adequados. O que precisam é de ensino, motivação e coragem; precisam acreditar que podem. Se tiverem isso, os meios eles mesmos produzirão. Se lhes ensinarmos a tirar o melhor do mínimo, com poucas varas eles farão jangadas e nada os impedirá de produzirem muita pesca.
O que é trauma decorrente da exaustão.
Trauma é tudo que nos deixa ressentidos, em estado de alerta, ressabiados com determinada coisa, como “gato escaldado”, conforme o ditado. Trauma é um dispositivo que aciona nossa guarda toda vez que nos deparamos com o agente de nosso temor. Trauma trata-se de uma âncora ruim aportada em algo que tememos, pois em algum momento esse agente nos causou dor, que podemos definir como o mesmo que sofrimento. E o ditado diz que “gato escaldado com água quente tem medo de água fria”. Então, comumente, um trauma relativo a determinada causa nos torna ressentidos com outras tantas. Todavia, um contraditado circula na internet esclarecendo que “gato escaldado com água quente morre”. E, em comparação, vamos perceber ao longo desse texto que o trauma é o início de um processo de mortificação estando vivo. Para tanto, a fim de conhecer os afluentes e a via principal dessa mortificação, compete sabermos o que é verdadeiramente trauma e qual a verdadeira origem de seu efeito capaz de instalar preconceito generalizado. E perguntaremos também se um trauma em si, por maior que seja, tem poder para nos desabilitar, nos dominar e inutilizar ou se nossa auto-piedade, fundamentada em nosso elevado auto-conceito, é que faz o serviço de nos tornar queixosos, rancorosos, intolerantes, exigentes, ressentidos, irados e em guarda constante, combatendo a tudo como se tudo fosse o inimigo.
Na verdade, nada poderia nos deixar ressentidos, pois vencemos a tudo pelo que passamos, prova é que estamos vivos, do contrário, se tivéssemos sido derrotados, não mais estaríamos vivos e, assim, não teríamos como pensar naquele momento assustador, revivendo a dor e nos ressentindo sempre mais. Portanto, o trauma nada mais é do que uma reação ao medo recordado, decorrente do susto, da dor, da privação ou da humilhação que sentimos num momento que já passou.
Quando somos forçados, como num assalto, estupro ou quando somos forçados pelas circunstâncias, o que segue doendo nos instantes seguintes é a indignação por não termos tido a oportunidade de escolher e decidir sobre o que se passou. Sentimos que nossa soberania foi violada e queremos violar a soberania daquele que não reconheceu a nossa, mas mais como forma de declarar-lhe que somos soberanos e que podemos decidir. Na verdade, isso funciona mais para o nosso próprio convencimento e auto-afirmação de nosso ego. Até mesmo o saber que o agente de nossa dor tomou conhecimento de nossa reação é uma forma de nos convencermos de nossa soberania. Por isto a maioria das pessoas não consegue perdoar mesmo que em sua presença o que lhe lesou reconheça a falta cometida e lhe peça perdão, porque o saber que tal agente reconheceu seu erro é uma boa forma de auto-exaltação e mantê-lo assim parece firmar ainda mais convicção de nossa soberania. Todavia, para ser assim, tem que manter viva a lembrança do ato dolorido e assim essa lembrança e a reverência do ato se firmará sempre, doendo sempre mais.
O trauma, portanto, é a dor do orgulho rebaixado fazendo que o ego se sinta ferido e, dolorido, queira exaltar-se e exaltando-se ao nível anterior, porém, um pouco acima daquele nível para poder rebaixar o sujeito da dor, pelo que a mente permanece a maquinar fórmulas para restituir-se a soberania e a única via que essa mente orgulhosa vê é o vingar-se, pelo que planeja o meio e o planejar a leva a reencenar continuamente o episódio, produzindo vinco de dor sempre mais profundo, o qual redunda em crescente pena de si mesmo, ressentimento maior e estresse decorrente. Por isso essas pessoas definham, adoecem e alguns até perdem a capacidade de ver e andar decorrentes do diabetes altíssimo e muitos outros males, como cálculos, tumores e coisas do gênero.
A forma como se vingará não necessariamente tem que envolver violência física ou privação da liberdade do agente, podendo dar-se através do silêncio, do rompimento, da ausência, do drama de consciência, do ressentimento, do ódio, do suicídio ou de qualquer outra forma perceptível ao sujeito. Para a mente desejosa de cobrar-se, a forma que ela escolher será sempre eficaz. Entretanto, como disse anteriormente, nossa mente nos engana, porque tudo isso serve apenas para nosso auto-convencimento, mas, em contrapartida, produz muitos males no organismo, como melhor explico em meu texto VINGANÇA – A SENTENÇA QUE ERRA O ALVO, publicado em meu espaço no Recanto das Letras, no link http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2517199.
A exaustão do trabalho excessivo produz sofrimento. Toda exaustão fragiliza e produz impotência até que se recobrem as forças. Algumas pessoas tentam reinterpretar o sentido de seu esforço para se proteger da decepção. Mentem para si que o que importa é unicamente o dinheiro que se ganha e com ele se pode compra tudo. Vão acumulando, por isso, bens, presenteando muita gente, esbanjando fortunas para ter companhia, mas sem jamais se sentir bem-vindas e queridas em algum lugar. A exaustão do trabalho excessivo nutre-se dos subsequentes fracassos, que é o não obter reconhecimento e jamais sentir-se querido; nutre-se do não ver o resultado prático correspondente a tanto esforço; do não ver a recompensa, o reconhecimento daqueles por quem pensamos que dedicamos nosso sacrifício. Talvez seja o chefe sempre insatisfeito, os colegas a criticar, a esposa reclamando e os filhos exigindo impiedosamente mais. O repetir sistemático desse fracasso produz ressentimento e a medida que segue a repetir-se mais ressentimento produz, até torna-se trauma, quando, por temor de novo fracasso, a pessoa perde o gosto por seu trabalho e pergunta-se ainda na cama porque desacomodar-se novamente se o resultado será o mesmo – fracasso.
Nesse momento, o ânimo, a vontade de lutar, a coragem de enfrentar o dia-a-dia vão se transformando em pressentimentos negativismos. O indivíduo busca respostas a fim de encontrar a origem disso tudo. O que lhe vem a mente é a pressão e repressão de todos. Então o subconsciente começa a processá-los como sanguessugas, injustos, inimigos, contra os quais tem inicio um sistema de compensação (vingança) na forma de impaciência, intolerância e auto-proteção. Logo o indivíduo desenvolve ressentimento contra as pessoas mais próximas, passando depois para as outras, tornando-se extremamente vigilante quanto a todos e suas intenções, em constante estado de defesa. Essa vigília constante produzirá estresse intenso, traduzido-se na forma de angústia, impaciência e ansiedade, uma espécie de sufocamento. E o ver-se tão impiamente injustiçado o levará à auto-piedade extrema, que redundará em depressão sempre mais profunda, pois sua auto-piedade se torna cada vez mais convicta.
A depressão decorrente do trauma decorrente da exaustão.
A depressão nada mais é do que o negativismo ao nível extremo, quando a pessoa, por mais que busque boas âncoras, apenas vê a possibilidade de tudo dar errado, quando então perde completamente a coragem, o ânimo e a esperança, tudo isso por pena de si mesma, como uma forma de prevenir novos sofrimentos. Porém, tudo começou em seu orgulho, seu desejo que exaltação decorrente do reconhecimento dos outros por seus feitos tão altruístas a seus próprios olhos. E o não reconhecimento suscitou a exaltação de seu orgulho rebaixado, ressentindo-se ainda mais ao ficar reencenando aos atos traumáticos em seus discursos íntimos a planejar vingança e o recobrar sua soberania. Agora, em vez de assumir intimamente que esteve no caminho errado e retornar dele, o indivíduo se posta de injustiçado, penalizando-se por si mesmo cada vez mais, pois passa a concentrar-se nos erros alheiros para justificar os seus, porém, essas lembranças o ferem mais e mais, pelo que vai se afastando cada vez mais das pessoas, tornando-se assim cada vez mais ressentido, mais queixoso, mais intolerante, mais agressivo, mais insuportável e mais indesejável, achando que as pessoas é que têm culpa e ressentindo-se ainda mais por isto.
Ninguém precisa continuar no sistema depressivo. Pode haver carência de neurotransmissores, que dificulta o raciocínio e conseqüente retrocesso do sistema pessimista. Um psiquiatra poderá recomendar o uso de substâncias de reposição, que estão também em muitos alimentos que os indivíduos obcecados por seus compromissos dificilmente ingerem. Entretanto, mesmo com tal carência, não é preciso continuar vassalo de um sistema depressivo. As pessoas continuam, porém, nos tempos modernos muito mais do que antigamente, porque estão trancadas em suas vontades, com a mente obcecada pela realização de seus ímpetos, cegas por fazer o que querem a qualquer custo, querendo transpor a muralha a qualquer preço para fazer e ter o que a influência lhes faz que pensem que lhes fará felizes. Estão fixas nos meios e perderam de vista o sentido. Estão tão firmemente concretadas em seu desejo de auto-realização que perderam de vista a via por onde poderiam chegar a nisso. Por outro lado, seu orgulho não lhes permite admitir que estiveram e seguem erradas, que precisam reaver seus motivos. Ao contrário disso, por esse orgulho apenas vêm que as outras pessoas e as circunstâncias envolvidas estiveram erradas. Todavia, se tomo o ônibus errado não é o motorista daquele coletivo que está errado, mas eu que tomei o ônibus cujo destino não é o mesmo que o meu. Portanto, as pessoas não estão erradas, nós é que estamos e para não cairmos num sistema de depressão basta nos determos um pouco em nossos verdadeiros objetivos, descobrindo o que realmente queremos, o que verdadeiramente nos fará felizes, que sensação esperamos que cada coisa que possuirmos nos produza, então descobriremos que elegemos o sentidos errado para tudo que fazemos, elegemos os meios como se eles fossem os fins, por isto desperdiçamos nossa energia no trabalhar excessivamente para adquirir muitos bens, embora, por isso, não nos restou tempo e nem com quem desfrutá-los. Isto sim é desvio de meta; errar o alvo ao quadrado. E para fazer essa autocrítica, muito melhor é Cristo do que Freud, melhor é entregar a vida a Deus, admitindo os próprios erros e rogando por Seu poder; melhor é o analista da Logoterapia (a busca do sentido, conforme o método do Dr. Victor Frankel), devendo principalmente procurar um grupo de auto-ajuda, onde veremos nossos erros expostos nos depoimentos dos companheiro e teremos oportunidade de criticar intimamente nosso defeitos de caráter.
Humildade – O passo decisivo.
Se formos humildes, logo veremos que o que realmente importa é a felicidade pessoal e que para tal se precisa de muito pouco material, mas muito de tempo para desfrutar, especialmente com as pessoas por quem aparentemente nos dedicamos tanto ao trabalho. Descobriremos também que a exaltação própria não cura os vincos doloridos, mas ao contrário, os aprofunda, aviva e faz com que doam cada vez mais. Por isto, melhor é a vida simples, pois nos permite ter tempo para viver e ser feliz. Melhor também é perdoar, porque assim não ficamos a reviver o sofrimento, causando-nos dores sempre maiores. Se fizermos assim, sempre lembraremos e então entenderemos o que Jesus pretendia quando disse: “Não estais ansiosos quanto ao dia de amanhã, porque ainda esta noite podem vir pedir a tua alma”. E entenderemos também muito mais porque nos ensinou a perdoar, porque deseja livrar-nos da dor, não causando dor em nós mesmos por nossa obstinação em sustentar e elevar nosso orgulho a cada vez que o sentíssemos rebaixado, o que fazemos comumente, pelo que vivemos rancorosos e ressentidos, desenvolvendo inúmeras doenças e sem sermos felizes.
Por fim, para sair de um sistema depressivo, ao eleger-se o sentido de tudo e descobrir que este é unicamente a felicidade pessoal, devemos também entender que felicidade é unicamente a satisfação de, a cada dia, fazer algo cuja marca retrate nosso caráter, no qual esteja manifesto nosso sincero desejo de fazer algo capaz de agradar e beneficiar a quem desse algo se valha, produzindo-lhes felicidade, porque tudo o que podemos fazer de bom muito mais nos interessa fazer para os outros, porque para nós mesmos nosso melhor está sempre disponível. Felicidade é poder assistir a quem desfruta desses feitos e ver sua satisfação, sabendo que fomos cauda disso. Sendo assim, no final de toda análise, o que conta como felicidade e razão de tudo é poder fazer o que produzirá conforto, prazer, benefício e orgulho em quem se ama e em todo que em nossa mercê esteja posto, não para vê-lo submisso a nós e a reconhecer de nosso heroísmo e martírio, mas para simplesmente vê-lo satisfeito e sentir-se então satisfeito por ter alcançado este objetivo. Sendo assim, para a felicidade basta ter com quem compartilhar o que nos agrada, mesmo que seja um momento de silêncio, um sorriso, uma conversa ou qualquer coisa que não se adquire com dinheiro ou que não precisa de muito dinheiro para se adquirir. Assim não nos exaurimos para satisfazer aos nossos amados e por isto teremos tempo para compartilhar suas vidas, satisfazendo-os com nossa presença, como eles desejam e precisam.
Felicidade!
Wilson do Amaral