A polêmica do Santo Sudário

Entre as muitas relíquias religiosas, uma que sempre despertou bastante polêmica foi o Santo Sudário, que embora seja objeto de devoção por boa parte da população católica que faz verdadeiras peregrinações para vê-lo de perto, é visto por muitos como uma fraude. Vários alegam que é de origem duvidosa e que não dá para acreditar que o tecido realmente envolveu o corpo de Jesus Cristo após a sua crucificação. O que é o Santo Sudário? É um lençol de linho em padrão de espinha de peixe, com 4,41 metros de comprimento e 1,13 de altura, que fica exposto na lateral à esquerda do altar da Catedral de Turim, na Itália. Em negativo, há uma imagem gravada no pano que muitos dizem ser o rosto de Jesus.

Apesar de vários acreditarem no Santo Sudário, para vários cientistas e historiadores há fortes indícios de que ele seja, na verdade, uma fraude medieval. Muitos que defendem a autenticidade do tecido dizem que deve se considerar que na época em que Jesus foi crucificado não havia fotografia e, portanto, não haveria como haver uma imagem em negativo no pano e reforçam que a imagem revela o quanto Jesus foi torturado principalmente antes de morrer. Porém, segundo consta, crucificados não eram sepultados. Tal constatação é feita pelo historiador André Leonardo Chevitarese à BBC News Brasil em entrevista. Essa constatação já serviria para colocar em xeque a veracidade do tecido? Não sabemos, no entanto há outros indícios que têm sido descobertos e que só reforçam as dúvidas acerca do Santo Sudário.

Um artigo publicado pela Revista Galileu, em 2018, diz haver evidências significativas de que o Santo Sudário é uma fraude. Uma evidência que com certeza alimenta nossas dúvidas é o fato de que foi descoberto o pólen de plantas que não existiam na Palestina no tempo de Jesus, como o algodão-doce e o cedro-branco, nativos da Europa e Turquia. Além disso, estudos de datação por carbono-14, feitos em 1988, indicaram que o Sudário foi feito na verdade entre os anos 1260 e 1390, o que não corresponde à época em que Jesus teria vivido.

Foi feita uma análise detalhada das marcas de sangue presentes no tecido e tal análise revelou que elas não correspondem ao fluxo sanguíneo que ocorreria em um corpo que houvesse sido crucificado. A distribuição do sangue no Santo Sudário é, segundo a análise, incompatível com a anatomia humana. Uma outra questão é que não há registros confiáveis da existência do Sudário até o século XIV, quando ele foi exibido pela primeira vez em Lisey, na França. Vale então perguntar como ele se conservou durante todo esse tempo até ser encontrado. Para que o tecido tivesse sido mantido, com certeza alguém o teria guardado consigo depois da crucificação de Jesus. Entretanto, como esse tecido foi da Palestina até a França? Esse é um questionamento que não pode deixar de ser feito.

Ainda não se pode desprezar que a própria Igreja Católica não confirma que a relíquia é verdadeira e, quando o Sudário foi descoberto, em 1390, um bispo local disse que ele era falso. E, considerando que ele tenha sido realmente feito entre 1260 e 1390, teria apenas 800 anos, ou seja, foi feito muito tempo depois da morte de Jesus, que teria nascido há mais de dois mil anos. Então, não teria sido possível que o tecido houvesse envolvido seu corpo depois de sua crucificação.

Claro que uma questão polêmica como esta está longe de chegar a um fim, até porque muitos são os que acreditam piamente que o Santo Sudário é uma prova indiscutível de que Jesus realmente existiu, foi crucificado e que o tecido foi usado para envolver seu corpo. Todavia, há de se considerar que entre o tempo que ocorreu a crucificação de Jesus e a descoberta do Santo Sudário, seria bastante natural que o tecido se desintegrasse. Com certeza, ainda serão necessários muitos estudos para se chegar a uma conclusão definitiva sobre se o tecido é autêntico ou não.