GÊNIO FORTE = FRAQUEZA OCULTA (Escrita meio saramaguense)

Ouço todos os dias cônjugues que descrevem sua tampa como tendo um Gênio Forte. Já estou acostumado inclusive quando os dois adentram o meu consultório e por cerca de 30 minutos surge o “Porque ela..., Porque ele...”, com acusações infantis sobre o procedimento do ‘outro’ na vida conjugal (=sob o jugo). Costumo dar meia hora de prazo, ouvindo atentamente as acusações. Cessado este tempo, faço um T com as duas mãos e peço: “Poderiam dar um tempinho?” Geralmente concordam. Aí tiro o relógio do pulso, coloco-o sobre a mesa e olhando ora para eles, hora para o relógio, fazemos um minuto de silêncio, ao fim do qual coloco de novo o relógio e digo: “Dei um minuto de silêncio, pois preciso que os dois estejam bem atentos a uma pergunta complicada e que requer bastante coragem para responde-la, estão prontos?” “Pode dizer!’, costuma ser a resposta. Prossigo: “ A pergunta será resumida, para conseguirem pensar com clareza: Da maneira como estão se tratando, estão caminhando para uma boa solução?”

Irritados, respondem, não raro em uníssono: “Claro que não, não é doutor; se estivesse bem não estaríamos aqui!...” O fechamento da querela: “Se estão me dando a honra de ajuda-los, precisarei que façam um pacto comigo: doravante só quero ouvir de cada um, como fazem para atrapalhar esta união, sem que citem defeitos ou causas atribuídas ao outro”. Eles se olham, como se dissessem ”como vamos sair dessa?”.

Neste ponto eu explico a eles que gostariam que não trocassem idéias sobre como fazer, se fosse preciso comprariam um caderno do tipo brochura, de umas cem folhas e uma caneta, e passassem a questionar, a analisar seu comportamento, como se estivessem vendo um conhecido, sem medo de dizer qualquer coisa, sem acusar ninguém, mas olhando-se por inteiro. Lembro-lhes uma frase popular que fala: “Os amigos sabem tudo sobre os outros!”,

assim, escrevendo, iriam falar sobre um personagem conhecido, sem mágoa, buscando ver como o problema surgiu, como cresceu e como os despertou para a busca de uma ajuda. Falo ainda em como esta atitude foi corajosa, pouco comum na maioria da sociedade, que se dilapida, chegando a um papel triste e ridículo, camuflado por compras, gestos e na maioria das vezes em competições de gênios, para verem quem cala a quem.

Para se mostrarem elegantes ou para despistar sua frustração ao verem que nossa varinha mágica não funcionava com eles, traçamos um novo encontro para um prazo estipulado por eles, findo o qual é muito comum trazerem o caderno em branco, ou com algumas frases citando suas frustrações, mostrando estarem enganados, mal preparados para o casamento, ou outras fugas.

Analiso o medo de se verem nus; mostro que só mudaremos o mundo se dermos algumas voltas dentro de nós; mostro que a quantidade de casais que vivem felizes é muito pequena e volto a insistir na tarefa.

Alguns chegam a dizer que não vão conseguir e eu complico a vida deles mostrando que se fugirem do seu encontro só restará uma conversa franca, sem agressões, visando o estabelecimento de um meio pacífico para a separação. Pois terão que ser amigos, sendo pai e mãe atuando com amor na criação deles, apoiando-os e ensinando-os a não se enganarem, para não chegarem também a um final de matrimônio, ao contrário de uma vida saudável. Geralmente aí, vejo lágrimas e disfarces do marido, para não chorar.

Surge então a brecha que preciso para ensinar a se olharem.

Conto-lhes que a união de casais é ditada pelo interior de cada um, que sem o perceber produzem hormônios secretados pela pele, comandada esta secreção por um código psíquico, onde se revelam ao outro inteiros, com todas as qualidades e mazelas, e que estes ferormônios (feromônios, popularmente chamados), penetram por um buraco no nariz, chamado órgão vômero-nasal e chegam ao inconsciente, fazendo um raio X da pessoa, dizendo se sua textura é compatível com as dos aspiradores, dizendo se podem ou não serem aspirantes ao cargo de tampa ou corpo do balaio, com a mesma textura, isto é, com a mesma taxa de segurança, insegurança, tristeza, coragem, medo, fuga, certeza e todas as características que formam a personalidade complementar, suplementar, ou antropofágica.

Prossigo dizendo que o nosso inconsciente sabe muito detalhadamente como é o outro; sabe se poderá viver harmoniosamente, se haverá dominação, ou haverá respeito, harmonia sexual, gostos e desgostos em comum.

Isto é o que nos afasta ou aproxima de pessoas que nunca vimos, que nem se manifestaram, que gera em nós simpatia ou vice-versa.

Ocasionalmente ocorre uma pergunta: “Quer dizer que se eu me separar, vou buscar alguém igual a este(a)?

A resposta é: “Caso não se encontrem e partam com o mesmo conteúdo, para a busca, sim! Darão com os ‘burros n’água’ novamente!”

Nova questão: “E como modificar isto?”

A resposta: “Já lhes ensinei, mas o medo de se perceberem, desnudarem-se, criou uma fuga dizendo que não sabem como fazer para olhar para dentro”.

A réplica (ou será vintépica?): “O senhor crê que não gostaríamos de viver bem, é isto?”

“Acho que se quiserem viver melhor, terão que iniciar uma vida matrimonial, não a conjugal que estão vivendo!”, é a resposta.

“Como? Teremos que ficar nús?”, é a pergunta mais frequente...

“Não sem roupa, pois não me buscaram para ser voyeurista, apenas para ajuda-los a parar de se defender. Ninguém pode culpar ao outro, a escolha, embora inconsciente, já determinara como seria o casamento, os dois sabiam que estavam blefando. Assim só resta uma saída: procurar se conhecer, mudar tudo que for possível e os monólogos passarão a ser: ‘porque eu, porque eu...” “Cada um olhando para suas entranhas, nem um pouco estranhas, mas cheias de manhas, que esconde as esporas nas polainas”, brinco com eles.

É um momento maravilhoso, pois eles percebem com a brincadeira, que não sou juiz, que não criarei métodos, caminhos ou clones meus.

Rimos à beça e não raro as armas caem ao chão, dando lugar a um novo mundo: “Como posso mudar e agradar a mim mesmo?”

Estão rindo? Já foi escrito ‘zilhões’ de vezes, que nosso melhor próximo, somos nós mesmos.

Ame-se sem falsidades, revendo seu caminhar e encontrará sossego, para enfrentar as batalhas do dia a dia.

Reformule seus ferormônios, mudando seu jeito de ser. Busque achar seu chanel, nunca um ferormônio sem graça, sem jaça, com trapaça, que nem disfarça.

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