VINGANÇA - O CASTIGO QUE ERRA O ALVO
Reza o dito Popular que a vingança é um prato que se come frio. Dizia o filósofo, entretanto, que a vingança é uma pedra quente na mão do que se vinga, querendo dizer que por segurar a pedra quente com a qual pretende castigar a quem o prejudicou, o vingador é que se queima. Costumo dizer que todo que pretende castigar (punir), a si mesmo se castiga. E a maior verdade é que mesmo que se consiga o sofrimento do culpado, quem sofre as maiores conseqüências é o queixoso, pois o culpado não compartilha do ódio, tampouco do ressentimento, indignação e desejo de vingança do lesado, sendo que após cumprir sua pena sairá livre para uma nova vida. Entretanto, seu algoz terá que conviver com as doenças psicossomáticas decorrentes da raiva, do ódio e do desejo de vingança, não por culpa daquele que o lesou e despertou nele tal desejo, mas unicamente por sua própria culpa, por sua auto-estima exaltada que produz nele essa auto-piedade exacerbada, porque, ao sentir-se humilhado, seu ego elevou-se para pôr o agressor sob os pés e dar-lhe a lição moral que, na visão super avaliada de si mesmo, o vingador entende que bem aprendeu, que é a lição de como bem viver em sociedade não mexendo com quem está quieto, da forma mais fiel ao olho por olho e dente por dente das mais primitivas sociedades.
Ódio, ressentimento e desejo de vingança são sentimentos próprios de quem não conhece a Jesus Cristo e não tem idéia do que é o amor que o apóstolo Paulo trata em I Coríntios 13. O amor que que olha unicamente para dentro de si, que reclama, que se queixa, que se exalta, que se põe insistentemente de coitado e vítima, que aponta o dedo, que requer justiça e anseia por ver o sofrimento do que o lesou, que julga, que emite sentença, que deseja cega e obstinadamente ver sua causa vingada, que vigia por isto e assim por diante, é o amor do mundo, onde as pessoas somente amam a si; é o amor que vê-se como muito bom, como correto e como irrepreensível, é o amor que jamais abre mão dos seus direitos em favor de alguém, que jamais cede a vez para o outro, seja na paz ou na dificuldade. Esse amor que não reconhece sua própria condição pecadora e carente da graça e perdão de Deus, que é Santo, é o amor de mentes que não conseguem ver além das práticas comuns do mundo, da ação sanguínea, imediata, instintiva, sanguinária e violenta, por isto mesmo somente responde a violência com violência, pois somente vê o mal e a violência como solução. Por isto esse amor não vai além do linchamento, hoje feito com difamação, palavras ofensivas e torturas morais e físicas que se consegue esconder. Entretanto, esse amor de exaltada auto-estima retorna em tumores para os que deles se servem, dando-lhes que morram brevemente após período de dores produzidas pelos parasitas decorrentes do veneno com que se vingam, a despeito de Cristo ter dito que devemos amar nossos inimigos e fazer o bem aos que nos perseguem, pois só assim mostraremos que somos bons, que em nível de qualidade moral somos melhores do que os maus. Entretanto, por essa obstinação doentia em vingar-se, tais pessoas negam-se a chance de conhecer o verdadeiro amor, o que eles no fundo procuram, o mesmo que os faria felizes em qualquer circunstância da vida, seja na adversidade, seja na bonança.
Essas pessoas que se vingam e labutam por ver suas causas vingadas são as mesmas para as quais em geral nada está bom, ninguém é suficientemente bom e para elas até mesmo a natureza e Deus falham vez ou outra.
Há algum tempo, estando num estúdio de gravação, após ter gravado minhas falas, enquanto aguardávamos que o técnico fizesse a edição do cd, o proprietário do estúdio indagou-me sobre qual seria nossa denominação religiosa. Explicando-lhe então os benefícios de praticar o cristianismo do ponto de vista doutrinário da Igreja Adventista, expus-lhe os resultados práticos em nível de saúde física, emocional e espiritual de santificar o sábado, por exemplo, não consumir alimentos impuros, viver em paz com todos, etc.. Querendo, porém, dar-lhe um exemplo vivido do que falava, contei-lhe a o caso de um pastor médico cuja experiência li na Revista Adventista. Disse o pastor que certo dia sua esposa sugeriu que ele procurasse seu médico, pois ela vira formigas rodeando o vaso sanitário da casa. Ao consultar o médico e fazer os requeridos exames, o pastor médico foi avisado de que estava no grau máximo de diabetes. Conforme ele mesmo disse, jamais tivera tal doença. Com vistas em vencê-la, ele passou ao tratamento seguindo a risca as prescrições do médico, porém, sem grandes resultados. Tendo ido dias mais tarde para um spa a fim de fazer checapes médicos rotineiros, durante toda a primeira semana o capelão do spa discursou sobre o perdão, quando então o pastor médico compreendeu que para perdoar não há necessidade de que o ofensor reconheça seu erro, tampouco que peça perdão e nem mesmo é preciso conhecê-lo, falar-lhe e dizer-lhe que o perdoa. Perdoar ao ofensor é uma ação entre o ofendido e Deus, bastando simplesmente que o ofendido perdoe, pois se o ofensor reconhecerá seu erro, se sentirá tristeza por ele e quererá ser perdoado é uma questão entre ele e Deus. Quanto a questão do ofendido com Deus, cabe a ele resolver e o ofensor que resolva a dele, se assim desejar.
Desde o acidente que levara seu filho e o amigo, o pastor médico odiara profundamente o motorista do caminhão que consumou a tragédia. Entretanto, ao compreender sua obrigação para com Deus de perdoar o seu semelhante, ele desejou profundamente tirar de sobre seus ombros o peso dessa raiva. Por ser difícil, porém, esquecer que tal pessoa, que ele nem mesmo conhecia, tirara seu filho da vida, ele empenhou-se em oração, pedindo a Deus por toda uma noite que extirpasse o rancor do seu coração. E assim se passou, sentindo-se então plenamente aliviado e constatando no exame de sangue do dia seguinte que seu diabetes caíra em mais de oitenta por cento. Entusiasmado pela descoberta, ele fez um inventário de todos de quem guardara algum ressentimento e expôs os casos diante de Deus, que deu-lhe perdoar um a um. Então no próximo exame constatou que o diabetes se fora completamente.
Atento, o dono do estúdio de gravação seguiu ouvindo minha explanação. Para reforçar ainda maisminha teoria, contei-lhe também das tantas pessoas diabéticas que, após ter lido o artigo na revista, eu sondara se não tinham raiva, ódio ou ressentimento de alguém. Entre elas a mãe de uma cliente que me contou que a senhora estava no último grau de diabetes e, ao indagar sobre seus desafetos, ela me confessou que a mãe jamais perdoara o ex-marido e odiava o pai das filhas desde o dia em que dela se separou.
Por fim, o dono do estúdio me disse que vivia no último grau de diabetes e tinha muito ódio do seu genro desde vinte anos antes, bem como de um visinho que muitas vezes o lesou.
Num culto de oração no qual tratei sobre o perdão, um homem de muletas, que arrastava um das pernas, me pediu que orasse por ele. Querendo ajudá-lo de uma vez por todas, chamei-lhe à parte e perguntei se havia alguém que lhe prejudicara de alguma forma. Chorando, ele contou toda maldade que seus familiares e sua própria filha lhe tinham feito, esclarecendo que ele os odiava muito e que jamais conseguiria perdoá-los. Esclareci-lhe que fizera a pergunta por que ele me falara de seu último grau de diabetes, acrescentando que todos os dias tomava insulina, mas que a perna só piorava. Disse-lhe que presumira logo que havia rancor envolvido em sua doença e expliquei-lhe que se conseguisse perdoar tais pessoas logo voltaria a caminhar sem muletas e poderia ficar curado em dois ou três dias. Ele, porém, disse que perdoá-las era impossível, pois seu coração era muito duro. Orei então com ele pedindo a Deus que lhe curasse a dureza do coração e o fizesse ver que também carecia de perdão. Ao fim da oração ele chorava, mas seguiu convicto de que não conseguiria perdoar seus ofensores.
No dia seguinte apressei-me a ver como ele estava. Trazia a muleta ainda e o caminhar mais comprometido. Disse-me que estava pior com mais dificuldade para sair a rua. Pediu-me, porém, que eu orasse por sua doença. Disse-lhe que não faria isso, que oraria pela dureza do seu coração. Acrescentei que não adiantava ele buscar a Cristo se não podia perdoar seus filhos, pois em Mateus Jesus mesmo disse que “se não perdoardes aos homes os seus pecados, Deus também não vos perdoará”. Ele, porém, insistiu que não era possível perdoar seus familiares e acrescentou que eles não mereciam.
No dia seguinte apareceu bem mais tarde e com reforçada dificuldade. Disse-me que a situação piorara muito e que a insulina quase não fizera efeito. Outra vez lembrei-lhe que se perdoasse seus familiares em pouco tempo caminharia sem muletas. Outra vez, porém, ele disse que era impossível, pois eles não mereciam perdão. Perguntei-lhe se Jesus não merecia. Ele respondeu que Ele merecia, mas que não carecia. Disse-lhe então que seus familiares não estavam a pedir-lhe perdão, mas Jesus estava pedindo que ele perdoasse aquelas pessoas. Mostrei-lhe na Bíblia onde Jesus diz isto. Então lhe perguntei se não podia fazê-lo por Jesus. Ele respondeu que por Jesus poderia se esforçar para fazer. Disse-lhe então que fizesse. No dia seguinte ele já apareceu mais disposto. No dia posterior já caminhava com mais facilidade. Em três ou quatro dias já andava sem a muleta. Não sei se conseguiu perdoar de um todo e tampouco se perdoou a todos os seus desafetos. Ele continuou puxando da perna, mas sem mais ter que usar muletas.
O ódio, o rancor, o desejo de vingança, o estresse, o medo, a ansiedade, a intolerância e os outros tantos descontroles e desequilíbrios emocionais produzem acidez em exesso no corpo, aumentando o que já está em demasia, desequilibrando o PH do organismo, propiciando a combinação química em que os minerais da urina se solidificam produzindo os cálculos, ulcerações brotam na boca e no estômago e tumores se desenvolvem em diferentes áreas.
Se alimentamos esses sentimentos, produzimos nosso próprio sofrimento e sofremos por nossas próprias preferências, pois ao contrário do que reza o dito popular, a vingança é um prato que se come doente, se ainda não se tiver morrido de ódio.
Wilson do Amaral