Amor, vida e destino pela consciência

Amor, vida e destino através da consciência

Todos nós temos uma definição de consciência, da nossa consciência pessoal. É através dela que percebemos claramente os atos que praticamos, e dependendo dos atos ficamos de consciência “leve” ou “pesada”. Sentimos essa consciência avaliar nossos atos, e muitos julgam inclusive ser essa consciência o juiz do “certo” e do “errado”. Esse é um grave erro, engano muito comum.

Nossa consciência pessoal nada tem a ver diretamente com o certo ou o errado.

O certo ou errado depende de um ponto de vista, da cultura e das crenças, como por exemplo: um judeu quando mata um sírio, sente-se um herói; os muçulmanos tem 3 ou 4 esposas, provocam a matança em nome de Alá, e a consciência deles nada acusa.

A consciência se guia por outros princípios, que podem ou não estar ligados ao que é denominado de moralmente “certo” ou “errado”.

A descoberta desses princípios pela visão sistêmica descortinou um universo de percepções sobre a natureza de nossos relacionamentos familiares, e por extensão, estamos ligados pela consciência a todos os demais grupos a que estamos inseridos.

De acordo com nossas pesquisas, investigando a forma como cada um se sentia muitas vezes inocente (ou de consciência “leve”), mesmo cometendo atos agressivos, violentos e que prejudicavam a si e a outros , percebemos claramente que a consciência pessoal se liga a três princípios, a saber:

1°) Um princípio vinculador, que estabelece a forma de agir para ter o direito de pertencer ao grupo;

2°) Um princípio de equilíbrio nas trocas, entre o dar e o receber;

3°) Um princípio de ordem ou hierarquia dentro do grupo, quem veio primeiro.

Nos sistemas familiares, quando alguém faz algo que ameaça seu pertencimento ao grupo, sente imediatamente a consciência “pesada”. Por exemplo, se alguém se depara com o fato de estar saudável, mas todos os membros de seu grupo familiar estiverem muito doentes, vai se sentir “culpado”. Ou um membro de uma família de criminosos sente-se “culpado” se ele não comete também algum delito.

Estranho, não é? Especialmente estranho porque, nesses casos, essas pessoas se sentiriam “inocentes” – ou de consciência leve – fazendo coisas que no primeiro caso (adoecer junto com os demais membros da família) seria uma coisa “ruim”, e no segundo (não cometer nenhum delito) também não seria uma coisa “boa”.

Seguindo os dois princípios seguintes, nas ordens de dar e receber, podemos perceber que quando recebemos algo bom, sentimos uma pressão interna para retribuir, o que é na verdade uma forma de consciência pesada, percebida como dívida.

Com este entendimento fica claro para você entender porque que aquela pessoa que, embora você tenha ajudado tanto e lhe dado de tudo, se virou contra você e o relacionamento acabou. Foi o desequilíbrio entre dar e receber! Você deu mais do que ela podia suportar! Por isso, quem só dá e não recebe desequilibra o sistema, inclusive nos relacionamentos, quando um cônjuge age com estupidez e maltrata seu parceiro, o outro precisa reagir e devolver para ele um pouco menos, é claro que com sabedoria para não desencadear agressões, por que se o outro engolir tudo vai acabar o relacionamento pelo desequilíbrio entre dar e receber.

No caso da ordem da hierarquia, se temos que agir de forma a repreender alguém que está acima de nós na hierarquia, percebemos isso como algo que nos deixa “de saia justa” – por outro lado, se o fazemos com um subordinado, isso não nos pesa tanto. É o respeito e a honra a quem veio primeiro, aos pais.

Mas a visão sistêmica ainda nos esclarece outro fator surpreendente e que na maior parte do tempo nos escapa da percepção: a existência de uma consciência espiritual comum que atua sobre o grupo como uma força influenciativa e determinante no agir das pessoas pertencentes de cada grupo - familiar ou social.

Esse grupo e as pessoas em particular são guiados por essa consciência de forma que só podemos perceber a existência dela através de seus efeitos. Não faz aquilo que quer e se vê fazendo aquilo que detesta, destinos de infelicidades, fracassos amorosos, fracassos financeiros, doenças e psicoses.

No primeiro nível de consciência pessoal percebemos como “consciência leve” ou “pesada”. Essa consciência espiritual, ou terceiro nível de consciência, também se guia pelos mesmos princípios anteriormente citados, mas de forma diferente. Podemos explicar isso de forma simples:

• Vínculos: em relação ao vínculo, a consciência espiritual não permite que qualquer membro do grupo seja esquecido, expulso ou excluído sem exigir uma compensação. Caso ocorra, ela vai exigir que um descendente que veio ou venha mais tarde (e que frequentemente nada sabe ou nem mesmo participou do fato) repita o destino do excluído ou aja de forma similar a ele (sem o saber). Vou dar um exemplo de um caso clinico. Atendi uma senhora com 42 anos de idade, de boa aparência e com formação universitária. Sua queixa era depressão e dificuldade de relacionamentos afetivos. Durante seu tratamento ela nos narrou um evento na quarta geração: uma ancestral foi obrigada a se casar através de um casamento arranjado com um homem o qual ela detestava. A ancestral entrou em depressão e acabou suicidando-se aos 28 anos! A descendente que nada sabia do episodio estava lhe honrando, numa forma de expiação. E como é que se honra um destino assim? Sofrendo as mesmas formas de conseqüências, desencadeando a depressão, não se relacionando. Depois das ressignificações, ela ficou livre da depressão e está relacionando-se muito bem em um relacionamento duradouro.

• Em relação à lei de dar e receber: A consciência espiritual também atua, e exige uma compensação adequada para o que foi dado e recebido. Se alguém recebe demais e não equilibra isso, então um descendente tem a propensão de fazê-lo em seu lugar. E aqui poderemos exemplificar com o caso de uma jovem mulher que constantemente se irava com seu marido, sem causa aparente. Em seu tratamento, vimos que esta ira não era sua, mas sim de sua bisavó que sofria calada aos insultos do marido. A neta estava simplesmente compensando os insultos que sua bisavó tanto recebeu sem devolver.

Em relação às finanças, observamos as síndromes de avós ricos, pais remediados e netos pobres. Os avós receberam muito do universo, mas nada lhe devolveu. As gerações posteriores também nada doaram ao universo e, numa forma de compensação, ficam sem posses.

• Em relação à hierarquia, ou a ordem, essa consciência não admite a interferência dos pequenos nos assuntos dos maiores, sob pena de os primeiros se sentirem (sem perceber) tentados a expiar sua interferência através do fracasso, da doença e de destinos difíceis. Aqui exemplificaremos com outro caso clinico: um casal que brigavam muito, e sua filha mais velha achava-se no direito de repreender seu pai, e ordenou sua mãe que separasse de seu pai, tomando para si um grande fardo. Esta mulher teve cinco filhos, que tinham sérios problemas de relacionamento e nenhum havia se casado, apesar de estarem com mais de quarenta anos. Os filhos não podem querer ser pais de seus pais! Se os pais brigam, os filhos nunca devem sugerir a separação, devem deixar que seus pais se resolvam! O máximo que devem fazer é sugerir que procurem ajuda.

Outro fator importante e que normalmente acontece quando os pais estão idosos, é quando os filhos se acham no direito de mandarem em seus pais, quando não fazem uma casinha no fundo de sua casa e os colocam lá, contra suas vontades, sem eles pedirem. Os filhos que assim agem não têm noção do fardo que colocam em suas costas! Claro que os filhos devem ajudar seus pais, mas se eles pedirem e de pleno acordo com seu querer!

Dito isso, fica então muitas vezes claro que alguém, agindo de “boa consciência”, frequentemente por amor, infringe as regras da consciência do grupo, chamada de consciência arcaica ou também de “alma” (não no sentido religioso, mas no sentido latino da palavra - “aquilo que empresta movimento a algo”). Os infratores agem por amor, mas um amor fora de ordem, que ao fazê-lo sobrevém então os efeitos desastrosos, seja para si ou, mais freqüentemente, para seus descendentes.

Denominamos esses princípios de “Ordens do Amor”, e temos dois modos de amar: amor em ordem e amor fora de ordem. A água do jarro é o amor, o copo é a ordem, se derramamos a água no copo, esta água toma forma de um copo. Ai dizemos o amor em ordem. Se derramamos a água do jarro no chão, vira bagunça e quem passar nesta água poderá escorregar e até mesmo cair. As ordens do amor deveriam ser muito observadas, pois elas estão no centro das dinâmicas que alienam ou desalienam as pessoas de destinos funestos. Diríamos que as ordens do amor são grandes pilares que arquitetam o destino, pois os destinos funestos se agregam e atuam através do amor profundo e “cego” num verdadeiro emaranhado, alienando descendentes e antepassados. Os fracassos vivenciados pelos ancestrais “por amor fora de ordem”, são reeditados pelos descendentes e repetidos numa forma de honrar os que fracassaram no passado, obedecendo aos princípios da ordem hierárquica - “eu ficaria de má consciência com os que vieram primeiro caso obtivesse sucesso”. Nesta dinâmica estão enquadrados milhões de pessoas que sofrem de psicoses e fracassos diversos.

A maravilhosa visão sistêmica, através de suas percepções, abre também grandes avenidas que permitem a solução entre tais desordens, através de um amor mais amplo, fazendo o verdadeiro amor fluir, e um amor consciente, que ultrapassa os limites restritos da consciência pessoal. É nesse âmbito que se desenvolvem os tratamentos sistêmicos familiares, eliminando as doenças e os fracassos e buscando restaurar a harmonia entre as ordens do amor dentro de cada grupo familiar.

Através deste modo de ensinar sobre a vida torna-se compreensível o comportamento de cada membro familiar, bem como se encontra uma saída para voltar fluir o amor verdadeiro que estava interrompido.

Dr. Celso Scheffer. Psicanalista.

visite nosso site www.ipth.com.br

Dr Celso Scheffer
Enviado por Dr Celso Scheffer em 29/05/2010
Código do texto: T2287095
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.