DESENCONTROS FILOSÓFICOS
Às vezes, em meio ao turbilhão de informações que nos cercam, me pego questionando em que instante me perdi ou, quem sabe, me encontrei. É uma busca incessante por sentido, por verdades que parecem sempre escapar por entre os dedos. Talvez tenha sido nas mentiras das religiões, com seus dogmas infundados, ou nas palavras bonitas que soam ocas, ditas mais para agradar do que para iluminar. O mundo está cheio de crentes e ateus, todos clamando por suas verdades, mas eu me vejo como um descrente, alguém que já não se satisfaz com o raso, com o óbvio, com as respostas prontas.
Não sou cético no sentido tradicional, não nego a existência de algo maior, mas me recuso a aceitar o que é imposto sem reflexão. Vivo em um mundo onde a fé cega e a descrença absoluta se chocam, e me encontro nesse meio, onde a inquietude filosófica me leva a questionar tudo. A lógica que me guia é a de que as pessoas vivem sem saber, morrem sem saber, e, no meio do caminho, muitas vezes seguem sonhos que não são seus, conduzidos por outros cegos que também não enxergam.
É intrigante observar como a humanidade se apega a ideias, a crenças, a instituições que muitas vezes limitam mais do que libertam. Muitos vivem como se a verdade estivesse nas mãos de poucos, como se houvesse um guia infalível para a vida, enquanto, na realidade, estamos todos tateando no escuro, em busca de algo que faça sentido. E nesse tatear, muitas vezes nos perdemos. Mas será que esse "perder-se" não é, em última análise, um caminho para encontrar algo mais profundo?
A ideia de seguir cegamente é tão antiga quanto a própria civilização. Platão, em sua alegoria da caverna, já nos alertava para os perigos de viver na sombra, acreditando que a realidade é apenas aquilo que vemos. Será que, ao aceitarmos sem questionar, não estamos perpetuando essa condição? Somos conduzidos por líderes que muitas vezes também estão perdidos, que seguem normas e tradições sem compreendê-las plenamente, e nos arrastam junto a essa cegueira coletiva.
No entanto, no meio de tudo isso, há algo que ainda acredito: a fonte que me criou. Há uma origem, um princípio, algo que transcende as palavras, as crenças e os dogmas. Essa fonte é, para mim, a única verdade que permanece, a única realidade que vale a pena buscar. Talvez seja esse o único ponto de encontro, o único lugar onde o perdido pode se tornar encontrado.
O desafio, então, é não se deixar levar pela correnteza, mas nadar contra ela, questionar, duvidar, buscar por si mesmo. E, ao fazer isso, talvez possamos, finalmente, nos encontrar. Não no sentido de descobrir todas as respostas, mas no sentido de nos reconciliar com a nossa própria ignorância, com a nossa própria humanidade. Pois, no fim das contas, é nessa jornada de busca que reside a verdadeira sabedoria. E se há algo em que vale a pena acreditar, é na própria busca, na própria inquietude, na própria vontade de não se contentar com o que é fácil, mas de cavar fundo, até encontrar o que realmente importa.
Tião Neiva