A MISSÃO DOS CRISTÃOS

Relata Marcos que, aparecendo a seus discípulos depois da ressurreição, Jesus exortou-os, dizendo-lhes:

“Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a todas as criaturas. O que crer e for batizado, será salvo; o que porém não crer, será condenado.” (16:15-16)

Mateus registra o mesmo episódio, pondo na boca do mestre as seguintes palavras:

“Ide pois e ensinai a todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos tenho mandado.” (28:19-20)

Esses textos escriturísticos nos lembram que os cristãos têm uma importante missão na Terra: ensinar a seus irmãos, de todas as raças e de todos os continentes, as lições maravilhosas do Evangelho, instruindo-os na verdade e preparando-os para uma vida baseada na Paz, na Justiça e na Amizade universais.

Cumprindo-a, os discípulos do Cristo tornam-se preciosos executores de seu Plano para este mundo, que não é outro senão implantar o “reino de Deus” em cada coração.

Batismo, na acepção legítima do termo, é purificação, transformação moral. E as palavras do Cristo, supramencionadas, recomendando que todos os homens sejam batizados, significam que eles devem ser esclarecidos e doutrinados, despertando- se-lhes a consciência espiritual, a fim de que tenham a noção exata de seus deveres para com Deus e os semelhantes.

Tanto assim que João, o precursor, só admitia ao batismo aqueles que tivessem feito penitência, isto é, houvessem reconhecido suas faltas e manifestado o firme propósito de não mais reincidir no erro. Isso deixava claro aos batizandos que à semelhança da água, que limpa as sujeiras do corpo, o arrependimento sincero e as boas resoluções também eliminam as impurezas da alma.

Destarte, a cerimônia do batismo em si mesma é apenas um sinal, um símbolo, e nada vale se não for acompanhada de feitos renovadores no caráter.

Haja vista que as maiores abominações e os mais horrorosos crimes contra a humanidade foram e continuam a ser perpetrados por criaturas que se julgam cristãs, apenas porque receberam a ablução ou imersão batismal.

É preciso considerar, portanto, que, para alguém se tornar cristão de fato, há mister de seguir as pegadas do Cristo, praticando as virtudes ensinadas por ele, vivendo-lhe a Doutrina.

O verdadeiro batismo, pois, aquele que salva porque edifica, não é algo que se faça (quase sempre inconscientemente) uma única vez em toda a existência; é um processo diuturno de aperfeiçoamento em que:

o avaro deixa de ser somítico;

o bêbado cura-se do vício da embriaguez;

o colérico torna-se brando e pacífico;

o depravado afeiçoa-se ao que é honesto e puro;

o egoísta esforça-se por ser altruísta;

o fútil entra a ocupar-se de coisas mais nobres;

o glutão evita os empanturramentos;

o hipócrita busca ser leal e sincero;

o intolerante não mais reprocha as fraquezas do próximo;

o ladrão passa a respeitar a propriedade alheia;

o mexeriqueiro refreia sua língua;

o orgulhoso aprende a ser humilde;

o preguiçoso adquire o hábito do trabalho;

o rico ampara e ajuda o pobre;

o sadio assiste o enfermo e o inválido;

o vingativo perdoa a seus ofensores...

Quando os homens venham a perceber a inutilidade dos formalismos exteriores e abandonem o batismo da água para se entregarem a uma reforma íntima, como o Mestre deseja e espera, todos os problemas que nos afligem serão solucionados radicalmente, sem lutas, com amor.

Então, mas só então, o Cristianismo será uma esplêndida realidade neste mundo, tão infeliz porque tão afastado de Deus!

Rodolfo Calligaris

Páginas de Espiritismo Cristão; capítulo 38 – páginas 122 a 124 – 3ª ed.- FEB.