O Índice de Reajustes dos Planos de Saúde


Um dos grandes problemas que o Plano Real enfrentou para conter a inflação em 1994, fui da denominada indexação. O que é isto? É denominação dada a uma situação onde por conta de haver um processo inflacionário todos os preços estão vinculados a índices de reajustes, visando recompor a inflação, o problema é que estes índices não são idênticos, e o repasse de aumento não é algo que se consiga apenas por que se quer repassar, há que haver condições de mercado que beneficiem, quem quer fazer o repasse, neste sentido existem aqueles que conseguem um repasse maior do que outros. Neste caso na interação do mercado aquele que conseguiu menor índice passará a transferir parte maior de sua renda para o que conseguiu maior índice, o que implica em dizer que terá menos dinheiro para gastar com outros produtos ou serviços.
No citado período foi determinado o fim da indexação, entretanto, os índices continuaram a existir, e de modo geral os preços controlados pelo governo subiram acima da inflação, o que significa que com isto aqueles que não conseguiram o mesmo reajuste passaram a transferir parte maior da sua renda, sob a forma de gastos, para estes serviços, são muitos os casos, mas aqui, o objeto são os planos de saúde, onde segundo informação do IDEC – Instituto de Defesa do Consumidor subiram bem acima da inflação.
Assim enquanto a inflação entre 2000 a 2010, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo do IBGE) acusou 105%, para o planos de saúde com contrato assinados até 1998, ocorreram reajustes das seguintes ordens: os planos antigos de Sul América, Bradesco Saúde e Itaú Saúde aumentaram 200% no mesmo período. O reajuste foi menor, porém, também acima da inflação para os planos contratados a partir de 1999, algo em torno de 136% para o mesmo período. Quem é o responsável por esta situação? Pelo lado das operadoras a argumentação é que os planos antigos oferecem maior reembolso que os novos.
Já a ANS, Agência Nacional de Saúde, uma daquelas criadas na onda de privatização para servir de mediadora entre empresas e consumidor, neste caso, específica da saúde, alega que se trata de novas tecnologias da medicina, é algo interessante de se notar que os serviços controlados por tais agências costumam ter esta tendência de subir acima da inflação o que sem dúvida não beneficia o consumidor, mas o foco aqui é saúde.
Em primeiro lugar, este é um dos direitos essenciais que o cidadão deveria ter garantido pelo Estado, mas sabe-se lá porque não é. Trata-se de segmento claramente deficiente, e assim é o melhor amigo das empresas de planos de saúde privada, ou seja, em havendo a possibilidade, o consumidor de bom senso não quer depender do serviço público de saúde. Este estímulo de mercado não para por aí, como o serviço é precário, os planos não encontram uma concorrência no setor público, se existe alguma é somente entre eles mesmos, entretanto, é uma concorrência de poucos, o que não contribui para um nivelamento pelo alto.
No mais há que se lembrar que além dos reajustes, existem os saltos de faixa etária, o indivíduo conforme envelhece fica sujeito a tal aumento, além do reajuste acima da inflação. É aumento por conta da idade, justamente por mais precisarem fica mais caro, as vezes se pagou uma vida inteira, e muito pouco utilizou, mas e daí? Se não puder pagar, se vira com a saúde pública.
Negócio é negócio, e saúde é um grande negócio, afinal é um bem de primeira necessidade. Resumo: pessoas desamparadas quando estão mais vulneráveis, revolta, indignação, e muita conversa para se chegar a lugar nenhum, e o consumidor, enquanto tiver bastante saúde será sempre bem vindo, depois paciência, afinal com tanta propaganda falando que a saúde no país é boa, parece ser uma petulância não acha-la adequada. Ironias e sarcasmos a parte, o negócio parece pesadelo em intermináveis capítulos com tons de terror.



Autor - Gilberto Brandão Marcon, Professor e Pesquisador da UNIFAE, Ex-Presidente do IPEFAE (2007/2009), Economista graduado pela UNICAMP (1982/1985), pós-graduado ‘lato sensu’ em Economia de Empresas pela FAE (1986/1988), com Mestrado Interdisciplinar em Educação, Administração e Comunicação pela UNIMARCO (2006/2008), Comentarista Econômico TV União, Escritor, e com aperfeiçoamento como aluno especial no Mestrado de Filosofia da UNICAMP na área de Filosofia da Psicanálise (2002/2003).

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 08/08/2010
Reeditado em 28/04/2012
Código do texto: T2425747
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