Viagem do Papa à Indonésia: unidade na diversidade
O Papa Francisco iniciou no último dia 03 de setembro uma visita apostólica à Indonésia, passando por Papua-Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura. Trata-se de uma das viagens mais distantes do Vaticano onde ele reside e, mesmo com as limitações físicas, não mediu esforços para se deslocar. São 12 dias percorrendo 32 mil quilômetros e vários países.
Trata-se de uma região em forma de arquipélago com 17.500 ilhas cujo mar une a Ásia à Oceania. O mar torna-se um elemento natural que congrega todas as ilhas indonésias. Além disso, há alguns traços culturais e religiosos que nos chamam muito a atenção, bem como mudanças profundas na convivência humana, com o crescimento do extremismo e da intolerância religiosa.
Essa quantidade de ilhas traz em sua origem o respeito mútuo pelas características culturais, étnicas, linguísticas e religiosas específicas dos grupos humanos que habitam as ilhas indonésias, formando um tecido conectivo que torno o povo indonésio unido e orgulhoso de sua cultura. A biodiversidade do arquipélago forma um lindo mosaico onde cada pedra é insubstituível na composição dessa obra original que nos deixou o Criador. O Papa nos convida a contemplar essa harmonia no respeito à diversidade.
Outro fato marcante dessa região é que 87% da população é muçulmana (242 milhões), formando o maior país islâmico. Contudo, não é um Estado confessional islâmico como tantas outras nações. Estamos diante de uma nação multirreligiosa e multicultural. O número de católicos gira em torno de 8 milhões de fiéis. O lema da Indonésia é “Unidade na diversidade”. O Papa Francisco reforça essa imagem dizendo: “Esta sábia e delicada harmonia, entre a multiplicidade de culturas e de visões ideológicas diferentes com as razões que cimentam a unidade deve ser continuamente defendida contra qualquer desequilíbrio”.
Contudo, nos últimos tempos também essa região passou a ser caminho das investidas de pregadores estrangeiros, especialmente ligados ao islamismo radical e fundamentalista, criando grupos de verdadeiros terroristas que ameaçam a paz da região. Nesse sentido, a viagem do Papa visa fortalecer os laços inter-religiosos para eliminação dos preconceitos, desenvolvimento de um clima de respeito e confiança e para desenvolver mecanismos de enfrentamento de desafios comuns.
Tanto o catolicismo como o islamismo estão diante de desafios comuns como o extremismo, a intolerância, a distorção da religião, onde grupos tentam impor-se através do engano e da violência. As raízes culturais e religiosas da Indonésia estão ancoradas no respeito à diversidade, que também é o caminho evangélico que carregam os cristãos. As distorções que estão ocorrendo entre esses dois campos religiosos são um risco para a humanidade, pois as duas religiões compõem dois terços da humanidade. A fraternidade universal como defende o Magistério do Papa Francisco na Encíclica Fratelli Tutti é o caminho para a paz entre as nações do mundo inteiro.
Diz-nos o Papa que hoje existem algumas tendências que dificultam o desenvolvimento da fraternidade universal. Muitos conflitos decorrem do desrespeito mútuo, do desejo intolerante de fazer prevalecer os próprios interesses, a própria posição ou narrativa histórica parcial, resultando verdadeiras guerras sangrentas.
Ao chegar nas terras da Indonésia o Papa fez questão de encontrar-se primeiro com os marginalizados, com os órfãos, os pobres e os refugiados, produto da cultura do descarte. Diante deles muitas pessoas acampadas, pobres que vivem nas ruas, que recolhem lixo e o reciclam, com famílias inteiras que não têm casa e vivem entre os resíduos do lixo. Algumas dessas pessoas foram abraçadas pelo Papa, especialmente as crianças, e puderam contar suas histórias.
Os refugiados completam o cenário de dor e sofrimento, pois formam uma espécie de limbo em um país que não os rejeita, mas que não possui a legislação adequada e os meios para lhes dar assistência. No mundo cresce o número de refugiados, contudo não estamos preparados para os acolher de modo digno. Está se tornando comum entre nós também a presença dessas pessoas nos aeroportos, nas rodoviárias, nas praças das cidades, abandonadas e sem perspectiva.
O caminho da solidariedade tem resultados efetivos e eficazes enquanto estivermos unidos em nossas diferenças, em nossas diferenças. O aumento das práticas de intolerância religiosa, política e cultural, é o fim da humanidade, a morte dos descartados. A intolerância religiosa e política é cruel, pois se nega ouvir o grito dos excluídos, o grito da terra. Os grupos intolerantes não apenas queimam nossos países, mas exterminam grupos humanos em verdadeiros “campos de concentração” construídos sob novas formas. A unidade na diversidade é o caminho da paz tanto no mundo islâmico como no mundo cristão.
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