VISÃO ESPÍRITA DA CARIDADE
Os pressupostos teóricos básicos dessa proposta encontram-se pautados nos relatos evangélicos do trabalho de Jesus, bem como nas obras básicas da Doutrina Espírita conforme organizados por Kardec.
É fundamental para o entendimento dessa proposta de trabalho que se parta de uma revisão e aprofundamento do conceito de caridade à luz da Doutrina Espírita, bem como dos conceitos de assistência social e evangelização.
A resposta à Questão n° 886 de “O Livro dos Espíritos” esclarece que Jesus entendia a caridade como “benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições dos outros e perdão das ofensas”. No livro “vinha de Luz”, Emmanuel, quando trata da caridade essencial, afirma que, seja em forma de afeto, benevolência, indulgência, filantropia, esmola, beneficência, a caridade aparece sempre nas modalidades de assistência, ensinamento e medicação. Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec dedica um capítulo inteiro desta obra ao tema caridade, de forma a nos esclarecer que em decorrência do mandamento maior de “amar a Deus e ao próximo como a si mesmo” fora da caridade não há salvação.
Pela importância que é dada à caridade na literatura espírita, somos sempre levados a concluir que esta virtude constitui o coração da Doutrina. É através do exercício da caridade que poderemos colocar em prática os ensinamentos da Boa Nova, que poderemos de fato vivenciar os ensinamentos evangélicos. Dizer que a caridade é o coração da Doutrina Espírita é compreender que ela é a maior questão central, a virtude maior da qual decorrem todas as outras (cf. epístola de Paulo aos Coríntios). Por outro lado, entendendo que a caridade só pode ser vivenciada no relacionamento interpessoal, compreende-se também que ela é uma ação com o outro, com o próximo.
Por isso mesmo a caridade envolve a ação social que alcança o próximo como um socorro libertador, manifestando-se através de assistência e promoção do necessitado, pois, de acordo com a orientação de André Luiz, na ação social caritativa devem ser observados os seguintes passos: 1° - levante o caído; 2° - caminhe com ele até que ele consiga caminhar sozinho. A ação social assim compreendida torna-se a atividade executiva da Casa Espírita por ser ela a forma prática de aplicação do Evangelho. A ação social envolve assistência, medicação e educação à luz dos princípios doutrinários evangélicos. Nas palavras de Deolindo Amorim em “O Espiritismo e os Problemas Humanos”, a visão espírita de assistência abrange o homem na totalidade, justamente porque além do plano biológico, onde se localizam necessidades básicas do mecanismo orgânico, existem direitos e aspirações que dizem respeito à destinação superior do homem. Cumpre, pois, ajudar o homem a melhorar-se nos três planos – material, intelectual e espiritual. Promover é um ato ascensional.
Enfim, é fundamental na visão espírita de caridade que se faça uma distinção clara entre assistência e assistencialismo:
- A assistência contempla o homem na totalidade;
- A assistência promove a libertação do ser;
- A assistência é uma ação transformadora;
- A assistência visa ao mediato, embora atenda também ao imediato;
- A assistência consiste na pratica da caridade.
- O assistencialismo fragmenta o homem;
- O assistencialismo gera dependência;
- O assistencialismo é uma atitude mantenedora;
- O assistencialismo atende apenas o imediato;
- O assistencialismo promove a esmola.
Trabalho apresentado pela Federação Espírita do Estado de Mato Grosso na Reunião do Conselho Federativo Nacional, de 1994, com base no tema “Serviço Assistencial Espírita – Fundamentos Filosóficos e Doutrinários
Revista Reformador/ ano 113/ fevereiro 1995/ n° 1.991– pag. 24
Federação Espírita Brasileira