CLIMATÉRIO. MENOPAUSA. ENVELHECIMENTO
Sérgio Martins PANDOLFO*
“A beleza, a graça da mulher, dependem da hora em que se mostram”
Jornalista Paulo Maranhão, ”Ócios de um Espírito Sonolento”
Há que se esclarecer, preliminarmente, que climatério, menopausa e envelhecimento, são problemas inerentes à espécie humana, não estando relacionados, pelo geral, com animais inferiores.
Conquanto do ponto de vista estritamente clínico e fisiológico o climatério nada mais represente que uma fase da vida do ser humano – sim, pois que homens e mulheres a percorrem e já o grande clínico brasileiro Berardinelli costumava referir-se à “síndrome dos quarentões” para caracterizar o climatério masculino – na mulher, principalmente, um de seus epifenômenos, a menopausa, invariavelmente lhe confere conotação de envelhecimento, que ela teme, deplora e repudia.
Malgrado já em 1968 a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) tenha dado especificidade e universalizado entre os ginecologistas e obstetras as expressões climatério e menopausa, conceitos esses oficialmente ratificados pelas diversas categorias profissionais que atuam nas áreas de saúde, até nossos dias confusões e impropriedades seguem sendo mantidas e utilizadas, mesmo por quem não mais deveria cometê-las, sendo vasta a sinonímia empregada para expressar a fase que antecede a senectude (velhice), tais como: climatério, menopausa, pós-menopausa, síndrome pós-menopausa, síndrome climatérica, doença menopausal, idade crítica, terceira idade (ou seu correspondente eufêmico, “melhor idade”) e outras que tais.
É climatério a fase transicional entre a maturidade sexual e a senectude, assim como a puberdade é o elo que intermedeia a infância e o apogeu sexual e menstrual (menacma). Menopausa é, tão-somente, a última regra havida e, portanto, um curto momento do climatério; não é seu fenômeno mais importante, mas é, sem ponta de dúvida, o mais marcante, - às vezes dramático! –, aquele que deixa impressa na paciente a sensação de que, finda sua vida reprodutiva começa a envelhecer, assim como é a menarca, mênstruo inaugural, a referência mais saliente da puberdade.
O climatério tem seus limites médios estabelecidos hoje entre 45 e 60 anos, a menopausa ocorrendo aproximadamente aos 47/51 anos, havendo, portanto, a reconhecer nele, uma fase pré-menopáusica e outra pós-menopáusica.
Há que se chamar a atenção para o fato de que, com o avanço da medicina, melhores condições de saneamento e higiene, de alimentação, de hábitos de vida mais salutares e outros fatores, a expectativa de vida dos indivíduos tem sido alargada nos últimos tempos e, identicamente, a idade de ocorrência da menopausa. Ao tempo do Império Romano, a vida média era muito curta, de cerca de 25 anos somente. Quando Cabral aqui chegou (1500), já essa previsão houvera ascendido para aproximadamente 35 anos.
Entre nós, em que pese não disponhamos de dados oficiais confiáveis, podemos estimar atualmente a expectativa de vida do brasileiro em 68 anos; nos EUA, em que de tudo se fazem estatísticas, a esperança de vida dos cidadãos, em 1900, era de 50 anos; em 1960 passou para 70 anos, situando-se, atualmente, em derredor de 78 anos. Vivendo biologicamente mais, a mulher tem tido, ao longo dos anos, dilatada sua vida reprodutiva, e a menopausa que antes ocorria em média aos 43/44 anos, atualmente avançou para 50/51 anos (sendo que em determinados países é ainda mais tardia). E a mulher vive cada vez mais após a menopausa.
Esses períodos todos não são estatuídos aleatoriamente, mas sim, estão na dependência direta do fisiologismo feminino, de suas modificações ao longo da vida da mulher, como se pode depreender da análise de seu ciclo sexual, que pode ser representado por uma escada, que ela começa de subir antes mesmo da adolescência; alcança a maturidade reprodutiva, estabilizando-se em cumeada por algum tempo (menacma) – estádio de fastígio sexual -, iniciando-se, após, a trajetória de descida, cada vez mais alargada, que a levará ao climatério, à menopausa e, por fim à senectude.
Nos primeiros anos de vida estão silentes (“adormecidos”) os ovários (conquanto responsivos) por falta do estímulo hormonal específico da hipófise (glândula situada na base do cérebro), devido à letargia dos centros hipotalâmicos (porção do tecido nervoso cerebral) que não liberam os releasing factors (fatores necessários ao deslanche funcional hipofisário); na fase pré-puberal, as funções tróficas e somáticas das gônadas (ovários) já são capazes de determinar a feminização da menina e a função estrogênica persistente, acaba por transmudá-la em moça, sobrevindo, dessa metamorfose, a menarca e a consequente plenitude sexual reprodutiva. A partir dos 40/44 anos começa novamente a declinar esse jogo hormonal integrado e as regras voltam a ser marcadas com as mesmas características de irregularidade e demasias, apanágio das idades extremas da vida reprodutiva da mulher: puberdade e climatério. A função estrogênica persistindo por tempo variável manterá, satisfatoriamente, as funções tróficas e somáticas, até que se instale, definitivamente, a refratariedade ovariana, com expressivas repercussões somáticas (físicas), psíquicas e sexuais assaz variáveis. “A vida tem os aspectos que a nova idade lhe empresta”, sentencia o atilado Paulo Maranhão, celebrado e arguto jornalista parauara, em seus filosóficos “Ócios de um Espírito Sonolento”.
Entrementes, não fica à mulher menopausada inteiramente sem estrogênios circulantes: estrona (estrogênio de menor efetividade), especialmente, é produzida a partir de androgênios (hormônios masculinos) elaborados nos ovários e supra-renais desdobrados nos acúmulos periféricos de tecido adiposo (gordura). Eis razão por que as pacientes engordam na pós-menopausa, conquanto quando estão a receber TRH (terapia de reposição hormonal) substitutiva acreditem ser isso devido aos hormônios.
Essa neoestrogênese, que não obedece aos mecanismos controladores usuais, pode variar agudamente num mesmo indivíduo ou entre indivíduos, declinando progressivamente com o rodar dos anos, seguindo-se atrofia dos órgãos estrogeniodependentes, tais como: mamas, uretra, vagina e vulva, começo de trajetória inapelável e sem detença que a levará à senectude, com todo o seu cortejo demolidor das tão apreciadas quanto fugidias feminis formosuras.
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(*) Médico e Escritor. .
Prof. Livre-Docente Doutor da UFPA. Tocoginecologista titulado. Emérito do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Ginecologista do Hospital de Clínicas “Gaspar Vianna” (Belém). Membro da ABRAMES E DA SOBRAMES - serpan@amazon.com.br - www.sergiopandolfo.com