Agora tudo é Bullying...

Agora tudo é...Bullying. E o que é isso?

Atualmente, temos ouvido falar em diferentes ocasiões o termo "Bullying que é uma palavra vinda do inglês, utilizada para descrever atos de violência física e/ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo" .

"Ah! É isso...então eu sei o que é" - disse-me um senhor outro dia quando queria saber melhor sobre o diagnóstico do neto- "Só que no meu tempo a gente levava na brincadeira, eu mesmo já sofri disso então, pois quando eu era pequeno na escola me chamavam de dumbo, porque eu tinha as orelhas grandes (de abano), mas a gente resolvia isso logo, já dava uns cacetes no "muleque" e ele não se metia mais a besta."

Que interessante! - exclamei, e ele continuou: -"E funcionava, viu! Agora a "mulecada" ao invés de se preocupar em aprender, fica procurando um jeito de poder ficar "magoado" e não ir para a escola, e os professores e pais dão muita atenção a uma coisa que se fosse conversado direito em casa tava resolvido, porque se você não é o que eles tão falando...oras bolas, deixa pra lá, não é dona?".

Eu fiquei pensando sobre essa fala dele e me lembrei que na minha época de escola existiam muitos apelidos também, como por exemplo: "quatro olho"(para os meninos de óculos), "pelé" (para todo menino negro),"mariquinhas" (para os meninos que não gostavam de brigar), "juba de leão" (para as meninas com muito cabelo), "dumbo" (para quem tinha orelhas grandes), "baleia"(para os gordos), "tripa seca" (para os magros),"cdf" (para os estudiosos), "burro" (para os que tinham notas baixas),"pão duro" (para os que não levavam dinheiro),"quadrado" (para os tímidos),"galinha" (para meninas que gostavam de namorar), e sobrava até para as professores carecas (pouca telha) e para as professoras magrelas (vara-pau) sem contar que toda diretora era "machona ou mulher-macho".

E não me lembro de caso onde esses episódios não fossem resolvidos lá na saída da escola, porque em horário de aula, os professores tinham tanta matéria para nos ensinar e tinhamos aula de música, educação física (exécicios físicos mesmo, e não apenas jogar bola),ensaios de danças folclóricas (dança da fita, balaios, cantigas),ensaios da fanfarra, competições e gincanas entre as classes, declamar poesias e ler redações, participar de atividades de educação moral e cívica cantando o hino e hasteamento da bandeira), exposição de trabalhos de educação artistica , inventos de química e biologia...Nossa! a gente estudava pra caramba...e no final de semana ainda tinha os bailinhos que fazíamos na casa da turma, cada dia numa casa, só pra tomar "Crush" e ouvir nossas músicas nas eletrolas e, naturalmente, dançar um pouquinho, juntinho - é claro.

Bem, mas e agora? O que está diferente? O destroçamento do núcleo familiar, onde as pessoas, no aconchego do lar não conversam mais entre elas - uma "some" nas dependências da casa munida de seu notebook, outra fecha a porta e não se separa do celular e tem quem se perfila diante da tela insana da televisão assistindo a programas de baixo nível - e tudo isto vai desaguar nas escolas.

O que também propicia o "Bullynig", sem dúvida, são as famílias disfuncionais, onde as crianças não são reconhecidas nas suas potencialidades inatas, não raro são anônimas dentro das suas próprias casas, não recebem elogios, não são fortalecidas em suas capacidades e talentos e por isso se tornam alvos fragéis para outras crianças ou adultos que igualmente foram desestimulados em suas famílias ou empregos e, agora, descontam no primeiro que se encontrar emocionamente vulnerável.

Essa vulnerabilidade, aliás, é oriunda da baixa autoestima de muitas dessas pessoas que, por não terem luz própria, estão propensas a ser vítimas passivas ou algozes de situações depreciativas, haja vista que, nesse contexto, embora de extrema negatividade, é que essas pessoas acabam sendo "notadas" ou se fazem "notar". Há que se aprofundar mais no estudo da origem dessas situações.

Nas escolas, com as exceções de praxe, alguns professores desmotivados e desrespeitados pelo próprio governo que lhes paga salários irrisórios, ministram aulas insossas, que não cativam os alunos através da aventura eletrizante que viria a ser a aprendizagem, caso as aulas fossem ministradas de outra maneira. Pronto: temos aqui uma ambiência propícia à anulação do ser humano como pessoa - seja professor ou aluno - e, nesse vazio de valores individuais e de ética nas relações humanas, a desarmonia nos contatos, que no passado se resolvia de uma forma mais "light", assume foros de proporções de tal virulência que envolve a polícia, advogados, promotores e juízes; o Estado, enfim, é convocado para, através de legislação pertinente, coibir esses abusos sintetizados no termo "Bullying".

As leis, por si mesmas, podem alcançar e punir os infratores, porém não raro com penalidades brandas - uma quase - impunidade (e isto estimula mais o "Bullying"), quando há que se buscar a resolução desses problemas através de mudanças educacionais (escolas e professores bem preparados), na alteração da legislação que de fato alcance e puna com rigor os malfeitores em geral, bem como responsabilize os pais que, na maioria das vezes, fazem vista grossa para o problema e em alguns casos até estimulam os filhos com maus exemplos vindos de casa. E não apenas combater a delinquência estudantil, mas se criar um projeto de cidadania sob medida para um país como o Brasil, gigante pela própria natureza, mas que não consegue caminhar por si mesmo nas questões éticas e morais que verdadeiramente formatam uma Nação.

Penso que precisamos de bom senso. Ao invés de ficarmos instigando as crianças e jovens que qualquer olhar atravessado é um "preconceito" ou " assédio", que usemos nosso tempo com eles para enaltecer o amor próprio e ao próximo de qualquer nacionalidade, origem social, cor da pele ou credo religioso; de se ter exemplo de cidadania nos relacionamentos e também com o meio ambiente, os animais e, principalmente, incentivar bons hábitos em casa, como a troca de ideias uns com os outros, leitura de alto nível e música de qualidade.

Parece coisas muito simples - e são -, mas que certamente, quando implementadas, farão a diferença no posicionamento e nas atitudes de seus filhos perante qualquer embaraço que enfrentarem - e serão muitos os obstáculos com os quais terão de lidar ao longo da vida; no entanto, com autoestima bem estruturada, fruto de uma boa educação familiar acima de tudo, eles saberão sagrar-se vitoriosos sobre essas circunstâncias adversas.

Luiza Gosuen
Enviado por Luiza Gosuen em 30/08/2010
Reeditado em 05/09/2010
Código do texto: T2468732
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