O HOMEM DIANTE DA MORTE
Segundo a Doutrina Espírita, as sensações que precedem e se sucedem à morte, bem como a duração do processo de rompimento dos laços fluídicos que unem a alma ao corpo físico, variam de caso para caso, dependendo das circunstâncias do trespasse e da maior ou menor elevação moral do trespassado.
Via de regra, nas mortes repentinas e violentas, o desprendimento da alma é tanto mais prolongado e penoso quanto mais fortes sejam aqueles liames, ou, em outras palavras, quanto mais vitalidade exista no organismo, sendo que os suicidas se mantêm presos ao corpo por muito tempo, às vezes até à sua decomposição completa, sentindo, horrorizados, “os vermes lhes corroerem as carnes”.
Depois de longa enfermidade, ou quando a velhice tenha debilitado as forças orgânicas, o desprendimento, em geral, se efetua fácil e suavemente, semelhando-se a um sono muito agradável.
Para os que só cuidam de si mesmos, os que se deixam empolgar pelos gozos deste mundo, os que se empenharam apenas em amontoar bens materiais, os malfeitores e os criminosos, a hora da separação é angustiosa e cruel; agarram-se, desesperados, à vida que se lhes esvai, porque a própria consciência lhes grita que nada de bom podem esperar no futuro.
Também para os incrédulos, mormente quando hajam zombado da fé alheia, o fim da vida terrestre se constitui um momento crucial, pois uma dúvida atroz se lhes insinua no espírito acerca do “não ser” de sua crença niilista.
Quem, todavia, se tenha preparado convenientemente para a morte, desapegando-se das coisas terrenas, assim, os que hajam imprimido um sentido nobre à sua existência, cumprindo corretamente seus deveres para com Deus, com o próximo e consigo mesmo, esses têm uma partida calma, serena, alegre mesmo, porquanto, não raro, dias ou horas antes da libertação já lhes é dado entreverem os esplendores da vida espiritual reservada aos justos.
Rodolfo Calligaris
Páginas de Espiritismo Cristão; capítulo 22 – páginas 73 a 74 – 3ª ed.- FEB.