O Custo do Vício de Fumar


Muitas contas já foram feitas em torno das consequências do cigarro, seja nos seus custos para o sistema da saúde, seja nos recursos tributários provenientes do setor, além de dados relativos ao seu contrabando. Entretanto, agora surge um diferente, agora focado diretamente no consumidor, trata-se dos Dados da Pesquisa Especial de Tabagismo (PETab) que revelam que a geração de brasileiros nascida a partir da década de 80, que portanto estaria hoje na casa de até 30 anos, começou a fumar, em média, aos 17 anos, destacando, porém que no caso do Nordeste e do Centro Oeste a idade é ainda inferior 15 anos.
Ainda quanto a começar a fumar antes dos 15 anos também é revelado outra informação interessante, que neste caso são as adolescentes femininas que prevalecem em 22% sobre os masculinos na mesma faixa etária, porém ao longo da vida as mulheres param de fumar numa proporção duas vezes maior do que a dos homens. Já na juventude os homens que fumam 2,5 vezes mais do que as mulheres, mas este não é um dado geral, nas outras faixas etárias da população essa proporção é menor.
Em se tratando de tentativa de parar de fumar, a faixa etária que se mostra menos afeita a esta atitude é justamente os jovens, embora 48% das pessoas dessa faixa etária terem relatado ao menos uma tentativa de parar de fumar nos últimos 12 meses. E neste sentido vem a contribuir uma importante pesquisa, isto porque identificou que é justamente os jovens que são mais sensíveis à propaganda pró-tabaco, mais do que os adultos – 48,6% dos jovens relataram ter percebido propaganda pró-tabaco, enquanto apenas 38,7% dos adultos, o que faz deles um alvo das empresas tabagistas, e neste sentido, um dado a favor das campanhas anti-tabagistas; a citada pesquisa revelou que o nível de dependência severa de nicotina dos jovens foi 50% menor do que a dos adultos.
O setor tabagista é muito bom de mercado, assim ao ver reduzido o seu espaço na mídia, adota outras medidas visando o consumo, assim mesmo com os contínuos aumentos de impostos na área o preço médio do maço de cigarro de modo geral vem caindo. A conta é a seguinte, segundo a PETab, que considerou que o gasto médio mensal com cigarros industrializados por fumantes acima dos 15 anos no Brasil foi de R$ 55,50. Considerando o preço médio do cigarro no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) e o salário mínimo de setembro de 2008, era possível para um fumante de baixa renda comprar 150 maços ao mês, contra 112 maços, em janeiro de 2003, e 83 maços, em 1996.
Ou seja, com o passar do tempo, ficou mais fácil para pessoas de baixa renda consumirem mais maços de cigarros, o que revela ser este um dos alvos da indústria tabagista, que por sinal parece ter sucesso com isto, dado que segundo os maiores percentuais de fumantes no Brasil, entre ambos os sexos, foram encontrados na população sem instrução (25,7%) e entre as pessoas de menor renda (21,3%), correspondente à população que ganhava menos de meio salário mínimo por mês.
Não é apenas a saúde física que o vício do cigarro afeta, mas também o orçamento do fumante. Assim a parte incinerada em baforadas tem o seguinte custo, tomando por base os da já citada pesquisa, para uma amostra constituída por uma família composta por um casal de fumantes, entre 45 e 64 anos, residente para qualquer região do país de R$ 1.495,20 por ano, sendo que o cálculo de tal valor está ligado a números de 2008, quando o salário mínimo era de R$ 415,00. Este mesmo valor, pensado como uma poupança para aquisição de um bem em agosto de 2010, permitiria a opção de se adquirir uma TV de LCD de 32 polegadas, que tem preço médio de R$ 1.469,00, ou um bom computador por R$ 1.300,00 ou ainda uma geladeira duplex que custa na faixa de R$ 1.400,00.
O resultado desta queda de braço entre o setor tabagista e os segmentos anti-tabagistas tem sido o seguinte, de um lado, uma informação favorável, a da queda no consumo de tabaco nas últimas décadas, além de que 45,6% dos fumantes tentaram parar de fumar nos últimos 12 meses; porém, em contrapartida, o número de fumantes no país continua e é elevado: são cerca de 25 milhões com idade igual ou superior a 15 anos.
Algo é certo: não parece faltar esclarecimento sobre os malefícios do vício tabagista, pois afinal ainda dentro da mesma pesquisa constatou-se que 96,1% acreditam que fumar poderia causar doenças graves, dentre estas é a elevada percepção da relação entre o uso de tabaco e o câncer de pulmão: 94,7% do total das pessoas entrevistadas têm esta noção, que por sinal é reafirmada pela realidade, pois conforme informação vinculada ao diretor do Hospital do Câncer I, Paulo de Biasi. Noventa por cento dos pacientes com câncer de pulmão no Inca são fumantes”, fica aqui mais estes esclarecimentos: fumar pode dar prazer, mas, não tenha dúvida, também traz dores.

Autor - Gilberto Brandão Marcon, Professor e Pesquisador da UNIFAE, Ex-Presidente do IPEFAE (2007/2009), Economista graduado pela UNICAMP (1982/1985), pós-graduado 'lato sensu' em Economia de Empresas pela FAE (1986/1988), com Mestrado Interdisciplinar em Educação, Administração e Comunicação pela UNIMARCO (2006/2008), Comentarista Econômico TV União, Escritor, e com aperfeiçoamento como aluno especial no Mestrado de Filosofia da UNICAMP na área de Filosofia da Psicanálise (2002/2003). Membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista, Cadeira nº 06, Patrono: Mario Quintana.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 07/10/2010
Reeditado em 28/04/2012
Código do texto: T2542548
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